Exercícios do Estar - Vocacional Teatro, Biblioteca Cora Coralina
O Corpo do Artista Orientador
O Corpo da Orientação
O Corpo da Criação
A orientação começa sempre antes do encontro. Dias antes, ao esboçar
algumas linhas sobre o que é possível ser feito no encontro que está por vir,
antecipo este encontro de forma virtual. Planejar diz mais respeito a uma forma
de estar no encontro e adentrar este corpo do que estabelecer um roteiro de
atividades a serem feitas. No planejar preparo mais o corpo do que o encontro.
Sacudo as células, ouço a movimentação da corrente sanguínea, modifico o tônus
muscular, a pele se compacta. Cada dia, outras partes vibram mais, ou menos.
No caminho para a orientação releio os escritos afim de me aproximar de
um outro estado corporal. Arrisco a perguntar: qual o corpo do Artista
Orientador? Entendo o corpo não apenas na sua existência física, mas na sua
existência sensorial, cognitiva, intuitiva, afectiva, emotiva... No trajeto da
linha do trem da estação Luz até Guaianases, começo a abrir espaços entre as
fibras musculares. A pele afunda para perto dos ossos, e o que era mais interno
assume a prontidão de tocar e sentir o exterior.
Ao chegar no equipamento espero os artistas vocacionados. Chegam aos
poucos. Começa a se formar o corpo daquele encontro. Grudo o meu a este novo
que se cria. Possui outra textura, outro formato. No lugar dos músculos existe
mais liquidos, e dos ossos mais material gelatinoso. Um corpo que ora delimita
um contorno, ora deixa escapar para fora o seu interior, ora é amorfo. Grudada, observo este encontro
se desenhando através da relação com os artistas vocacionados. Era preciso ter
mais espaços entre os músculos para deixar que o encontro ocupe estes espaços
por um momento, era preciso ouvir o que o encontro gostaria de ser naquele
momento, era preciso deixar a orientação ter a forma que era possível ali.
No fim do dia nos deparamos com um terceiro corpo, o da criação. Não é um
corpo acabado, finalizado, formado.. Não é um corpo que nem eu, e nem os
artistas vocacionados conhecíamos a priori. Me pergunto: Qual o corpo da
criação? Talvez sejam corpos, que nem eu nem ninguém saibamos qual seja ate que
nasça. Um corpo no qual o braço pode estar no lugar das orelhas, os olhos na
nuca, os órgãos nos pés... teria órgãos? Teremos a coragem de olhar para este
ser descabido e reconhecer como corpo da criação? Ou rearranjamos imediatamente
a organização deste organismo para se aproximar dos corpos que reconhecemos
como legítimos?
No caminho do trem de Guaianazes até a Luz o encontro habita minha pele.
Algo se desloca em mim, muda de lugar. Minha pergunta não é “O que é teatro?”,
e sim “Qual teatro podemos fazer agora?”.
Priscilla Carbone
AO Teatro-Biblioteca Cora Coralina
Vídeo de apoio: http://youtu.be/xWBtWYtYQMo
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