SOBRE O DESPREZO E O ROSTO ABERTO (OS DESNECESSÁRIOS) - Luiz Paulo Pimentel de Souza
SOBRE O DESPREZO E O ROSTO ABERTO
(OS DESNECESSÁRIOS)
Artista orientador: Luiz Paulo Pimentel de Souza
Linguagem: Teatro
Equipe: Centro Oeste
para os parceiros na caminhada, artistas orientadores e artistas vocacionados; leitores comuns, queridos e livres (1). libertos do desejo de saber.
É nobre ser tímido, ilustre não saber agir, grande não ter jeito para viver. Só o Tédio, que é um afastamento, e a Arte, que é um desdém, douram de uma semelhança de contentamento a nossa vida (...) Benditos os que não confiam a vida a ninguém. (Fernando Pessoa, O livro do desassossego)
É por esta paisagem intuída, resultante do meu corpo neste final de ano, que começo e te escrevo. O que pretendo fazer aqui, como forma de pensar um dos trabalhos particulares que se deu no Programa Vocacional na edição de 2014, é expandir algumas paisagens que parecem me ajudar a refletir, tomar distância. Para compor essas paisagens, farei uso, em alguma medida, da ficção, estratégia para não incorrer em um dizer especialista e para não correr o risco de querer dizer a verdade de algo. É importante demarcar que a ficção, aqui, não é ponto de partida para uma escrita que se pretende bela, exemplar, cativante ou criativa. Muito pelo contrário, a ficção é forma que aparece a partir de um corpo tombado pelos acontecimentos e que já não pode escrever buscando algum fundo de verdade na experiência. Ficção como estratégia encontrada para lidar com a dificuldade de falar sobre o vivido e como primeira plataforma para ensaiar um pensamento sobre alguns assuntos. Portanto, esta escrita encomendada (2) é aqui reconfigurada como um presente que me dou (e te ofereço em parceria) para que eu possa ensaiar a primeira distância.
No começo do ensaio desta primeira distância, nos ofereço (a mim e a você, leitor comum) o ócio, alguma lassidão, as mil digressões das cabeças perturbadas (pois assim está a minha) e a entrada na caverna/recinto/biblioteca do senhor Michel de Montaigne, nobre francês, em seu retiro na torre do seu castelo no século 16.
Em seu curto ensaio intitulado “Da ociosidade”, Michel de Montaigne decide expor várias consequências do ócio que seriam nocivas e perniciosas para os homens. Para comprovar sua tese, oferece duas evidências naturais como forma de refutar tanto o ócio quanto o ocioso: a primeira diz sobre as terras férteis que, se não trabalhadas com afinco, só fazem pulular ervas daninhas e selvagens; a segunda pensa a menstruação feminina e seus líquidos vãos que, se almejam alguma utilidade, precisam ser fertilizados pela boa semente masculina.
“Assim também são os espíritos: se não os ocupamos com certos assuntos que os absorvam e disciplinem, enveredam ao léu, sem peias, pelo campo da imaginação” (1972, p. 25)
Montaigne ainda retoma o dizer comum para relembrar que, sem um objetivo preciso, a alma humana se dilui, pois não estar em lugar nenhum seria o mesmo que estar em toda parte. Ora, o tema do ócio meditado por Montaigne também é muito comum e corrente entre nós, seja em casa, nas escolas, nos CEUs, nos centros culturais, em espaços públicos e privados. É preciso que se ocupe para não se perder e, sobretudo, que se ocupe para não enveredar pelo mal caminho. Seja essa ocupação qual for: crochê, dança, violão, Vocacional, xadrez, vôlei, curso técnico-profissionalizante, etc.
Mas, se a primeira metade do ensaio de Montaigne é dedicada ao repúdio do ócio, o último parágrafo do texto passa a funcionar como uma curiosa suspensão do pensamento que até então se esboçava. Montaigne recorda que ele mesmo, enquanto escreve os ensaios, só o faz porque há algum tempo se retirou para sua biblioteca com o fim de repousar e viver na solidão seus últimos dias de vida. E, nesse recolhimento voluntário, o nobre francês compreende que acabou por dar ao seu espírito a satisfação maior da ociosidade. De fato, Michel de Montaigne rompeu com as preocupações do mundo exterior em seu 38º aniversário, quando, deliberadamente, decidiu se exilar na torre de seu castelo composta por um quarto e uma biblioteca, lugar, segundo ele, mais inútil de seu castelo, tornado o mais necessário. Lá contava passar o resto de seus dias devotados à sua liberdade, à sua tranquilidade e ao seu lazer. O que Montaigne não podia imaginar (e é assim que encerra seus devaneios sobre o tema do ócio) é que, ao contrário do que desejava, a tranquilidade e o repouso almejados foram abalados diante das tantas “quimeras e ideias estranhas, sem ordem nem propósito” que lhe acometiam, nascidas justamente deste tempo de meditação e descanso. E justifica a escrita de seus ensaios como uma forma de perceber melhor o absurdo dessas ideias pois, escrevendo, seguia com a esperança de infundir vergonha à algumas delas. E, citando Lucano, constatava em seu corpo o fato de que “na ociosidade, o espírito se dispersa em mil pensamentos diversos”.
Pois assim também está o meu espírito agora que senta para escrever a partir dos vestígios de tantas vivências dentro do Programa Vocacional na edição deste ano. Ao pensar nos assuntos concernentes à minha prática dentro do Programa, imediatamente imagens da edição de 2013 sobrevém, cenas familiares, papos com amigos, cenas vistas na rua, trechos de canções, livros, poemas, as notícias do mundo e os variados rostos que me comoveram. Eis que, como o ocioso Montaigne, meu corpo se torna também disperso em mil pensamentos diversos. Mas antes de me agoniar com o excesso de querer dizer e traduzir imagens do que se viveu e do que se pensou ao longo desse processo, me ofereço espaço e tempo para não ter pressa de dizer tudo. E de forma alguma me coloco como tarefa a utilidade disso para ninguém (posto que os temas da utilidade e de seu oposto são fortes neste escrito). E, sobretudo, me reservo a possibilidade de calar o meu querer entender e, abdicando do pensamento coeso e bem tecido, me desmanchar na enviesada ficção, com seus desacertos e sombras, para ali ficar mais quieto e escondido.
Assim está o meu corpo. O corpo de um artista orientador. Dedicado a dar voz à uma porção de sua fragilidade, pois desistiu de impingir tão somente a força. Desabado, com a língua na expectativa da próxima sílaba, curioso com o próximo curso do pensamento e disposto a ler junto, desde que ler não seja perseguir com os olhos a verdade última do mundo. Sustentar-se curioso é a metade da delícia do passeio. A outra é ir ao campo.
Jean Starobinski (2011, p.14), a partir da etimologia da palavra ensaio, sente-se tentado a imaginar como seria nossa prática ensaística caso o significado longínquo do termo pudesse tomar corpo no presente. Segundo Starobinski, o ensaio significaria então pesagem exigente, exame atento das coisas do mundo. Mas também conteria em seu nome o significado de um enxame verbal, cujo impulso nele se libera. O ensaio seria, então, o espaço escriturístico de “uma curiosidade infinita pelo mundo exterior, pela exuberância do real e pelos discursos contraditórios que pretendem explicá-lo”. Apoiados no amor pela exuberância dos nosso encontros, partimos para o exame dos nossos assuntos.
Mas antes, sobrevoemos as cenas do ódio.
primeiro episódio
CENAS DO ÓDIO
(e a paixão pela desigualdade)
Em 2013, nos encontros com os artistas vocacionados do CEU Jaguaré, me demorei um tanto nos temas do desprezo, do desânimo e do ódio. Eram três imagens que os nossos encontros me devolviam de forma pungente. Lembro que foi após um episódio em que dois artistas vocacionados foram impedidos de terminar sua cena por conta de suas questões de gênero, severamente condenados pela audiência, que decidi expandir estes assuntos entre nós. Assim aconteceu até o final do ano. Como estratégia contra a violência, assumi três diferentes frentes de ação: a primeira consistia em fazer zelar pelo espaço de interesse temático e estético de todos os vocacionados, mesmo que conflitantes; a segunda fundava-se na exibição de uma presença ética de meu corpo como artista orientador, que afirmava uma postura refratária à distração coletiva e a qualquer sinal de desprezo entre nós, tentando ao máximo não esbarrar numa atitude professoral e moralista; a terceira consistia na afirmação de uma experiência tão somente fundada em nossa amizade intelectual, pela palavra e pelo pensamento, convocando os artistas vocacionados a dar cabo de uma parceria menos afeita às nossas rusgas cotidianas e oferecendo-nos distância para, talvez, nos exercermos intelectualmente de forma distinta.
À época, escrevi a eles um texto e li em um de nossos encontros. Copio um trecho a seguir:
Aqui fala o professor e não o carrasco.
As armas foram postas no chão, podemos conversar.
Tenho alegria em estar aqui, tenho alegria em nossos encontros de teatro, tenho alegria em falar a vocês, tenho alegria em falar.
A minha vida aqui, com vocês, é cheia desses entusiasmos.
Penso no oposto dessa palavra. De todos os opostos da palavra alegria que me vem à cabeça, escolho a palavra desânimo.
Um corpo desanimado.
Perdeu sua energia, sua vontade e, sobretudo, sua coragem.
Pergunto em voz alta, também a mim mesmo: quando foi que nós começamos a sentir prazer em nos desanimar uns aos outros? De onde vem o prazer que sentimos em desanimar outra pessoa quando ela está toda entusiasmada com o seu lugar?
Penso numa estratégia contra o desânimo: tolerância.
O dicionário diz que tolerância é uma tendência a permitir diferenças, permitir que existam opiniões contrárias.
Mas então lembro de quando atravesso a ponte do Jaguaré, vindo da estação de trem para cá e vejo o rio. Ele está podre, um rio totalmente desanimado pelas nossas mãos. Caminho até aqui. Do lado de lá do rio, na parte rica, existem famílias com casas do tamanho deste teatro. Neste morro do Jaguaré
muitas famílias precisam se amontoar, subindo. É certo que a vista de vocês lá do alto é muito mais bonita que qualquer outra. Mas como tolerar a desigualdade evidente que nos rodeia o tempo inteiro?
