quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Exercícios do Estar - Vocacional Teatro, Biblioteca Cora Coralina



O Corpo do Artista Orientador
O Corpo da Orientação
O Corpo da Criação

A orientação começa sempre antes do encontro. Dias antes, ao esboçar algumas linhas sobre o que é possível ser feito no encontro que está por vir, antecipo este encontro de forma virtual. Planejar diz mais respeito a uma forma de estar no encontro e adentrar este corpo do que estabelecer um roteiro de atividades a serem feitas. No planejar preparo mais o corpo do que o encontro. Sacudo as células, ouço a movimentação da corrente sanguínea, modifico o tônus muscular, a pele se compacta. Cada dia, outras partes vibram mais, ou menos.
No caminho para a orientação releio os escritos afim de me aproximar de um outro estado corporal. Arrisco a perguntar: qual o corpo do Artista Orientador? Entendo o corpo não apenas na sua existência física, mas na sua existência sensorial, cognitiva, intuitiva, afectiva, emotiva... No trajeto da linha do trem da estação Luz até Guaianases, começo a abrir espaços entre as fibras musculares. A pele afunda para perto dos ossos, e o que era mais interno assume a prontidão de tocar e sentir o exterior.
Ao chegar no equipamento espero os artistas vocacionados. Chegam aos poucos. Começa a se formar o corpo daquele encontro. Grudo o meu a este novo que se cria. Possui outra textura, outro formato. No lugar dos músculos existe mais liquidos, e dos ossos mais material gelatinoso. Um corpo que ora delimita um contorno, ora deixa escapar para fora o seu interior,  ora é amorfo. Grudada, observo este encontro se desenhando através da relação com os artistas vocacionados. Era preciso ter mais espaços entre os músculos para deixar que o encontro ocupe estes espaços por um momento, era preciso ouvir o que o encontro gostaria de ser naquele momento, era preciso deixar a orientação ter a forma que era possível ali.
No fim do dia nos deparamos com um terceiro corpo, o da criação. Não é um corpo acabado, finalizado, formado.. Não é um corpo que nem eu, e nem os artistas vocacionados conhecíamos a priori. Me pergunto: Qual o corpo da criação? Talvez sejam corpos, que nem eu nem ninguém saibamos qual seja ate que nasça. Um corpo no qual o braço pode estar no lugar das orelhas, os olhos na nuca, os órgãos nos pés... teria órgãos? Teremos a coragem de olhar para este ser descabido e reconhecer como corpo da criação? Ou rearranjamos imediatamente a organização deste organismo para se aproximar dos corpos que reconhecemos como legítimos?
No caminho do trem de Guaianazes até a Luz o encontro habita minha pele. Algo se desloca em mim, muda de lugar. Minha pergunta não é “O que é teatro?”, e sim “Qual teatro podemos fazer agora?”.

Priscilla Carbone
AO Teatro-Biblioteca Cora Coralina


Vídeo de apoio: http://youtu.be/xWBtWYtYQMo

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial