Vocacional Teatro – CEU Parque Bristol
Vocacional Teatro – CEU Parque
Bristol
Romeu,
Renato, Henrique, Vera, Evelyn, Silvia, Caroline, Paulo, Jéssica, Isabela,
Lucas, Willian, Bethânia, Caio, Everton, Sara, Sarah, Beatriz, Nicoly, Bianca,
Nayara, Helena, Wesley, Daiane, Jonathan, Pedro, Ivete, Dieine, Andressa, Luis,
Ingrid, Maria Clara, Raquel, Talita, Heloisa, Márcio, Elizabete. Até o momento
foram, no mínimo, 37 encontros. Encontros de fato. Pois o olhar e a história de
cada uma destas pessoas de fato me atravessaram e, talvez, a minha história e
meu olhar também os tenham atravessado. Algumas destas trocas foram bastante
efêmeras, algo como dois encontros de três horas cada e nada mais. O suficiente
para trocarmos olhares e sorrisos e para me deixar com questões como: O que,
verdadeiramente os trouxe aqui? Porque será que não voltaram? O que buscavam?
Alguns poucos permaneceram, e sobre estes poucos todo tipo de pergunta surge em
minha cabeça. Mas a realidade é e foi sempre o imprevisível. E a insegurança
uma fiel companheira.
Encontros
com dia, hora e local marcado. Eu só nunca soube com quem ou com quantos seria
a troca. E o mais incrível é que mesmo diante do efêmero e da fragilidade do
imprevisível, a experiência, a troca, aconteceu. O teatro é mesmo um potente
fomentador de encontros. E em uma sociedade em que olhar nos olhos é uma
experiência cada vez menos comum nas relações cotidianas, esse encontro
proporcionado pelo teatro pode ter sim uma potência emancipatória. A questão é
que este ponto de vista não é o suficiente para sanar a insegurança palpável do
dia-a-dia de trabalho nas orientações.
Será que meu planejamento de
encontros nunca irá me servir de nada? Como construir e manter um estado de
presença, abertura e afetação para descobrir e desenvolver o que deve ser cada
encontro na hora em que ele acontece? E mais, como fazer isso de maneira segura
e sem se sentir uma mentira?
Essas
perguntas permanecem, mas com o tempo fui aprendendo a “relaxar no abismo”. Não
é um aprendizado fácil, não é uma questão resolvida. Mas com o tempo fui
deixando de procurar um lugar estável que me trouxesse segurança e buscando o
prazer, a verdade e o aprendizado que cada momento/encontro poderia nos
proporcionar.
A
despeito da reflexão e dos aprendizados construídos nesta caminhada de abril a
novembro no sentido de viver com integridade o que foi possível no contexto em
que estive, penso também que os problemas estruturais do programa, já tão
amplamente discutidos como, por exemplo, sua duração de apenas sete meses e
meio ao ano ou sua divulgação insuficiente nas comunidades em que ele acontece,
são sim questões determinantes no cotidiano de artistas-orientadores e
vocacionados e influenciam muito os processos vividos nos equipamentos.
Muitos
dos vocacionados têm necessidade de me contarem sobre suas vidas pessoais. Seus
sonhos, anseios, labutas cotidianas, relações familiares e amorosas. Como todos
nós, esperam aprovações alheias. E é muito forte perceber o como seus corpos
dizem muito mais do que suas palavras. Aliás, muitas vezes, os corpos dizem
justo o contrário do que dizem as palavras.
Aos
poucos tentei me aproximar das questões que realmente pareciam importar para
alguns dos vocacionados e vocacionadas que resistiram ao tempo e a toda a
efemeridade, fragilidade e imprevisibilidade deste processo. Mas nem sempre
obtive sucesso neste intento, pois as barreiras são muitas e algumas delas com
certeza demandariam, no mínimo, mais tempo para serem transpostas.
A
diversidade é outro imperativo. Só para citar alguns exemplos: uma senhora de
53 anos e joelhos doloridos que “trabalha em casa de família”; uma adolescente
de 14 anos; um índio urbano, ator, bailarino, violinista, ex-alcoólatra,
evangélico de 27 anos; um tatuador de 25; um jovem evangélico de 20 anos que
possuía aparentes e assumidos transtornos psíquicos. O que anseiam em comum?
Como potencializar toda esta diversidade em uma orientação ao invés de
sentir-se limitada por ela no momento de organizar e mediar este encontro?
Para
concluir, cito também o olhar e a contribuição do coordenador de minha equipe.
Olhar crítico, afiado, amoroso e generoso. É muito bom ter com quem dialogar
durante um processo como esse. A conversa/desabafo com as artistas-orientadoras
da equipe também foram alimento importante, mas a coordenação nos viu em ação,
presenciou orientações, deu de cara com todas as questões que já abordadas
aqui. O diálogo com alguém que nos observa criticamente com atenção e
generosidade foi uma ilha de segurança muito significativa e bem vinda neste
mar de marés diversas.
Jordana Doleres Peixoto – artista orientadora de teatro no
CEU Parque Bristol
Marcadores: CEU Parque Bristol, Sul 1, Teatro
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