O que me faz pensar que nem sempre tolerar é o melhor caminho.
E então penso no desprezo.
E nessa lógica absurda que sustenta a nossa vida. O dono da empresa despreza o patrão e o patrão despreza o seu empregado. Por sua vez, o empregado despreza sua própria esposa, a esposa despreza seus vizinhos, os vizinhos se desprezam uns aos outros. E a lógica segue. Sempre vai pode existir alguém inferior.
O corpo do desprezo, a meu ver, é o corpo do desânimo.
Um corpo quase morto, sem graça.
Corpo distraído na sua violência.
E este corpo distraído em sua própria violência,
indiferente à dor que causa no corpo que está a seu lado,
é o corpo do ódio.
Eu gostaria de determinar uma tarefa quase impossível de ser feita:
acabar com o corpo do ódio.
Tarefa utópica, é evidente. Não pudemos dar cabo dela, tão somente ensaiá-la. Argila que somos, logo nos distraímos e o fluxo e a facilidade do desprezo acabam por nos comover mais do que a árdua tentativa de sedimentar nossas distâncias e viver na diferença. Ao mesmo tempo, belos momentos se passaram no escuro teatro do CEU Jaguaré enquanto nos debruçávamos sobre nossos problemas, cercando-os com nossas palavras e tentativas. Exercício do pensamento e da igualdade entre os homens: tradução e distância. Desistência da seara dos consensos.
Eis que os temas do desprezo, do desânimo e do ódio retomam os caminhos dentro do Vocacional, já em 2014. Agora, no centro de São Paulo. Agora, na Galeria Olido.
Envolvido desde maio no Vocacional Memória (3), trabalho organizado por um grupo de artistas orientadores do programa, me detive bastante sobre alguns vestígios produzidos ao longo desses quase 14 anos de existência do Vocacional. Em conversa com Maria Tendlau sobre o nascimento do projeto em 2001, ela revive as memórias do entusiasmo que cercava seu lançamento. O evento se deu na Galeria Olido, que estava cheia, muito cheia, e Maria Tendlau falava num megafone em cima de um palanque improvisado. O entusiasmo, pelo que parece, contaminava o corpo de todos: jovens, grupos amadores e gente de teatro da cidade de São Paulo estavam lá para soprar a favor da iniciativa. E os ideais eram intensos e o frescor era visível. Para além de qualquer cansaço, o gosto e desejo pela novidade. 13 anos depois, passadas as primeiras vertigens e tendo se estabelecido minimamente como política pública, o cenário do Programa dentro da Olido se transformou. Começamos este ano, inclusive, com um descompasso entre nossas informações: a programação da Galeria Olido não havia sido comunicada sobre a volta da linguagem teatro dentro do Programa ao equipamento. Fatalmente, este retorno só foi esclarecido no dia de começo da edição, o que gerou um desgaste que poderia ter sido evitado. Para além das falhas no diálogo entre a Divisão de Formação e a programação do equipamento e do desconhecimento por parte da maioria dos funcionários da Galeria da existência do Programa, percebemos que tanto artistas orientadores quanto vocacionados já não são mais tão bem vindos ao espaço. Ao longo de nossa atuação na Galeria neste ano, pudemos contar com o espaço apenas para nossas seis horas de orientação semanal, sem dispor de aberturas para reuniões extras ou para nossas ações culturais. Também não foi aberto espaço para uma parceria mais estreita entre nós e os funcionários do equipamento, de forma a partilhas e pensar junto o que vínhamos fazendo lá em nossos encontros de orientação. Nossa única interlocução acabou acontecendo nas reuniões de equipe, juntos aos artistas orientadores da região Centro-Oeste, figuras imprescindíveis para que o trabalho pudesse não ser tão solitário e tão determinado o tempo todo só por mim. O desprezo declarado pelo equipamento em relação a nossa presença em seu interior me traz imediatamente de volta as imagens do ódio e do desânimo: a recusa de trabalhar para que algo viceje aplicando as forças políticas de forma a desmoronar qualquer contentamento.
A desqualificação da ação do Vocacional por parte de seus inimigos provisórios se apresenta de diversas formas. Não cabe aqui listar todas. Cabe sublinhar que o argumento que insiste em perseguir meu espaço de atuação deste ano se apoia no repisado debate qualidade versus quantidade. Os polemistas deste debate ponderam que, por um lado, é exigida de uma política pública atender o maior número de cidadãos possíveis, por outro lado, um programa como o Vocacional, em termos de sua qualidade e densidade nas interrogações, pode falar para poucos, sem se preocupar com os números, mas sim com a textura das experiências que propõe. Exausto ou não deste debate, este meu enxame verbal, percurso que comecei acima com o corpo arruinado e à espera de distância e espaço, insistirá um pouco em pensar sobre os caminhos da serventia pública de nossas ações e em como os espaços que estão abertos, prenhes e informes, podem estar se tornando detestáveis em nossa recente experiência de vida comum em sãopaulosp.
