segunda-feira, 17 de novembro de 2014

1,2,3... Vamos dançar outra vez?

1,2,3... Vamos dançar outra vez?
Yaskara Manzini - CAO Centro Oeste


Desde minha entrada no Vocacional em 2009, tenho percebido que a Dança vem tentando entender o que ela se torna e qual o papel dela no Vocacional.
Em 2009 chamava-me a atenção o fato do teatro ter muito mais coletivos artísticos constituídos em relação à dança. Seria o público que procura a dança menos a fim de dançar coletivamente? Só o pessoal das danças urbanas tem interesse em formar grupos, as chamadas "crew"? Lembro-me também que pensar em dança clássica, jazz ou qualquer outro estilo que não tivesse foco em "dança contemporânea" era um tabu. Muitas vezes em rodas ouvi comentários perniciosos desmerecendo AOs que trabalhavam com alguma técnica que não fosse o "contemporâneo".
Em 2010 com uma mudança estrutural no Programa, nosso coordenador de linguagem focou seu trabalho, e consequentemente nós CAOs e AOs, no participante do programa como um Agente Cultural. Permitiu que a equipe tivesse e pudesse escolher um tema para desdobramento e pesquisa, e no caso da Dança, aos poucos se começou a investir e resgatar a memória e a oralidade das regiões onde a linguagem estava presente. Desta maneira delineou-se em 2010 grandes ações culturais que envolviam memória e territórios, dentre as quais posso citar: Trem Espaço Poético e Totens Urbanos. A primeira ação propunha um deslocamento a partir da linha férrea, saindo da estação Brás do metrô, passando pela Tatuapé, baldeação para linha safira da CPTM finalizando em um CEU da zona leste. No interim desse percurso vocacionados trocaram seus processos e interagiram em estações e trens tanto do metrô quanto de trens, cabe salientar que esta ação foi desenvolvida pelos AOs da região Leste. A segunda ação foi desmembrada em duas sub-regiões: central, nomeada de Marco Zero, e noroeste: Pico do Jaraguá. Na ação da região central vocacionados dos equipamentos da região vieram de caminhos diferentes (saídos de seus equipamentos de origem) e encontraram-se no Marco Zero da Cidade de São Paulo, localizado em frente à Catedral da Sé. Cada grupo trouxe um souvenir pedagógico que foi trocado entre vocacionados, após este "ato simbólico" foram trocados procedimentos de apropriação do espaço público. Na região noroeste o encontro aconteceu no Pico do Jaraguá, numa convergência das turmas e grupos (Sim em 2010 consegui na equipe centroeste/noroeste articular cinco grupos: The Cats of Free Style do CEU Jaraguá, Grupo Despertar do CEU Perus, Mulheres do Pera do Pera Marmelo, Linguagens de Dança do CEU Butantã e InCorpoAr da Galeria Olido), quando vocacionados puderam trocar processos e ouvir histórias daquele lugar e região, quando saberes inter-geracionais emergiram dando um outro panorama sobre a região. Além disto, as ações aconteceram em um domingo e os transeuntes do Pico puderam participar (seja como espectadores ou como participantes das práticas), a ação finalizou com uma ciranda em volta da torre do Jaraguá.  Nesse ano foi gerado um texto com as pesquisas e experiências de cada AO na edição de 2010. Foi nesse ano que enfatizamos que toda ação é cultural, desde o encontro na sala até a uma intervenção pública. Percebíamos que para vivenciarmos conceitos como "emancipação" e "autonomia" teríamos que passar pelo viés social, assim muitos de nós começamos a estreitar as relações entre Arte & Vida.
Em 2011 ainda sob a mesma estrutura, mas desta vez com a definição de um material norteador, a coordenação de linguagem pediu para debruçarmo-nos sobre este material, mas ainda enfatizou principalmente a ação cultural, o registro, apreciação e o nomadismo no espaço público. No final dessa edição começamos a notar o quanto a dança havia amadurecido em relação à proposição de ações culturais, principalmente as que pudessem abarcar o nomadismo no espaço público. Estas ações possuíam uma dimensão macro, pois abarcavam muitos vocacionados e equipamentos, além disto, as relações Arte&Vida proporcionavam "performances" não somente no sentido da "arte da performance", mas também "performances culturais" cuja leitura poderia dar-se também sob o viés antropológico, abarcando não somente a perspectiva artística. Foi nessa edição também que os AOs e CAOs começaram a reivindicar maior autonomia em relação ao trabalho.
