segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Vocacional Teatro – CEU Parque Bristol



Vocacional Teatro – CEU Parque Bristol
Romeu, Renato, Henrique, Vera, Evelyn, Silvia, Caroline, Paulo, Jéssica, Isabela, Lucas, Willian, Bethânia, Caio, Everton, Sara, Sarah, Beatriz, Nicoly, Bianca, Nayara, Helena, Wesley, Daiane, Jonathan, Pedro, Ivete, Dieine, Andressa, Luis, Ingrid, Maria Clara, Raquel, Talita, Heloisa, Márcio, Elizabete. Até o momento foram, no mínimo, 37 encontros. Encontros de fato. Pois o olhar e a história de cada uma destas pessoas de fato me atravessaram e, talvez, a minha história e meu olhar também os tenham atravessado. Algumas destas trocas foram bastante efêmeras, algo como dois encontros de três horas cada e nada mais. O suficiente para trocarmos olhares e sorrisos e para me deixar com questões como: O que, verdadeiramente os trouxe aqui? Porque será que não voltaram? O que buscavam? Alguns poucos permaneceram, e sobre estes poucos todo tipo de pergunta surge em minha cabeça. Mas a realidade é e foi sempre o imprevisível. E a insegurança uma fiel companheira.
Encontros com dia, hora e local marcado. Eu só nunca soube com quem ou com quantos seria a troca. E o mais incrível é que mesmo diante do efêmero e da fragilidade do imprevisível, a experiência, a troca, aconteceu. O teatro é mesmo um potente fomentador de encontros. E em uma sociedade em que olhar nos olhos é uma experiência cada vez menos comum nas relações cotidianas, esse encontro proporcionado pelo teatro pode ter sim uma potência emancipatória. A questão é que este ponto de vista não é o suficiente para sanar a insegurança palpável do dia-a-dia de trabalho nas orientações.
Será que meu planejamento de encontros nunca irá me servir de nada? Como construir e manter um estado de presença, abertura e afetação para descobrir e desenvolver o que deve ser cada encontro na hora em que ele acontece? E mais, como fazer isso de maneira segura e sem se sentir uma mentira?
Essas perguntas permanecem, mas com o tempo fui aprendendo a “relaxar no abismo”. Não é um aprendizado fácil, não é uma questão resolvida. Mas com o tempo fui deixando de procurar um lugar estável que me trouxesse segurança e buscando o prazer, a verdade e o aprendizado que cada momento/encontro poderia nos proporcionar.
A despeito da reflexão e dos aprendizados construídos nesta caminhada de abril a novembro no sentido de viver com integridade o que foi possível no contexto em que estive, penso também que os problemas estruturais do programa, já tão amplamente discutidos como, por exemplo, sua duração de apenas sete meses e meio ao ano ou sua divulgação insuficiente nas comunidades em que ele acontece, são sim questões determinantes no cotidiano de artistas-orientadores e vocacionados e influenciam muito os processos vividos nos equipamentos.
Muitos dos vocacionados têm necessidade de me contarem sobre suas vidas pessoais. Seus sonhos, anseios, labutas cotidianas, relações familiares e amorosas. Como todos nós, esperam aprovações alheias. E é muito forte perceber o como seus corpos dizem muito mais do que suas palavras. Aliás, muitas vezes, os corpos dizem justo o contrário do que dizem as palavras.
Aos poucos tentei me aproximar das questões que realmente pareciam importar para alguns dos vocacionados e vocacionadas que resistiram ao tempo e a toda a efemeridade, fragilidade e imprevisibilidade deste processo. Mas nem sempre obtive sucesso neste intento, pois as barreiras são muitas e algumas delas com certeza demandariam, no mínimo, mais tempo para serem transpostas.
A diversidade é outro imperativo. Só para citar alguns exemplos: uma senhora de 53 anos e joelhos doloridos que “trabalha em casa de família”; uma adolescente de 14 anos; um índio urbano, ator, bailarino, violinista, ex-alcoólatra, evangélico de 27 anos; um tatuador de 25; um jovem evangélico de 20 anos que possuía aparentes e assumidos transtornos psíquicos. O que anseiam em comum? Como potencializar toda esta diversidade em uma orientação ao invés de sentir-se limitada por ela no momento de organizar e mediar este encontro?
Para concluir, cito também o olhar e a contribuição do coordenador de minha equipe. Olhar crítico, afiado, amoroso e generoso. É muito bom ter com quem dialogar durante um processo como esse. A conversa/desabafo com as artistas-orientadoras da equipe também foram alimento importante, mas a coordenação nos viu em ação, presenciou orientações, deu de cara com todas as questões que já abordadas aqui. O diálogo com alguém que nos observa criticamente com atenção e generosidade foi uma ilha de segurança muito significativa e bem vinda neste mar de marés diversas.

Jordana Doleres Peixoto – artista orientadora de teatro no CEU Parque Bristol

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