Uma das artistas vocacionadas que partilhou de nossos encontros na Galeria Olido, Mariana, também atuou num projeto cênico experimental chamado Corpo Cidade Bom Retiro, orientado por Andre Capuano e que teve como espaço cênico as ruas do bairro do Bom Retiro e o metrô de São Paulo. Tive uma das experiências mais curiosas como espectador quando fomos ver o trabalho de Mariana. As indicações que o experimento propunha ao público serviam para que, de alguma forma, os espectadores se camuflassem no meio das ruas e não deixassem claro para os transeuntes do bairro (espaço de circulação intensa) que aquilo tudo estava sendo visto desde o começo por algumas 15 pessoas específicas. Isso me permitiu, como espectador, que eu pudesse passar como mais um transeunte e, portanto, nenhum comentário do público “espontâneo” da ação performática me foi poupado ou escondido.
O trabalho consistia em uma série de ações pelas ruas realizadas por uns 15 performers, de maior e menor exposição e teatralidade. Mas tudo, em geral, era muito simples, sem grande espetacularização dos gestos. Singelas intervenções nas paisagens e na velocidade das coisas. Conforme algumas das ações dos performers evidenciavam que aquilo que estava acontecendo fazia parte de um trabalho planejado de intervenção e não somente de gestos espontâneos de qualquer passante, comentários como “Tudo um banco de loucos”, “gente maluca”, “gente desocupada”, “vão trabalhar, vagabundos”, não cessaram de me acompanhar como público invisível.
Diante de tanta recusa ao que se produzia escutada nos comentários das pessoas que tinham seu cotidiano de trabalho atravessado pela ação do experimento, fiquei extremamente inquieto e perplexo ao refletir sobre o quão ações sem utilidade e sentido preciso, como aquela que eu acompanhava, são recusadas. Talvez pelo excesso de utilidade da nossa vida, do nosso excesso de trabalho e de nosso suposto mérito trabalho-dinheiro que nos dá, como consequência-prêmio, o direito de viver em sãopaulosp.
A cena de horror se deu na Praça Tiradentes, espaço público extenso, pareado com o prédio da Polícia Militar. Na praça pública, havia, naquele dia, a montagem de um estande de vendas da Hyundai. Rapazes e moças com a camiseta da marca de carros montavam um estande e, de repente, perceberam que os performers faziam algo no meio da praça. Como espectador, fiquei curioso em deixar de assistir à cena do Corpo Cidade e passei a assistir a cena da reação dos trabalhadores da Hyundai daquele acontecimento. Estavam três moças, um rapaz e um policial militar. Os cinco conversavam e riam do que viam. Experimento aqui traçar uma pequena dramaturgia da cena que eu assisti, conforme me permite a memória e minhas impressões:
MOÇA 1: Deve ser um flash-mob. (Explicação sobre um flash-mob).
Todos parecem se entusiasmar um pouco. Menos o policial.
POLICIAL: Tudo um bando de desocupados. Gente sem ter o que fazer. Minha mãe me ensinou desde pequeno que quem faz isso é gente vagabunda. Se eu pudesse fazer alguma coisa, ensinava pra esses vagabundos tanta coisa...
Risos. O policial aponta para um dos rapazes que parou para assistir a cena, na outra ponta da praça.
POLICIAL: Olha aquele ali. É viadinho. Puta que o pariu. O mundo tá fodido mesmo.
Risos. Uma das atrizes da performance dobra sua coluna em direção ao chão.
POLICIAL: Agora sim, olha aquela ali... Naquele rabo eu metia facinho.
Risos. Uma das moças bate no policial enquanto ri.
MOÇA 2: Para! Que boca suja.
MOÇA 1: Que chatice... não era um flash mob. Tá muito chato. Eles não estão fazendo nada.
De repente, o rapaz com camiseta da Hyundai tira do bolso seu smartphone e diz:
RAPAZ: Gente, vejam isso. Esse vídeo: olha a criança, os pais deixaram ela cair na jaula do leão. Olha só o que acontece.
Enquanto a performance continua, os funcionários da Hyundai e o policial militar passam a ver o vídeo de um bebê sendo devorado por um leão. As meninas gritam ao ver as cenas, mas não desviam os olhos da tela. Meu olhar sobre eles.
O ódio generalizado pelos gestos despropositados e sem utilidade.
O reclame pela cadeia de utilidade e serviço ao bem público, desta vez não na boca de um estado tirano, mas na do indivíduo comum.
E algumas pessoas que abrem tempo e espaço em seus cotidianos para se dirigirem para estes espaços onde nada, a princípio, serve para nada. Para adentrar em outra qualidade de experiência, talvez. Para se ocupar com algo vão e não imediato. É neste espaço que circunscrevo a atuação dos gestos ditos artísticos, a nossa prática dentro do Programa Vocacional e nossa gana de escrita. Neste espaço inútil e aberto. Surpreendentemente detestável. Pois que o detestam os homens da utilidade, a sociedade do desprezo. Não nos enganemos, ela, a sociedade do desprezo, está ao nosso redor. Estamos dentro dela e participamos de suas atitudes distraídas e violentas. A paixão pelo desânimo alheio situa-se ali onde nos apaixonamos também pela desigualdade, pela utilidade e pela serventia ao suposto bem comum, que não deixa nunca de ser privativo.
