terça-feira, 18 de novembro de 2014

Paço Cultural Julho Guerra - Casa Amarela Revisitada por Angélica Rovida



 Casa Amarela Revisitada.

Retornar à Casa Amarela, carinhosamente chamada de Yellow House pelos vocacionados que desde o ano passado se organizaram em grupo, batizado com o mesmo nome. Uns dizem que é bege e não amarela. Para mim é “casa caiada”, das poesias. Sua arquitetura é sugestiva, inspiradora, como se fosse um cenário.

Patrimônio histórico já foi sede da Prefeitura de Sto. Amaro, mas, atualmente, revela tanta fragilidade. Com suas rachaduras, tão expostas, neste ano parecem mais profundas! Estes “cortes” atravessam as paredes do teto ao chão e somados aos desnivelamentos do piso parecem machucar a estrutura do prédio. Para mim soam como fraturas que aos poucos vão se multiplicando, afetando a estrutura tão bela, imponente desta Casa de Cultura esquecida de manutenção.
Sob a orientação de não causar fortes impactos no piso da sala, oferecida pelo equipamento para os encontros, vocacionados observam as instabilidades do ambiente, traduzindo-as numa fala que traz a sensação de insegurança. Apontando as rachaduras chamando-as, de riscos na parede, optam em retomar os encontros na sala de baixo, como já foi feito no ano anterior.
Sinto-me responsável em apontar este estado de deterioração de um espaço cultural que fomenta tantas ações, no qual circulam tantas pessoas!. Mas o que e como fazer algo que possa chamar atenção para um olhar mais cuidadoso a este local?
Peso sobre os ombros!! Divido com a equipe, coordenadora. Carol sugere compartilhar a escrita de um texto com coordenador do equipamento. Foi confortante contar com a colaboração dos depoimentos do Thiago. Ao mesmo tempo surpreendente perceber que há um receio de ocorrer uma reforma na Casa, por conta do risco de interrupções das atividades que tanto envolvem a comunidade.


Cortes, fraturas, riscos

Tocar, sentir a Casa de olhos fechados , perceber o entorno. Este RE conhecimento promovido pela AO Lara (pela dinâmica desenvolvida com a equipe) me desperta o desejo de reflexão, me transporta para um espaço metafórico sobre os riscos na parede: Quais são os riscos e cortes vivenciados no Programa. Eu me lanço aos riscos do processo criativo com vocacionados, eles se arriscam? Me recordo de algo que li nos tratados de Sêneca:“Tentar é correr risco de fracassar”...”Correr riscos é ser livre...” . Então, riscos e desafios à vista, liberdade, me lanço ao voo!

Os cortes e Sustentabilidade: A interrupção do Programa de 4 a 5 meses sustenta o que foi conquistado?
De fato a turma que se organizou em grupo, em 2013, o Yellow House, continuou a se encontrar no equipamento, ainda que esporadicamente. Proativos e articulados, os vocacionados conseguiram manter acesa parte dos processos criativos. Mas, mesmo diante das potencialidades deles, e da minha orientação no sentido da sustentabilidade, a lacuna do tempo sem a presença do AO (segundo eles) muito estendida, ocasionou uma “pseudo-autonomia”. Em 2014 eles retornam ao Programa com desejos de continuidade, idéias, propostas, mas ainda com discurso imaturo e, ás vezes, até equivocado sobre os processos de criação, dança , arte.. Para o coordenador Thiago a lacuna ou, ” buraco negro” como ele menciona sobre intervalo de tempo do equipamento sem o Artista- Orientador, despotencializa o Processo das turmas. Fez minguar os interesses do grupo Yellow House, uma espécie de paralisação.

Desafios: Encontros e dês encontros
Se a turma da noite se organizou em grupo e manteve por um tempo os encontros sem a presença do AO, a turma da tarde se esvaziou.
Na retomada do Programa os vocacionados que retornam são “outros” e eu também. E acho isto fantástico. Porém, para alguns, as novas propostas, os desafios causam desconforto. Há uma resistência, sutil, as vezes, mais acentuada, proporcional aos desafios lançados, tentam “repetir”, reproduzir o que já foi experimentado. Deslocar “confortavelmente” as dinâmicas do ano anterior traz também um discurso sobre corpo, dança, arte, que parece mais estar pautado no campo das idéias, no desejo de querer ser, projetando falas que, por vezes, não são totalmente autênticas.
Mas, eu prefiro pro mover e, parafraseando Raul Seixas ser “metamorfose ambulante”.
Mas, é natural, que haja resistências às mudanças. Ah, a tendência à acomodação...

Em Física “Acomodação do cristalino é a contração ou o relaxamento realizado pelos músculos ciliares para poder focalizar a imagem e permitir que a visualização dos objetos não fique ruim. ...”
Em sociologia, o termo “acomodação designa um processo social que tem como objetivo diminuir o conflito entre indivíduos ou grupos...”  

A acomodação não é um mal, a acomodação como adaptação. Mas, o termo, também pode remeter a algo pejorativo, no sentido de imobilidade, de algo que pára, estanca, imobiliza. Pára de evoluir!

“ O homem tem resistências às mudanças”, quer saber para onde vai”(Flávio Gikovate)
Para onde ir???? 

