ENSAIANDO (n)O PROGRAMA VOCACIONAL TEATRO – CEU MENINOS
São
Paulo, 15 de novembro de 2014.
Laís
Marques - Artista Orientadora do CEU
Meninos
Equipe
Sul 1 - Coordenador: Judson Cabral
ENSAIANDO (n)O PROGRAMA VOCACIONAL TEATRO – CEU MENINOS
O início é um ritual, quando todos os
participantes, numa grande roda, massageiam seus pés e acomodam-se em posturas
simples porém muitas vezes já parcialmente impossíveis de serem feitas, como
sentar sobre os joelhos flexionados ou sentir os ísqueos no chão, com as pernas
esticadas a frente.
Nesse primeiro momento, a temperatura
do encontro já se manifesta, pois são os desejos, as dúvidas, as ideias e
impressões do processo, além de uma breve revisão do encontro anterior, que se
fazem naturalmente presentes, sinalizando os primeiros acordos do “aqui” e do “agora”.
O contato com a respiração, a possibilidade de tocar algumas partes do corpo
normalmente esquecidas, a entusiasmante percepção de que uma perna tem mais
“volume” que a outra, enfim, fazem com que uma outra inteligência seja, pouco a
pouco, despertada.

Essa outra inteligência se apoia nos cinco sentidos, que
nos provocam a enxergar, escutar, sentir o cheiro, a textura e os sabores de um
espaço outro, diferente do que se tinha, que se aquece na cumplicidade do
encontro e na troca de olhares. E através do corpo, do passo a passo, a
imaginação também é convidada a criar outros espaço até então não percebidos,
quando a investigação produz outras formas, novos volumes, diferentes cores e inúmeras
sensações.
Através da ênfase nessa materialidade aparentemente banal e
normalmente “funcional”, uma vez mais o jogo se estabelece, com o estudo
delicado das pausas, palmas, linhas e agrupamentos coletivos, sem que um
comando externo ou uma combinação prévia precise ser feita. A insegurança, a timidez,
o medo de errar ou de perder alguma coisa, aos poucos, dá lugar ao prazer de
experimentar junto. E o grupo, depois dessa primeira rodada, já é capaz de
manter uma qualidade de presença refinada, tanto no nível individual quanto nas
possibilidades coletivas de “silenciar”, “preencher”, “transformar” todos os
espaços “interessantíssimos”, como preferimos nomear, que vão surgindo através
da colaboração e troca.
O Espaço e suas variáveis, emprestadas de um princípio
técnico-estético-ético, sugere inúmeras combinatórias: deslocamentos com
mudança de ritmo, experimentos entre diferentes níveis de altura, apoios
variados dos pés. Além disso, as Arquiteturas do local de trabalho são
minuciosamente exploradas, fazendo com que o solo, as paredes, os objetos observados
sejam dinamizados entre o extra-ordinário e ordinário, ampliando sucessivamente
as possiblidades de reação. Ao mesmo tempo, é através do corpo que o Espaço se
revela, é o centro de gravidade, as extremidades expressando um gesto repetido,
as silhuetas e pequenas composições, cujas dissonâncias, assimetrias,
“estranhamentos” e contaminações se tornam estímulos e possibilidades cada vez
mais desafiadoras.
Nessa defesa por um “teatro possível”, feito da articulação
radical entre Corpo e Espaço, uma perspectiva ética-estética da linguagem se
revela. Na invenção/experimentação de cada ruído, palavra, ato ou ação, o
teatro se reinventa enquanto tal, criando um vínculo mais consistente com
alguns dos seus principais elementos. Não há, contudo, qualquer intenção
“essencialista”, “ideologizada” ou mesmo “tecnicista”.
A possibilidade, finalmente, de fazer com que os
participantes se tornem espectadores mais conscientes da realização teatral como
um todo, a partir da própria experiência realizada nas orientações, é a
atividade complementar que talvez melhor os convoque a manter uma postura de
curiosidade e prazer diante do acontecimento cênico. Pois somente no
atravessamento dos mais diversos territórios, em que fronteiras não sejam
sinônimos de restrições, mas, antes, delimitações abertas ao NOVO e ao
IMPONDERÁVEL é que o Vocacionado, tanto quanto seu parceiro e cúmplice, Artista
Orientador, têm a chance de, juntos, tornarem-se os agentes e também os autores-observadores
de seus próprios ensaios.
(Passeio à Bienal, 04/10/2014)
(Visita ao Audiotour “BiNeural
MonoKultur”, 10/10/2014)
(Visita ao Casarão do Sesc Ipiranga
– exposições e performance do OPOVOEMPE “O Espelho” – 25/11/2014)
Marcadores: CEU Meninos, Equipe Sul 1., Teatro
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