Não seria, então, novamente o momento de uma política pública afirmar efetivamente sua posição refratária à utilidade do mundo, disponibilizando-se a verticalizar a relação aberta e despropositada (e não por isso menos rigorosa) com pessoas que ainda pedem um espaço como este? É urgente lembrar que estes espaços, os inúteis, escasseiam, já não estão por aí, em qualquer lugar, oferecidos para qualquer um.
Uma arte sem utilidade nada tem a ver com uma arte pelega (no sentido de não combativa) ou de entretenimento fácil. Nada disso. O desdém em relação à necessidade de utilidade do gesto que convoco (artístico ou não) tem a ver com interrupção ou exílio em relação ao movimento excessivo e desgastante de uma vida adaptada a servir e conquistar. Em contraposição a esse movimento dominante, intuímos uma vida curiosa em ensaiar-se para a diferença. Nada mais que isso. Uma alternativa aos modos com os quais operam nosso usual cotidiano, apressado e que costuma render muito. Aqui, nada se pretende render. Nem dinheiro, nem nada, daí que nosso foco se aparta de
qualquer tendência vinculada a fins comerciais, ao rendimento. É urgente que se manifeste o campo do resto e que se torne o momento da respiração residual tomar corpo outra vez. Retiro, solidão e descompasso. Nada a ver com a lógica individualista estéril que vimos imperar entre nós.
Se falamos de artistas (orientadores, vocacionados, etc.), eles o são menos em sua glória e mais na sua fragilidade. Homens comuns que, por vislumbrarem uma possível habitação de errância, anseiam em partir para outra paragem, que já não esta. Homens que desejam ensaiar seu exílio da sociedade do desprezo e, como nos rememora Juliano Garcia Pessanha, poder permanecer dando tempo e espaço aos seus informulados.
"Mas hoje ninguém dispõe de tempo e espaço necessários para manter-se fiel ao próprio informulado; tudo conspira sistematicamente contra uma tal possibilidade, de tal modo que a maioria dos homens, a quase totalidade deles sequer pressente que carrega em si um filósofo possível e que seria exuberante desdobrá-lo no diálogo e no combate com os filósofos logrados. Porque tudo hoje se encontra radicalmente tamponado e suturado (...) Para tanto seria necessário um imenso lugar de errância e vagabundagem, bem como uma acolhida por parte dos guardiões e dos plantonistas da filosofia, mas os plantonistas da filosofia, os membros da instituição filosófica, ao perceberem que alguém está querendo erguer a cabeça a fim de balbuciar suas inquietudes, fazem com que ele não mais se sinta no direito de fazê-lo."
(Certeza do agora, p. 65)
Ao término do triste sobrevoo, o retorno à nossa curiosidade infinita. À exuberância.
episódio 2
UM QUARTO.UMA SALA DE ENSAIO.UMA BIBLIOTECA
Retiremo-nos para o nosso quarto. Nosso espaço íntimo.
Retiremo-nos para a nossa sala de ensaio. Nosso espaço público e íntimo.
Retiremo-nos para a biblioteca. Onde o íntimo e o público se sobrepõe infinitamente. Onde reina algum silêncio e os mortos e vivos vão e vem sem muito drama nas passagens.
A solidão, o jogo, a escrita.
Partimos do pressuposto, junto com Jacques Rancière, que a retórica (uma das estratégias fundamentais da sociedade do desprezo, apaixonada pela desigualdade) não busca a compreensão, mas o aniquilamento da vontade alheia: “ela só fala para fazer calar” (2007, p. 122). Ao adentrar este quarto/sala de ensaio/biblioteca, recinto íntimo e público ao mesmo tempo, afirmamos que nossa única tarefa como artista orientador deve ser tão somente falar para produzir mais fala, dar a ler para que se escreva mais, orientar para fazer vicejar, jamais para fazer morrer. Neste quarto/sala de ensaio/biblioteca nada queremos que tenha a ver com ensinar, ou ajudar, ou salvar, ou apoiar, ou incentivar, ou socorrer. No miúdo, sem muita publicidade, queremos trabalhar para não calar uma inteligência que se afirma.
Em nossa utopia, bem pouco sonhada e mais exercitada dentro do cotidiano cru e concreto, ocupamos o espaço de trabalho com a nossa bagunça: com as coisas que amamos ou que nos inquietam. Os vestígios do mundo que nos chamam a atenção, seja pelo envolvimento afirmativo, seja pelo seu horror. E miramos todos juntos essa bagunça de imagens e ideias, daí que a coisa torna-se pública, pois sempre temos algo no meio de nós. Algo no meio que nos faz assumir posições distintas em relação aos nossos objetos e, movendo-se ao redor, começamos já a reescrevê-los.
Neste quarto/sala de ensaio/biblioteca, onde almejo inventar minha orientação, investigo como podemos criar um espaço vivo de escrita. Escrita entendida não somente no seu molde literário, mas em seu sentido expandido: o teatro como escrita, como traço de homens, exercício de investida na linguagem. Daí que, junto com o professor Foucault é preciso que sigamos lutando pela dessacralização da escrita.
