quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Respiração no Curuçá

Ao seu redor Jardim dos Ipes, Jardim Miragaia, Jardim Silva Teles, Jardim Maia, Vila Barbosa, Vila Mara, Vila Curuçá, Vila Pantanal. Na região de maioria nordestina, compositores, escritores, defensores do “forró pé de serra”, orgulhosos.

Artista Orientador, como nos vemos?

Qual a real visão do artista sobre o artista? Se confunde com a visão da sociedade sobre ele?
O que somos?
A perspectiva da arte na vida, a arte na vida musical, a produção artística, a pedagogia, o sistema, o espaço. O que representa para nós estes espaços, o que eles nós representamos a eles?
Não somos os descobridores, somos olhares, aqueles que podem falar o quão importante é acessar o lado sensível, acessar o caminho que a arte possibilita, o momento de estar presente, o momento de questionamento do modelo de sociedade que queremos, sobre todo lixo que consumimos, nossa palavra de incentivo ao mergulho do vocacionado e de nós mesmos, nossos questionamentos de limites, de tentativas, acertos e erros, a busca de perspectiva, de crença na realidade, na alegria do crescimento, na percepção do outro, de como o todo nos afeta, e como afetamos o todo, como não se dar conta que a técnica nos treina a fazer coisas, e nos da base prática, mas o quão vazio se torna sem a emoção, se o desejo é o fogo que cria, pode ser direcionado, o ar que eu respiro ele mesmo é que emite o som, a percepção do físico para elaborar a nota, cantando, no instrumento, intensa vontade de fazer, precisa de ânimo, precisa de força, precisa nos mover ao encontro, artista orientador/vocacionado, encontro de histórias e experiências. Esse é um mote da música, agregar, compor, recompor.

Qual o motivo da busca?

De certo que há vários, mas alguns principais é o poder da expressão, a sensação de prazer, do fazer, ser olhado, tocar, tocar o outro, abrir consciências, perspectivas, ser pleno, a escolha de tocar, porque te toca, a experiência do mergulho, a busca pelo mergulho para se encontrar naquele momento de ser o responsável, de ter comprometimento e responsabilidade, a delícia do controle do som, como a surpresa do acerto pelo erro, gerar (in)consciência, a felicidade, a inspiração, a superação, a vontade da superação, a percepção, o olhar periférico, o encontro de uma frase no mesmo lugar, a escuta, ouvir para tocar, a novidade da nova sonoridade da combinação de sons, a percepção do compasso binário, ternário, irregular, tocar pelo som, tocar com o som, a alquimia. A música sem egoísmo, a música com parceria, a música com humildade, a música que não olha cor de pele, a música que não classifica, a música que não quer saber da roupa, a música que se faz na hora, a música que se fecha os olhos, a música que pode se recriar, se rearranjar, o poder da manipulação da música, a verdade expelida, o dizer com licença poética, a flor que não é censurada por fundamentalistas, o dizer da nota bem tocada, o dizer da nota mal tocada, a risada do encontro, o orgulho, a especialização, a (des)estruturação, a revolta, o pulso a vida.
Ao longo do ano de 2015, ao pegar o trem sentido Calmon Vianna na estação Tatuapé, me perguntava qual o real sentido de ir até aquela região, tentando buscar o máximo de consciência possível, me buscando na real utilidade, do que é fazer música, e suas funções na vida. O que encontrei foi uma turma de evangélicos em sua maioria. As igrejas na região são muitas, várias a cada quarteirão, não arriscaria contabilizar a quantidade, mas, entender a função, e talvez dessa “função” poder se achar alguma explicação para esta possível “inutilidade” em que nos incluímos, pois, talvez esta tal “inutilidade” seja o que mantém a utilidade viva, talvez seja isso que sustente a paixão para se trabalhar mais um dia, mais um período. Quando faço esta reflexão, penso em tempos “remotos” onde a realidade do país eram muitos coretos, cinemas e clubes de dança, estes cinemas, que foram comprados por igrejas, teatros que perderam seu lugar, e viraram igrejas. As igrejas talvez assumam um papel acumulado, de espécies de centros culturais fundamentalistas, um possível centro integrado de “arte, cultura e psicologia”, com referência norte americana, cultura protestante americana, e seus milhares de nomes. Estas igrejas cumprem função equilíbrio em comunidades, tal qual a religião sempre o fez, mas estas, são o alento do trabalhador, hoje.

Mas o que atrai estes vocacionados às orientações de música?

São inúmeras, como algumas já foram ditas, da parte de conhecimento deste artista, que vos fala. Chegam aos CEUS, por motivos variados, mas a vontade de fazer música pode ser a sensação de plenitude, e esta sensação as igrejas sempre souberam escutar muito bem, a música sempre esteve vinculada à igreja, músicas de liturgia, ritos de passagem, seja a religião que for, é a sensação plena. Me deparei com diversas realidades, e observei com certa dor de algumas delas. O que sempre me chamou atenção é um certo comprometimento por parte de alguns vocacionados, e à medida que percebia, sempre fazia algum tipo de paralelo com a minha escolha nesta arte, e o que me trouxe até aqui, eu precisava me conectar com eles de alguma maneira. Uma vez escutei um ditado que era assim: “Tocadô de cabeça cheia não toca”, claro, porque se isso que chamamos de pleno, é estar presente, precisamos nos concentrar, e por vezes até termos certas inspirações, que é até aceitável. Mas para nos concentrarmos na música, é necessário um mínimo de atenção, e não conseguimos esse elemento pensando em outras coisas aleatória. Tocar é estar meio a um ritual, é uma física, é a ligação de mente e corpo, uma conexão de presença.
         A busca destes vocacionados com o programa na linguagem música, vem de forma muito específica, e é nas orientações que trocamos informações sobre experimentações e apresentações de outras realidades sonoras, tudo acontece nessa troca. Existe essa parceria de alguns vocacionados que conhecem canções, e outros vocacionados que se identificam com a obra de Gonzaga, mostrando este conhecer por algum lugar, seja pela vó que canta, ou a mãe, tio, avô. A perspectiva sobre a música amplia, se ramifica, se mistura, se treina, e do todo, a vontade de conhecer novos temas e reinterpreta-los se torna corriqueiro. A música instrumental se torna algo mais palatável, percebem o que é a música sem a palavra, pesquisam outras obras, sugerem, encontram outros artistas em linguagem determinada. O ponto alto das orientações e de maior dificuldade acontece com a aplicação rítmica. Tudo segue numa variação e desejos do dia por parte dos vocacionados, mas quando há uma vontade, é sugerido o que pode ser feito para chegar ao que se busca, durante as orientações existem muitos exercícios para execução do que buscamos estabelecer em conjunto. Mas tenho certeza que a prática da criação será marcada com estes vocacionados, é mais um novo caminho que se abre.


                                   
GUSTAVO BALI
Artista Orientador 2015
CEU Vila Curuçá
LESTE I
PETICIA CARVALHO

COORDENADORA DE EQUIPE

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