Respiração no Curuçá
Ao seu redor Jardim dos Ipes, Jardim Miragaia, Jardim Silva
Teles, Jardim Maia, Vila Barbosa, Vila Mara, Vila Curuçá, Vila Pantanal. Na
região de maioria nordestina, compositores, escritores, defensores do “forró pé
de serra”, orgulhosos.
Artista
Orientador, como nos vemos?
Qual a real visão do artista sobre o artista? Se confunde
com a visão da sociedade sobre ele?
O que somos?
A perspectiva da arte na vida, a arte na vida musical, a
produção artística, a pedagogia, o sistema, o espaço. O que representa para nós
estes espaços, o que eles nós representamos a eles?
Não somos os descobridores, somos olhares, aqueles que
podem falar o quão importante é acessar o lado sensível, acessar o caminho que
a arte possibilita, o momento de estar presente, o momento de questionamento do
modelo de sociedade que queremos, sobre todo lixo que consumimos, nossa palavra
de incentivo ao mergulho do vocacionado e de nós mesmos, nossos questionamentos
de limites, de tentativas, acertos e erros, a busca de perspectiva, de crença
na realidade, na alegria do crescimento, na percepção do outro, de como o todo
nos afeta, e como afetamos o todo, como não se dar conta que a técnica nos
treina a fazer coisas, e nos da base prática, mas o quão vazio se torna sem a
emoção, se o desejo é o fogo que cria, pode ser direcionado, o ar que eu
respiro ele mesmo é que emite o som, a percepção do físico para elaborar a
nota, cantando, no instrumento, intensa vontade de fazer, precisa de ânimo, precisa
de força, precisa nos mover ao encontro, artista orientador/vocacionado,
encontro de histórias e experiências. Esse é um mote da música, agregar,
compor, recompor.
Qual o
motivo da busca?
De certo que há vários, mas alguns principais é o poder da
expressão, a sensação de prazer, do fazer, ser olhado, tocar, tocar o outro,
abrir consciências, perspectivas, ser pleno, a escolha de tocar, porque te
toca, a experiência do mergulho, a busca pelo mergulho para se encontrar
naquele momento de ser o responsável, de ter comprometimento e
responsabilidade, a delícia do controle do som, como a surpresa do acerto pelo
erro, gerar (in)consciência, a felicidade, a inspiração, a superação, a vontade
da superação, a percepção, o olhar periférico, o encontro de uma frase no mesmo
lugar, a escuta, ouvir para tocar, a novidade da nova sonoridade da combinação
de sons, a percepção do compasso binário, ternário, irregular, tocar pelo som,
tocar com o som, a alquimia. A música sem egoísmo, a música com parceria, a
música com humildade, a música que não olha cor de pele, a música que não
classifica, a música que não quer saber da roupa, a música que se faz na hora,
a música que se fecha os olhos, a música que pode se recriar, se rearranjar, o
poder da manipulação da música, a verdade expelida, o dizer com licença
poética, a flor que não é censurada por fundamentalistas, o dizer da nota bem
tocada, o dizer da nota mal tocada, a risada do encontro, o orgulho, a
especialização, a (des)estruturação, a revolta, o pulso a vida.
Ao longo do ano de 2015, ao pegar o trem sentido Calmon
Vianna na estação Tatuapé, me perguntava qual o real sentido de ir até aquela
região, tentando buscar o máximo de consciência possível, me buscando na real
utilidade, do que é fazer música, e suas funções na vida. O que encontrei foi
uma turma de evangélicos em sua maioria. As igrejas na região são muitas,
várias a cada quarteirão, não arriscaria contabilizar a quantidade, mas,
entender a função, e talvez dessa “função” poder se achar alguma explicação
para esta possível “inutilidade” em que nos incluímos, pois, talvez esta tal
“inutilidade” seja o que mantém a utilidade viva, talvez seja isso que sustente
a paixão para se trabalhar mais um dia, mais um período. Quando faço esta
reflexão, penso em tempos “remotos” onde a realidade do país eram muitos
coretos, cinemas e clubes de dança, estes cinemas, que foram comprados por
igrejas, teatros que perderam seu lugar, e viraram igrejas. As igrejas talvez
assumam um papel acumulado, de espécies de centros culturais fundamentalistas,
um possível centro integrado de “arte, cultura e psicologia”, com referência
norte americana, cultura protestante americana, e seus milhares de nomes. Estas
igrejas cumprem função equilíbrio em comunidades, tal qual a religião sempre o
fez, mas estas, são o alento do trabalhador, hoje.
Mas o
que atrai estes vocacionados às orientações de música?
São inúmeras, como algumas já foram ditas, da parte de
conhecimento deste artista, que vos fala. Chegam aos CEUS, por motivos
variados, mas a vontade de fazer música pode ser a sensação de plenitude, e
esta sensação as igrejas sempre souberam escutar muito bem, a música sempre
esteve vinculada à igreja, músicas de liturgia, ritos de passagem, seja a
religião que for, é a sensação plena. Me deparei com diversas realidades, e
observei com certa dor de algumas delas. O que sempre me chamou atenção é um
certo comprometimento por parte de alguns vocacionados, e à medida que
percebia, sempre fazia algum tipo de paralelo com a minha escolha nesta arte, e
o que me trouxe até aqui, eu precisava me conectar com eles de alguma maneira.
Uma vez escutei um ditado que era assim: “Tocadô de cabeça cheia não toca”,
claro, porque se isso que chamamos de pleno, é estar presente, precisamos nos
concentrar, e por vezes até termos certas inspirações, que é até aceitável. Mas
para nos concentrarmos na música, é necessário um mínimo de atenção, e não
conseguimos esse elemento pensando em outras coisas aleatória. Tocar é estar
meio a um ritual, é uma física, é a ligação de mente e corpo, uma conexão de
presença.
A busca
destes vocacionados com o programa na linguagem música, vem de forma muito
específica, e é nas orientações que trocamos informações sobre experimentações
e apresentações de outras realidades sonoras, tudo acontece nessa troca. Existe
essa parceria de alguns vocacionados que conhecem canções, e outros
vocacionados que se identificam com a obra de Gonzaga, mostrando este conhecer
por algum lugar, seja pela vó que canta, ou a mãe, tio, avô. A perspectiva
sobre a música amplia, se ramifica, se mistura, se treina, e do todo, a vontade
de conhecer novos temas e reinterpreta-los se torna corriqueiro. A música
instrumental se torna algo mais palatável, percebem o que é a música sem a
palavra, pesquisam outras obras, sugerem, encontram outros artistas em
linguagem determinada. O ponto alto das orientações e de maior dificuldade
acontece com a aplicação rítmica. Tudo segue numa variação e desejos do dia por
parte dos vocacionados, mas quando há uma vontade, é sugerido o que pode ser
feito para chegar ao que se busca, durante as orientações existem muitos
exercícios para execução do que buscamos estabelecer em conjunto. Mas tenho
certeza que a prática da criação será marcada com estes vocacionados, é mais um
novo caminho que se abre.
GUSTAVO BALI
Artista Orientador 2015
CEU Vila Curuçá
LESTE I
PETICIA CARVALHO
COORDENADORA DE EQUIPE
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