Na edição de 2012 tivemos uma mudança significativa na estrutura: as coordenações de linguagem, ação e pedagógicas da linguagem foram extintas e criou-se uma estrutura de coordenadores regionais (por linguagem) e um coordenador pedagógico do Programa. Penso que foi nessa edição que houve uma ruptura entre a ação dos AOs e CAOS e o resto do programa (Coordenação Regional, Coordenação Pedagógica e Coordenação Geral). A tripartição da coordenação regional na Dança trouxe a fragmentação da unidade de olhar sobre a linguagem, e também o foco sobre algum tema propulsor, disparador para investigação artístico-pedagógica (leia bem: disparador, não redigi obrigatório!). Se por um lado Artistas Orientadores e Coordenadores Artístico-pedagógicos investiam no contato com o vocacionado (alvo do material norteador), por outro os demais coordenadores estavam ocupados resolvendo demandas burocráticas da SMC: parcerias, articulações, trocas, revista mostra etc. Nesse ano fiz parte do grupo de organização e produção da Mostra Vocacional e, ao observar as apresentações vi em muitos trabalhos da linguagem que não existia DANÇA. O que seria isso? Como professora de semiologia da cena muitas vezes olho um trabalho e procuro imagina-lo sem o figurino, trilha sonora, objetos cênicos, iluminação e tento ver a dança, a manifestação do corpo em deslocamento espaço/temporal criando sentidos, propondo reações no fruidor, e, de repente, vi-me observando trabalhos de Dança sem dança, onde eram outros signos da cena que construíam um sentido, uma dramaturgia. Teria a linguagem Dança virado Encenação?
Nada contra a Encenação muito pelo contrário, sou apaixonada por este viés das artes do espetáculo, mas estaríamos nós da dança pensando em encenação para dança? Em dramaturgia da dança? Parecia-me que não, que apenas enquadrávamos os formatos e procedimentos apr(e)endidos do teatro em nossas partituras e (pseudo) pesquisas. Os procedimentos de jogos teatrais que geram ações cênicas eram apenas aplicados à dança sem uma reflexão, uma crítica ao que fazíamos. Claro que existiam exceções, mas essas nunca foram valorizadas pela coordenação ou mesmo pelo coordenador pedagógico do programa, pois normalmente não apresentavam um efeito tão "espetaculoso".
Esses estranhamentos geraram algo (enfim) na coordenação pedagógica do programa que pela primeira vez propôs aos coordenadores artísticos pedagógicos que falassem de suas linguagens, de seus procedimentos, das singularidades das linguagens apesar de todos trabalharmos com processos criativos. Além disto, houve novamente mudança na estrutura do Programa: extinguiram as coordenações regionais e pedagógicas e reintegraram o "cargo" de coordenador de linguagem. Entretanto, este coordenador deveria dar conta das angústias e demandas de dez coordenadores artísticos-pedagógico na dança. Obviamente era inviável conversarmos sobre as regiões semanalmente (como fazíamos em 2010 e 2011) o que foi afastando-nos gradualmente (lógico que isso também foi regado pelo discurso da autonomia dos coordenadores). Fora isso começava a perceber o quanto existe certo "elitismo" de um certo fazer em dança sobre outras maneiras de fazer dança como as danças urbanas e tradicionais, que tendem a agregar muito mais pessoas em torno do que a "tal dança contemporânea" que de tão auto reflexiva, singular, subjetiva, por vezes interessa só aos umbigos de quem a dança. Notava o grau de ignorância em relação a outras formas e processos de criação artística. Talvez uma das coisas bem interessantes que enquanto linguagem tenhamos percebido foi que a Técnica poderia ser uma agregada, não mais uma vilã dos processos de criação, entendendo que pessoas (corpos) para produzirem um discurso mais sofisticado em dança necessitam de tônus muscular, de domínio e consciência dos e sobre vetores do movimento, e que para gerar conexões mais elaboradas de movimento por vezes é necessário algum tipo de treinamento corporal que não somente a consciência do corpo ou a educação somática que dialogue e prepare este corpo (pessoa) para seu discurso.
Foi com todas estas angústias que comecei meu ano vocacional, pronta a refletir sobre nossa própria linguagem. Para minha sorte, a equipe que tive o privilégio de coordenar possui inquietações próximas às minhas e partiu deles a sugestão de fazermos seminários sobre dança, logo em nossa segunda reunião pedagógica. Pensei que a pesquisa a partir dos seminários pudesse ser uma pesquisa mais em grupo, e queria pensar num viés que fosse mais específico e que focasse o Artista Orientador em Dança.
A ideia de questionários começou a tomar forma depois de uma reunião dos coordenadores de dança, na qual se discutiu estilo (principalmente devido à incompreensão que a maioria possui sobre as danças afro-diaspóricas, incluindo ai as danças urbanas), o moderno e o contemporâneo.
A coordenadora Nininha Araújo comentou com sua equipe sobre o questionário que eu gostaria de passar para todos os AOs e, sua equipe, levantou uma série de questões que me fizeram refletir sobre o questionário, mas também contextualizá-lo e abrir minhas intenções para a equipe da dança:

Prezados Artistas Orientadores e Coordenadores Artistas Orientadores,
Gostaria de contar com sua contribuição em minha pesquisa dentro do Vocacional Dança, vinculado ao Programa Vocacional da Secretaria Municipal de Cultura.
Ao longo de meus seis anos dentro deste programa, tenho deparado com múltiplas questões que, em minha opinião, deveriam ser discutidas, pois ocorrem simultaneamente às nossas práticas ao tentarmos instaurar processos artísticos emancipatórios, dentre estas posso destacar estilo, técnica, método, procedimento, formação, olhar estético hegemônico, negação de estéticas não ocidentais etc.
Pretendo aprofundar-me nestas questões para entender quem somos a partir de uma perspectiva da dança, como começamos e porque começamos a dançar, por que ensinamos, quais acessos usamos para a criação? Para conseguir ter respostas necessito de escolher uma metodologia para levantar dados, por questões de ordem espaço-temporal elejo o questionário como método para levantar e mapear estas informações.
Pretendo levantar estes dados a partir de dois questionários, este que agora estou enviando cujo teor permeia as questões de estilo, procedimento e técnica, e o segundo, que enviarei em agosto, mais ligado às questões de processos de criação.
Uma primeira versão destas questões foi apresentada à equipe da Nininha Araújo e a partir das observações desta equipe, faço este preambulo antes de apresentar a vocês este questionário.
Não é obrigatório responde-lo, mas gostaria muito de contar com a contribuição de vocês. Outra coisa, sobre as devolutivas: como estes questionários não serão avaliações de desempenho profissional, não há necessidade de devolutiva (apontar pontos positivos ou negativos para melhorar o desempenho), porém penso ser mais que justo compartilhar com vocês Artistas Orientadores meu ensaio de pesquisa que pretendo enviar, em novembro, quando o tiver finalizado.
Se possível respondam e enviem-me até dia 25 de junho de 2014.
Também coloco-me a disposição para dirimir quaisquer dúvidas. Email:
yaskara.dancavocacional@gmail.com – celular 9XXXXXXXX

Desde já agradeço sua contribuição
Yaskara Manzini
São Paulo 25 de maio de 2014.

Este preâmbulo e o questionário foram enviados  a todos os coordenadores de dança que replicaram para seus Artistas Orientadores. Da equipe formada por 60 (sessenta) profissionais apenas 5 (cinco) pessoas, ou seja, menos de 10% responderam a pesquisa. Das pessoas que responderam duas eram coordenadoras, dois AOs novos e apenas um Artista Orientador experiente no Vocacional.
Minha intenção era conhecer melhor a história de cada AO do programa e tentar estabelecer cruzamentos a partir de gerações de artistas e formação para entender que tipo de Artista da Dança envolve-se no Vocacional. E como este artista dialoga entre os princípios do programa e sua formação.
O Artista Orientador deveria apontar seu nome, data de nascimento e idade, para que eu pudesse entender de que geração da dança ele é, pois o vocacional agrega várias gerações de dança: seguramente temos Artistas recém-formados por vota dos seus 20 anos e também artistas veteranos com até 60 anos. Desta maneira, o Vocacional é um lugar privilegiado ao conseguir agregar pelo menos 40 anos de pensamento e experiência em dança na cidade de São Paulo. Responderam ao nosso questionário dois artistas na casa dos 50 anos, dois artistas com 29 anos e um artista com pouco mais de trinta anos.
O primeiro aviso para responder ao questionário, alertava para o preenchimento a partir de certa conceituação e foram elencadas 14 questões.
Estilo como jeito, maneira singular, particular de articular o corpo e seus movimentos a partir de tempo/espaço específicos na história estética  da humanidade.
Procedimento como maneira de agir:  sequencia de ações ou instruções a serem seguidas para resolver um problema ou efetuar uma tarefa.
Técnica como conjunto de regras, normas ou protocolos que se utiliza como meio para chegar a uma certa meta.
Redigirei em negrito minhas considerações sobre as respostas e meus informantes.

1.       Como foi seu primeiro contato com a dança?
Dos nossos cinco artistas dois tiveram primeiro contato na escola, um dentro da própria família,  um por convite de amigo e um na primeira infância, dos cinco quatro tiveram este primeiro contato na adolescência. Sendo que dois dos entrevistados só começaram a estudar dança depois de ter tido seu primeiro contato, por coincidência ambos homens.

2.       Qual foi o primeiro estilo de dança que você apreendeu?
Dois de nossos artistas começaram com o jazz, um com balé, um com danças urbanas (street e hip hop) e um com contemporâneo.

3.       Onde se deu esta formação?
Três de nossos artistas iniciaram seus estudos em academias de dança, um na faculdade e um por via de oficinas oferecida por ONG.

 
4.       Ao longo de sua vida, você absorveu outros estilos de dança?
Todos foram unanimes em afirmar que tiveram contato com outros estilos de dança.
 
5.       O que o levou a absorvê-los?
No discurso de nossos artistas algumas palavras emergiram: "aperfeiçoar" apareceu em duas respostas, um dos artistas redigiu que sentia o estilo que dançava incompleto o que o levou a conhecer outro estilo, um de nossos entrevistados escreve que por "evolução da dança" e outro que a profissionalização o impulsionou.
 
6.        Especifique os outros estilos de dança apreendidos.
Apareceram: balé, jazz, dança moderna, dança contemporânea, afro, danças urbanas, butoh, performance, dança-teatro

 7.       Dos estilos apreendidos com quais você sente maior afinidade como intérprete?
Quatro artistas apontaram a dança contemporânea como afim, considerei a primeira palavra grafada nas respostas. Apenas um artista elegeu a dança-teatro como afim. Apesar da formação estes artistas dialogam com o Vocacional e seu instrumental norteador, pois já possuem certa afinidade com o pensamento contemporâneo
 
8.       Desses estilos algum possui técnica ou técnicas especificas?
Três artistas apontaram que os estilos que conhecem possuem particularidades e/ou são confluências de diversas técnicas. Um artista trouxe à tona a expressão “prática corporal” como possível sinônimo de técnica e afirma que o contemporâneo não possui técnica específica. Outra complexidade,  o sentido de complicação, quando trata-se de danças urbanas, pois não há “técnica metodológica desenvolvida e compartilhada com um mesmo nome”, segundo nosso informante da área. Ele dá a entender que ao invés de técnicas existem danças e exemplifica com a “house dance”. Desta menira entendo que nas danças urbanas, não existe uma técnica ou metodologia de ensino. Existem danças locker,  popping etc que perfazem as danças urbanas.

9.       Em caso afirmativo especifique a técnica apreendida também. (Por exemplo: Dança clássica:  técnica Vaganova e/ou Bournonville e/ou escola cubana, escola inglesa etc)
Dentro da dança contemporânea foram apontados como técnica: Laban, Forsythe, práticas somáticas, Klauss Viana, Tai Chi Chuan, floorwork, dança moderna.
Na dança clássica houve destaque para Vaganova (método russo), Royal (método inglês) e Matt Mattox no jazz.

10.   Dos estilos apreendidos com quais você sente maior afinidade como professor?
A maioria de nossos artistas afirmou possuir afinidades com o contemporâneo, mesmo que trabalhem com estilos que estão mais habituados nas academias de dança. Apenas um artista apontou dança-teatro como afim.