"Gostaria de escapar desta atividade fechada, solene, redobrada sobre si mesma, que é, para mim, a atividade de colocar palavras no papel. Eu gostaria que ela (a escrita) fosse um algo que passa, que é jogado assim, que se escreve num canto da mesa, que se dá, que circula, que poderia ter sido um panfleto, um cartaz, um fragmento de filme, um discurso público, qualquer coisa” (Eu sou um pirotécnico, p. 81)
Nesse sentido evocado por Foucault, uma fortuita provocação nos foi endereçada pela coordenadora de equipe, Gabi Flores, que nos interrogou sobre o porquê da repetição ao longo das últimas edições das mostras dos trabalhos dos artistas vocacionados acontecerem somente em novembro. Partindo do sentido da pergunta de Gabi, experimentamos algumas mostras mais precoces ao longo do ano, em que rememorávamos os materiais experimentados em nosso processo e organizávamos uma composição provisória para partilha com público. Tal forma de lidar com nosso material publicamente conferiu uma leveza extraordinária ao trabalho de apresentar, pois o peso da “forma final” ou de um “ter chegado lá” (escrita solene e definitiva) foi diminuído diante da mostra pública pensada como um momento de partilha e exercício de composição e experimentação. Escritas provisórias, escritas comuns e alegres. Como artista orientador e público dos artistas vocacionados, pude me surpreender com o quanto eles aprendiam em ato, na relação com os
espectadores, podendo experimentar várias vezes no corpo diversos temas que cercam o trabalho daquele que se expõe publicamente.
Exercícios de composição, jogo e um espaço para investigarmos, a partir de questões enfocadas pela linguagem teatral, aquilo que nos movia alguma graça e ação do pensamento. Como primeira investida para a nossa chegada/ocupação do nosso quarto/sala de ensaio/biblioteca, propus aos artistas vocacionados que se apresentassem através de um texto que pudesse dizer sobre si, mas que não fosse fruto da própria autoria. Interessava-me começar a expandir as vozes ao redor, as alianças textuais e as referências de cada um.
Foi neste exercício que um dos artistas vocacionados, o Fernando, em sua forma de estar em cena singela, comum e envolvente, ecoou um fragmento de texto do Salinger que já havia fisgado meu ser em uma leitura remota que havia feito, mas que, na presença do Fernando e na partilha que ele propunha, voltou a me comover de forma pungente. Transcrevo, a seguir, o trecho. Naquilo que ele tem de deslumbrante e simples. Na forma como evoca o sentido da escritura, a conexão entre o leitor (que sempre somos) e o escritor (que se viremos a ser) e a conexão com o corpo, com o artista, com qualquer um que pode agir dentro da linguagem (e para fora dela).
"Sabe do que eu estava rindo? Você escreveu que era escritor por profissão. Trata-se do mais lindo eufemismo que jamais ouvi. Quando é que escrever, para você, foi uma profissão? Nunca foi outra coisa senão sua religião. Nunca. (...) E, já que é sua religião, sabe o que vão te perguntar quando você morrer? Mas deixe que eu diga antes o que vão perguntar. Não vão perguntar se você estava trabalhando numa obra maravilhosa ou comovente quando morreu. Não vão perguntar se era curta ou longa, triste ou alegre, publicada ou inédita. Não vão perguntar se você estava escrevendo bem ou mal. Não vão nem mesmo perguntar se essa era a obra que você teria escolhido para escrever caso soubesse que sua hora chegaria tão logo a terminasse. (...) Tenho a mais absoluta certeza de que só vão te fazer duas perguntas. A maior parte das suas estrelas estava brilhando? Você estava escrevendo direto do coração? Se você ao menos soubesse como te seria fácil responder sim às duas perguntas! Basta que se lembre, ao sentar para escrever, de que você foi um leitor muito antes de se tornar um escritor. Simplesmente tome consciência disso, sente-se bem quieto por alguns instantes e pergunte a você mesmo, como leitor, qual a obra literária que o Buddy Glass mais gostaria de ler caso seu coração pudesse escolher. O próximo passo é terrível, mas tão simples que eu mal posso acreditar no que vou dizer. Trata apenas, desavergonhadamente, de escrevê-la você próprio."
(Seymour, uma introdução, p. 86)
Poder falar, escrever e rascunhar por prazer. Para mais nada.
Ignorante no começo do ano dos rumos que tomaria o trabalho que aqui se encerra, sou grato por ter vivido momentos de intenso, legítimo e gratuito prazer de viver que, conforme nos recorda Starobinski, são características do gesto ensaístico. Grato também pelo redescobrimento da genuína e graciosa ambiguidade do teatro que William, Daniela, Thiago, Henri, Maria, José e Eduardo me fizeram recordar em suas paródias do melodrama, e em seu olhar atento e generoso à vida que se apresenta de forma caótica no centro de São Paulo. Pelos rostos distintos e ávidos de Ana, Fernando, Adilson, Mariana, Priscila, Jota, Satie, Túlio, Maria, Bia, Jaques, Paula, Neri, Fernanda, Bruno, Jaqueline e Silmara.
