terça-feira, 18 de novembro de 2014

ENSAIANDO (n)O PROGRAMA VOCACIONAL TEATRO – CEU MENINOS


São Paulo, 15 de novembro de 2014.
Laís Marques -  Artista Orientadora do CEU Meninos
Equipe Sul 1 - Coordenador: Judson Cabral

ENSAIANDO (n)O PROGRAMA VOCACIONAL TEATRO – CEU MENINOS

            O início é um ritual, quando todos os participantes, numa grande roda, massageiam seus pés e acomodam-se em posturas simples porém muitas vezes já parcialmente impossíveis de serem feitas, como sentar sobre os joelhos flexionados ou sentir os ísqueos no chão, com as pernas esticadas a frente.

            Nesse primeiro momento, a temperatura do encontro já se manifesta, pois são os desejos, as dúvidas, as ideias e impressões do processo, além de uma breve revisão do encontro anterior, que se fazem naturalmente presentes, sinalizando os primeiros acordos do “aqui” e do “agora”. O contato com a respiração, a possibilidade de tocar algumas partes do corpo normalmente esquecidas, a entusiasmante percepção de que uma perna tem mais “volume” que a outra, enfim, fazem com que uma outra inteligência seja, pouco a pouco, despertada.



Essa outra inteligência se apoia nos cinco sentidos, que nos provocam a enxergar, escutar, sentir o cheiro, a textura e os sabores de um espaço outro, diferente do que se tinha, que se aquece na cumplicidade do encontro e na troca de olhares. E através do corpo, do passo a passo, a imaginação também é convidada a criar outros espaço até então não percebidos, quando a investigação produz outras formas,  novos volumes, diferentes cores e inúmeras sensações.
Através da ênfase nessa materialidade aparentemente banal e normalmente “funcional”, uma vez mais o jogo se estabelece, com o estudo delicado das pausas, palmas, linhas e agrupamentos coletivos, sem que um comando externo ou uma combinação prévia precise ser feita. A insegurança, a timidez, o medo de errar ou de perder alguma coisa, aos poucos, dá lugar ao prazer de experimentar junto. E o grupo, depois dessa primeira rodada, já é capaz de manter uma qualidade de presença refinada, tanto no nível individual quanto nas possibilidades coletivas de “silenciar”, “preencher”, “transformar” todos os espaços “interessantíssimos”, como preferimos nomear, que vão surgindo através da colaboração e troca.









O Espaço e suas variáveis, emprestadas de um princípio técnico-estético-ético, sugere inúmeras combinatórias: deslocamentos com mudança de ritmo, experimentos entre diferentes níveis de altura, apoios variados dos pés. Além disso, as Arquiteturas do local de trabalho são minuciosamente exploradas, fazendo com que o solo, as paredes, os objetos observados sejam dinamizados entre o extra-ordinário e ordinário, ampliando sucessivamente as possiblidades de reação. Ao mesmo tempo, é através do corpo que o Espaço se revela, é o centro de gravidade, as extremidades expressando um gesto repetido, as silhuetas e pequenas composições, cujas dissonâncias, assimetrias, “estranhamentos” e contaminações se tornam estímulos e possibilidades cada vez mais desafiadoras.






Nessa defesa por um “teatro possível”, feito da articulação radical entre Corpo e Espaço, uma perspectiva ética-estética da linguagem se revela. Na invenção/experimentação de cada ruído, palavra, ato ou ação, o teatro se reinventa enquanto tal, criando um vínculo mais consistente com alguns dos seus principais elementos. Não há, contudo, qualquer intenção “essencialista”, “ideologizada” ou mesmo “tecnicista”. 





A possibilidade, finalmente, de fazer com que os participantes se tornem espectadores mais conscientes da realização teatral como um todo, a partir da própria experiência realizada nas orientações, é a atividade complementar que talvez melhor os convoque a manter uma postura de curiosidade e prazer diante do acontecimento cênico. Pois somente no atravessamento dos mais diversos territórios, em que fronteiras não sejam sinônimos de restrições, mas, antes, delimitações abertas ao NOVO e ao IMPONDERÁVEL é que o Vocacionado, tanto quanto seu parceiro e cúmplice, Artista Orientador, têm a chance de, juntos, tornarem-se os agentes e também os autores-observadores de seus próprios ensaios.



(Passeio à Bienal, 04/10/2014)




(Visita ao Audiotour “BiNeural MonoKultur”, 10/10/2014)



(Visita ao Casarão do Sesc Ipiranga – exposições e performance do OPOVOEMPE “O Espelho” – 25/11/2014)

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