11.   Há alguma técnica que você gosta de trabalhar como professor?
Um artista afirma que todas as técnicas aprendidas em sua trajetória artística são aplicadas de formas diversas como professor. Dois artistas afirmam usar Laban, além disto aparece Forsythe e Contato-Improvisação. Um artista respondeu evasivamente citando a  utilização de processos ativos de aprendizagem, mas não o nomeia. Um artista cita a dança contemporânea como técnica.

12.   Como você utiliza o estilo em sua prática pedagógica dentro e fora do Vocacional?
Entendendo que as respostas são singulares, copio e compartilho as partes mais interessantes das respostas
Artista 1: “ Eu num utilizo de forma rígida não. Creio que tudo depende do grupo, do contexto e qual resultado vc quer chegar. Porém, tudo parte de uma perspectiva de um corpo contemporâneo.”
Artista 2:Os estilos diversos são escolhidos a partir do que o processo criativo desencadeia. Não sendo trabalhados como objetivo final, mas como meio. “
Artista 3: “...penso que gosto de trabalhar algo que venho trabalhando desde que comecei a dar aula, aos 15 anos de idade, mas mais amadurecido, com mais experiências, com mais reflexões, com mais bagagem, com mais possibilidades de corpo. [...]Hoje vejo que o que me motiva e é aprofundar nesta pesquisa de fusão de linguagens.”
Artista 4: “No vocacional tento trazer o estilo como uma descoberta de possibilidades de caminhos dos corpos”
Artista 5:Como trabalho com dança contemporânea onde os processos artísticos são colocados em pratica o tempo todo, isso faz com que dialogue com os conceitos e princípios do programa. A pedagogia é criada no próprio fazer, na sua prática. Cada processo é um processo. “
É interessante notar que em um caso estilo aparece como algo rígido, em outro como algo que foi adquirido e vivido e que pode buscar uma fusão com outros estilos, o estilo ainda aparece como possibilidades de estados do corpo, como meio para proporcionar um discurso. Em apenas um caso assume-se o contemporâneo como estilo alinhavando-o às premissas pedagógicas do programa.  

13.   Como você utiliza o procedimento em sua prática pedagógica dentro e fora do Vocacional?
Artista 1: “... Gosto de trabalhar com tarefas e intenções coreográficas. Tem surgido resultados interessantes. Além de valorizar a produção do interprete. Claro que existe um filtro, pois a tarefa requer um modo de se organizar no espaço.”
Artista 2:Os procedimentos também são pensados a partir do que o processo artístico demanda. Tendo a desconstruir e reconstruir os procedimentos mais comumente utilizados e às vezes até a criar procedimentos em função do que os corpos precisam no momento e do que acho importante que seja percebido pelos alunos.” 
 Artista 3:Vejo os procedimentos com vários "starts", vários estímulos que podem auxiliar os artistas a descobrirem novas possibilidades de corpo. Acredito que a partir dos procedimentos conseguimos trabalhar vários aspectos: técnica, improviso, sensibilidade, criação, etc...”.
Artista 4: Não respondeu a esta questão.
Artista 5: Os procedimentos são voltados para processos artísticos onde implica técnica e suas experiências.