Escher- “Relativity”
Descobrindo caminhos, compartilhando processos: Territórios
No CEU Feitiço Da Vila se dá a primeira ação da equipe. “convidado especial” é o grupo Yellow House”. Há forte expectativa em receber Artistas-vocacionados, deste e de outros equipamentos. Mas, o diálogo se dá de modo “instantâneo”, em uma brecha, de um ensaio de Dança de Rua, de meninos que freqüentam o CEU. O AO Leandro, Do CEU Feitiço, lida com vazio ... sem a presença de outros vocacionados. O Territórios acontece assim: o grupo Yellow House ocupa o Espaço. Do Beck ao teatro: é o 1º Territórios. 




 
INTERCÂMBIO


VOCACIONAL


GRUPO
YELLOW

 
 HOUSE

SÁBADO, 31 DE MAIO

14:00

SAGUÃO AO LADO DO TEATRO

CEU FEITIÇO DA VILA


O PROGRAMA VOCACIONAL DANÇA DE 2014 DO CEU FEITIÇO DA VILA TRAZ O GRUPO YELLOW HOUSE COMPOSTO POR VOCACIONADOS DA CASA DE CULTURA JÚLIO GUERRA, PARA COMPARTILHAR SEU PROCESSO CRIATIVO!
VENHA PARTICIPAR DESTA EXPERIÊNCIA CONOSCO! CONHEÇA O GRUPO E SUA DANÇA E TAMBÉM CONHEÇA O PROGRAMA VOCACIONAL DANÇA E O QUE ELE PODE TE OFERECER!


VEM!!!


 
 Desejos,tentativas de diálogos e o Bambu.
...Depois de plantada a semente do bambu, nada se vê, por cerca de cinco anos exceto o lento desabrochar de um diminuto broto, a partir do bulbo, que rompe a terra. Durante esses cinco anos, todo o crescimento é subterrâneo, invisível a olho nu, mas uma maciça e fibrosa estrutura de raízes se estende vertical e horizontalmente pelas profundezas esquecidas da terra.”.. Então, esta estrutura, ao mesmo tempo forte e flexível, no final do 5º ano, cresce até atingir a altura de 25 metros.
No desejo de dar continuidade ao diálogo interlinguagem do ano anterior, estabelecido com AOs de teatro e música (ambos da Biblioteca Belmonte) eu tinha a expectativa de que minha “flexibilização” fizesse desabrochar ações conjuntas. Houve momentos no início do Programa que busquei as parcerias: fui conhecer o AO de música no teatro Leopoldo Froes, o Adriano e participei com vocacionados de uma ação organizada pela AO de Teatro da Biblioteca Belmonte , a Vânia, e o AO de música Miranda De Amaralina. 
Mas, talvez, neste ano atípico, de calendário apertado (copa, eleição) a “sementes” tivessem que germinar mais. Tempo e persistência. “Eu tenho regado meu bambu!”, acreditando na potência das ações interlinguagens. Mas, cada bulbo tem seu tempo, seu solo propício para eclodir.
Passada copa, algumas flutuações, férias escolares. Com o segundo semestre novos vocacionados chegam, as turmas se estabilizam. Agora configurada por 100% de senhoras a turma da tarde, se fortalece.
2º território
Entre aromas, poesias, imagens e o desafio de experimentar o território Casa/ Corpo em silêncio, de olhos fechados. Mas atenção! Há que se lidar com a fragilidade. No corpo da Casa o 2º andar revela instabilidade, aguarda sutileza. “Pisando em ovos” seguimos nosso passeio tocando as paredes rachadas, o assoalho desnivelado e solto, tão frágil! “...vai, com jeito vai, senão um dia , a casa cai, menina...”
As propostas de interação entre vocacionados e público, estampa prazer, entrega dos convidados. A funcionária da Casa não resiste! Em seus plenos 65 anos vai, pela primeira vez ao chão. Entre rolamentos e risadas a descoberta de um corpo outro daquele do cotidiano, das funções exercidas na Casa. A ação também reverbera reflexões. Descobertas, equívocos. Em alguns momentos os vocacionados perdem o foco?. Parecem confundir desejos, estereótipos sobre o fazer artístico. Processo criativo e apresentação X show e evento espetacular
.  
O que é este tal Artista Vocacionado?
A Casa Amarela, oficialmente, Paço Júlio Guerra é equipamento que fomenta várias ações culturais importantes, além do Programa Vocacional. É um núcleo da comunidade que é recebida com o diálogo aberto, parceria dos coordenadores da Casa.
A CASA É NOSSA!
O que precisa nascer.
tem sua raiz em chão de casa velha.
À sua necessidade o piso cede,
estalam rachaduras nas paredes,
os caixões de janela se desprendem.
O que precisa nascer
aparece no sonho buscando frinchas no teto,
réstias de luz e ar.
Sei muito bem do que este sonho fala
e a quem pode me dar
peço coragem-
Adélia Prado
Guardadas minhas metáforas e, embora, às vezes eu ache até poético esta estrutura de casa velha (sim suas rachaduras também já me inspiraram) O que inspira agora, urgente são cuidados!!! É um espaço onde circulam muitas pessoas, além dos freqüentadores habituais, dos bailes, saraus, exposições, trabalhadores do entorno, funcionários da Subprefeitura. As atividades desenvolvidas nesse equipamento sempre concentram um montante de pessoas que, notoriamente, se sentem acolhidos e se apropriam do local. Isto é ótimo! Contudo, é evidente a precariedade de manutenção da estrutura do prédio, tão imponente, por fora, tão deteriorado por dentro. Considerado Patrimônio Cultural, que se retorne à ele, a atenção necessária para mantê-lo vivo!! Fazer , agir, cuidá-lo, antes que as paredes efetivem as verdades de suas rachaduras e fiquemos literalmente sem chão!.




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