Também agradeço aos grupos e artistas que se aproximaram dos debates evocados pelo grupo de estudos Vocacional Memória. Sobretudo, por termos nos encontrado e termos trocado pontos de vista sobre um mesmo programa, tão multifacetado e complexo. Como repeti em reuniões com artistas vocacionados de coletivos distintos, a tarefa de organizar redes de trocas e de encontros entre artistas vocacionados (e também orientadores) é uma das principais deficiências atuais do Programa. Às vezes nós, orientadores, queremos muito que pessoas que conhecemos ao longo de nossas orientações possam se conhecer para pensar juntas o teatro. E que jamais se conheceriam caso não promovêssemos, de alguma forma, este encontro. Se encontrar não necessariamente para trabalhar junto ou se familiarizar no pensamento, mas para debater, assistir e pensar a partir de um trabalho distinto e tão vigoroso quanto o seu.
Muitas vezes o trabalho de orientação, assim como o da escrita, “se confunde com o viver ou, mais precisamente, com um modo intensivo de conduzir a própria existência. Escrever (ou orientar) consistiria, assim, numa experiência de transformação do que se pensa e, acima de tudo, do que se é (..) Em última instância, apenas a superfície de inscrição de uma vida: seus reveses, suas circunvoluções, seu inacabamento compulsório.” (GROPPA, 2011, p. 644).
O corpo comovido e derrubado pelo cansaço agradece e lamenta não poder falar muito mais. É preciso que se continue a organizar a partida. Exílio do país do desprezo, na partilha das alegrias possíveis e das imagens dos nossos horrores. Uma pequena plataforma para uma vida em transfiguração, passagem da ausência distraída ao semblante atento e disposto a pensar. Assim se configura o sentido da moção de nossas energias. Pela igualdade. Organização deste território. Ilha.
episódio 3
NA ASSEMBLEIA DOS HOMENS
(A assembleia dos homens. Muita gente reunida numa disposição espacial plateia-tribuna. O espaço não é acolhedor. No espaço da tribuna, um microfone. Poucas pessoas estão na tribuna organizando as falas, uma faz a ata da assembleia. No espaço da plateia, muita gente espremida. Corpos em
diferentes estados de atenção e envolvimento, dos mais acordados aos mais sonolentos. Discute-se o Programa Vocacional, da Secretaria Municipal de Cultura e exigências por parte dos artistas orientadores. A cidade, ao redor, se exerce em velocidade espantosa. Esta assembleia não existe. Luiz levanta a mão e diz da plateia, sem se dirigir para a tribuna)
Eu exijo um espaço. Para receber pessoas que também exijam este espaço. Pessoas que ainda perseguem um espaço como este. E, quando estivermos todos, eu fecharei a porta (ou as deixarei abertas) e direi com muito gosto:
- Este espaço não serve para nada. Ele é inútil.
E quero deixar claro que não haverá nada no meu rosto que pareça presunçoso ou carrancudo ao dizer isso. Muito pelo contrário, eu rirei, um riso de cumplicidade, junto aos que também rirão pela graça de estarmos juntos para nada. E eu reivindico este espaço. Eu levanto a mão, no meio da assembleia dos homens, e exijo o meu direito de ter este espaço.
D I R E I T O I N C O N D I C I O N A L de tê-lo.
E eu demarcarei este espaço se necessário: vai daqui, até ali (ele não é tão imenso, cabe mais gente, e é um espaço digno). E digo para quem estiver disposto a escutar a sentença final: ESTE ESPAÇO NÃO SERVE PARA NADA.
Eu exijo ter este espaço. E exijo poder dizer que este espaço não serve para nada. Não serve para refletir sobre processos criativos artístico-pedagógicos, não serve para trocar experiências com as outras pessoas, não serve para ser mais feliz, não serve para aprender sobre o mundo ou refletir sobre, não serve para rir, não serve para mudar a realidade, não serve para deixar a vida mais leve, não serve para emocionar ninguém, nem nada deste tipo.
Eu exijo um espaço inútil. E esta é minha única exigência, na assembleia dos homens, antes de eu ir embora daqui: Ter este espaço.
(E que me paguem, e que sempre tenha dinheiro público aplicado para este meu espaço de nenhuma utilidade. E para quem quiser ter este espaço também, lógico. E não me achem doido eu pedir dinheiro ou apoio para toda essa inutilidade. É o mínimo que vocês, na assembleia dos homens, me devem, nos devem. O direito de estar inútil.)
Então, que fique claro uma vez mais: eu não estou pedindo/reclamando pela água, pela melhoria do meio ambiente, por melhores condições para a classe artística ou para o Programa Vocacional, por mais dinheiro para a saúde ou para a educação, ou para a criação de novos projetos teatrais.
Eu exijo (não é um pedido) pela existência dos espaços inúteis. Que não querem servir pra nada.
(Se eles servem é consequência, não objetivo)
Porque meu corpo precisa deste espaço. Se os outros não precisam, tudo bem. Mas eu, rapaz jovem barbudo minúsculo, já nascido como um ponto insignificante no universo e bla bla bla, preciso. E ainda vejo que alguns outros estão no faro disso também. Que venham então para este espaço inútil, pois são bem vindos. Ou que criem os seus. Tanto faz. Não estou com pique para fazer um movimento pelo espaço inútil. Mas sim tê-lo. Abri-lo aqui agora, ou na minha casa, ou no banheiro, ou na rua, ou debaixo do minhocão, ou na biblioteca, ou na floresta, na costa ou no meio do mar. Qualquer espaço é espaço. Espaço inútil, para que, talvez e finalmente, um homem possa respeitar a si mesmo.
último episódio
UMA PAISAGEM DEVASTADA. sãopaulosp
o último episódio deste ensaio deve ser imenso em seu silêncio.
como um teatro sem desejo. um teatro que não foi criado, mas recolhido no meio dos restos do traço dos homens.
em sua secura, em seu desgaste, em seu mistério.
os restos.
o que sobra.
aquilo que ninguém mais quer pousar o olhar.
eis os restos: todos as miudezas desprezadas, os homens e mulheres sem lugar, de paisagens extintas, incapazes de uma experiência de vida certeira e exata, mas que também acontecem de ter coração. acontecem de ter um coração, e uma mirada, e um corpo que se move perante de.
os homens inúteis.
eu os amo. eu os quero perto. e, a partir das minhas mãos, frágeis de possibilidades, agrupo suas imagens.
assim como, por exemplo, as faces de suas figuras amadas, pequenas e confusas dentro deste mundo de excessos, de saber, e de expertise.
do mudo que recusou a noite das coisas.
daí que este último episódio não cabe num texto, portanto, extenso que é em sua sonoridade ressonante e em sua revista muda da nossa miséria.
o episódio acontece na cidade devastada. sãopaulosp.
gente seca, ainda que hidratada ainda ainda.
gente produtiva.
gente em sua lacrimosidade besta.
gestos de afeto mortificados, posto que eles (os afetos) repousam onde a carne vacila, treme, dói.
nos restos, portanto.
e aqui, em sãopaulosp, se apressam a dor, o tremor, a escassez de... (tudo?). e, se não é desta gente blindada que nos distanciamos, são dos restos que nos aproximamos, nos formamos.
mãe, pai, avós, amantes, alunos, professores, amigos e gente comum. gente ínfima, desimportante para sãopaulosp. os desnecessários.
gente em seus milagres.
gente em suas delícias e sabores.
gente em seu traço possível.
adentremos nestes milagres e que eles nos espantem para além dos resultados.
para além dos resultados.
...
...
e este episódio silencioso termina e o final acaba por não ter nome.
porque ele também é o horror.
e, se ele pode ser o horror, ele também é a nossa hipótese da persistência da vida que não sucumbe e que está prenhe de ...
...
...
e ele fala também, em sua precariedade e ignorância, sobre o silenciamento do espaço, da recusa da necessidade de estar para sempre forte e dos vulneráveis rostos, abertos e sozinhos, capazes de habitar o encontro digno.
luiz pimentel
novembro, 2014
NOTAS
(1) Leitor este já sonhado por Virginia Woolf, Michel de Montaigne, J.D. Salinger, Wally Salomão, entre outros. Inclusive, este último ainda acrescenta: “...como se sabe, o leitor é querido e livre: pode ler assim ou assado...” (p. 7, 2014)
(2) É uma das tarefas do artista orientador tomar algumas horas de trabalho de seu mês para a confecção do que se nomeia no Programa Vocacional como ensaio de pesquisa-ação. Este ensaio deve ser publicado no último mês do contrato do artista.
(3) Todo o material organizado e produzido por este grupo de estudos está disponível na plataforma virtual http://vocacionalmemoria.wordpress.com/ .
BIBLIOGRAFIA
AQUINO, Julio Groppa. A escrita como modo de vida: conexões e desdobramentos educacionais. In: Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 37, n. 3, p. 641-656.
FOUCAULT, Michel. Eu sou um pirotécnico. In: POL-DROIT, Roger. Michel Foucault, entrevistas. São Paulo: Graal, 2006, p. 67-100.
MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. São Paulo: Abril Cultural, 1972.
PESSANHA, Juliano Garcia. Certeza do agora. Cotia: Ateliê Editorial, 2006.
PIMENTEL, Luiz. No meio 05: Os escândalos e as interdições. Revista Geni: http://revistageni.org/10/no-meio-05-os-escandalos-e-as-interdicoes/.
SALINGER, Jerome David. Carpinteiros levantem bem alto a cumeeira e Seymour, uma apresentação. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
SALOMÃO, Waly. Poesia total. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
STAROBINSKI, JEAN. É possível definir o ensaio? In: Remate de Males. Campinas, Jan/Dez. 2011, p. 13-24.
RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante - cinco lições sobre a emancipação intelectual. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
WOOLF, Virginia. O leitor comum. São Paulo: Graphia. 2007.
VOCACIONAL MEMÓRIA:
vocacionalmemoria.wordpress.com
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