14.   Como você usa a técnica em sua prática pedagógica dentro e fora do Vocacional?
Artista 1: “... creio que Laban e a relação que ele tem com o espaço é um bom ponto de partida, pra daí, ir refinando outros conceitos. Dentro do Vocacional, creio que é um espaço pra concretizar vivências e de fato, propor técnicas, de acordo com o mencionado acima, para levar o vocacionados a explorar outras maneiras de perceber o corpo, tempo, espaço e a sua dança.”
Artista 2:Uso a técnica como meio para que o aluno reconheça seu corpo de forma mais organizada nele mesmo e no espaço. Para tanto, reservo um tempo considerável do encontro para a técnica. O que faço questão é que os elementos técnicos utilizados estejam ligados diretamente ao trabalho de criação, jogos de improvisação e afins, e ao trabalho de sensibilização corporal. De forma que haja um desenrolar natural entre sensibilização, trabalho técnico e criação, evitando um buraco entre a experiência técnica e a criativa.”
Artista 3:... a técnica vejo como algo que dará o "background" para sua dança. Será o começo, mas não o fim. Será a base, aquilo que pode sustentar a sua dança, mesmo que seja para desconstruí-la, para negá-la.”
Artista 4:No vocacional a técnica se refere ao trabalho desenvolvido e de perceber também de onde parte o movimento, quais os pontos de apoio, equilíbrio; quais os caminhos para se chegar num objetivo e que se perceba a construção do processo criativo; trabalhar o corpo para ser mais ativo e presente.”
Artista 5:Penso que a técnica é o meio para se chegar a dançar, considero técnica, tudo, até como olhar em cena! uma simples caminhada requer técnica. Criar meios e modos para alguém dançar é uma prática pedagógica, seja ela qual for.” 
Os cinco artistas assumem procedimento e técnica como meios necessários para dançar, para obter consciência do corporal, para efetivação de processos artísticos. Chamou-me a atenção apenas um artista ter assumido que elabora e reelabora procedimentos a partir das necessidades dos  processos de criação.
Duas questões seriam aprofundadas num segundo questionário que não foi disparado devido à baixa adesão e colaboração nesta pesquisa: contemporâneo pensamento ou estilo e relações técnica/procedimentos, talvez mais precisamente: técnicas de treinamento corporal e procedimentos para criação coreográfica.

Se por um lado fiquei frustrada por não conseguir dar sequencia a minha pesquisa pessoal, por outro, no coletivo fiquei grata pelo comprometimento da equipe que coordeno e pela adesão de outros AOs para a participação em nosso ciclo de seminários:

PROCESSOS DE CRIAÇÃO E PESQUISA ARTÍSTICA EM DANÇA
Este seminário teve por objetivo promover a prática, o debate e o diálogo reflexivo entre os artistas orientadores e interessados envolvidos na versão 2014 do Programa. Cada encontro abrangeu dois momentos: o primeiro com enfoque em duas vivências práticas nos subtemas do seminário, e o segundo composto por uma mesa redonda. Assim, abarcamos artistas-pesquisadores com múltiplas perspectivas, engajamentos políticos, poéticas de criação e experiências artístico-pedagógicas diversas sobre o tema do seminário.
Tema 1: Processos Criativos e Pesquisa Artística em Dança, como instaurá-los?
Realizado em 31/05 no Centro de Danças Humberto Silva, sala azul
Oficinas: TJ (AO/ZL) e Elenita Queiroz (CAO/ZS)
Mesa redonda: Duda Moreno (CAO/ZN) Cristina Ávila (AO/ZS)
Mediação Renato Vasconcelos (AO/ZCO)
Este primeiro encontro reuniu cerca de treze AOs, incluindo nosso coordenador de linguagem, uma de formação e dois artístico-pedagógicos, fora os membros da equipe e um coordenador de Núcleo de Ação Cultural (NAC Uirapuru). Neste encontro ficou claro o desdobramento de procedimentos para iniciar processos de criação coreográfica.

Tema 2: Danças Urbanas: codificações, decodificações e recodificações.
Realizado em 29/06 no Centro de Danças Humberto Silva, sala Café
Oficinas: Osmar (AO/ZS) e Ivo Alcântara (AO/ZN) 
Mesa redonda: Marcelo Backspin (CAO/Z.S.) Igor Gasparini (AO/ZL)
Mediador: Mariana Costa (AO/ZCO)
Este encontro também agregou cerca de quinze pessoas entre Artistas Orientadores e Vocacionados, foi um dos mais potentes e permeou questões relativas aos modos de reprodução e recriação  de movimentos. Além disto, houve uma aula de história da dança urbana, que desdobrou-se em artigo escrito para a Revista Vocare pelo AO Ivo Alcântara.

Tema 3: Dança, corpo & gravidade: videodança e dança aérea.
Realizado em 27/07 no CEU Jaguaré
Oficinas: Mariana Duarte (AO/ZCO) e Rita Cavassana (AO/Interlinguagens)
Mesa Redonda: Tatiana Guimarães (CAO/ZL) e Maria Duarte (AO/ZCO)
Mediador: José Romero (Coordenador de Linguagem)
Este encontro reuniu cerca de quinze pessoas entre Artistas Orientadores e Artistas Vocacionados que puderam experimentar práticas de dança não usuais, a primeira mais voltada a uma reconstrução do corpo ao lidar com outro eixo de equilíbrio, postura, peso por meio de procedimentos criados a partir de técnicas circenses, a segunda mais voltada as nuances da observação do registro do corpo e suas relações com o espaço.

Tema 4: Dança Contemporânea ou Danças Contemporâneas?
Realizado em 30/08 no Centro de Danças Humberto Silva, Sala Café
Oficinas: WilliHelm (AO/ZL) e  Renato Vasconcelos (AO/RCO)
Mesa Redonda: Nininha Araujo (CAO/ZL) Carol Lucci (CAO/ZS).
 Mediação: Mariana Costa (AO/RCO)
Este seminário reuniu quase vinte pessoas entre Artistas Orientadores e Vocacionados. Junto ao sub-tema referente à dança urbana poderia ser desdobrado. Deveria ser tema de estudo no Vocacional dança para entendermos pensamento e estilo.

Tema 5: Dança Brasileira x Dança afro-brasileira.
Realizado em 27/09 no Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo.
Oficinas e mesa redonda: Andrea Soares (AO/RCO) e Yaskara Manzini (CAO/RCO).
Mediação Renato Vasconcelos (AO/RCO)
Ao contrário dos outros dias de seminário, este foi o mais desprovido de público, além da equipe estavam presente dois coordenadores e um Artista Orientador. Entendendo que trabalhamos em regiões periféricas a questão racial e de identidade brasileira deveria minimamente ser discutida, mas pareceu-nos que as subjetividades dos Artistas Orientadores estão mais voltadas para outros olhares sobre os lugares que habitam.

Tema 6: Dança: lugar específico ou qualquer lugar?
Realizado em 25/10 no Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo
Oficinas e mesa redonda: Luciana Arcuri (CAO/ZS) e Josefa Pereira (AO/Interlinguagens).
Mediadora Yaskara Manzini  (CAO/ZCO)
Este subtema reuniu cerca de cinco Artistas Orientadores além da equipe, mais uma vocacionada e dois munícipes. Foi uma vivencia e reunião bem interessante quando se pensou e discutiu a dança em vários lugares, desde os físicos até os políticos.

O seminário Processos Criativos e Pesquisa Artística teve um desdobramento a convite das coordenadoras de formação e aconteceu também dentro da Atividade Processos Artísticos Tempo Espaço Encontro sobre formação Artístico Cultural na Cidade de São Paulo em 13/09 no Tendal da Lapa, com o sub-tema: “Processos Criativos e Pesquisa Artística: fusões, confusões e experimentações”. As oficinas e o dedo de prosa foram conduzidos por Mariana Duarte (AO/ZCO - dança aérea) e José Romero (Coordenador de Linguagem - videodança).
Apesar da participação de oito Artistas Vocacionadas do Tendal da Lapa e uma do CEU Jaguaré, que ficaram após seu encontro, ninguém mais apareceu, além da equipe que estava envolvida. A direção do Tendal da Lapa deu todo o apoio técnico para a realização do seminário que foi muito potente,  pois as oficinas foram pensadas contemplando modos de produzir dança que foram gerados a partir de pesquisa e fusões de linguagens. No final do tempo destinado às oficinas houve interação de propostas criando um híbrido.
Apesar da potencia do acontecimento ficou muito claro para nossa equipe que tal “evento” proposto pela coordenação de formação não passou de um convite para preencher pauta de um evento maior. Não somente nenhuma coordenadora de formação apareceu, como nem o coordenador regional centro/oeste/norte/noroeste. Mas deixemos o abandono de lado e escrevamos sobre coisas que de fato interessam e são executadas com verdade e comprometimento.
Ao finalizar estas linhas percebo o quanto minha equipe trabalhou, refletiu e pensou sobre a dança dentro do vocacional, percebo a quantidade de Artistas Orientadores e Coordenadores da dança que deslocamos e convidamos para “bater figurinhas”, trocar procedimentos e pensamentos colocando o dedo nas feridas da linguagem. Amadurecemos enquanto linguagem...  que venha 2015!



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