CORPO_EM_TRÂNSITO
Claudia
Palma
Ensaio Pesquisa 2014
Desde de que integrei a equipe do vocacional em 2010, tenho me interessado pelos
deslocamentos que o programa propõe. Logo penso em corpo, minha linguagem....
O corpo propõe, transita, experimenta, processa, movimenta, o CORPO DANÇA.
Procuro desde então buscar sentido para as coordenações que tenho feito até o
momento presente, ou seja, venho fazendo uma reflexão do meu processo artístico
enquanto artista independente da cidade
de São Paulo e deste programa. Parece que transitar
pelos espaços também tem sido uma proposta interessante não só para mim como coordenadora, mas também para
quem passa pela equipe Leste 1 desde então.
Como penso em fluxo continuo, provoco nas equipes desejos que perpassam por essa região. O que nos move? Por este e
outros motivos surgiram e permaneceram como proposta de pesquisa o “Trem espaço poético”. Ressalto esta
ação porque foi a partir dela o impulso propulsor para outras tantas possibilidades de pesquisa
enquanto processo da equipe Leste 1.
A ação
Cultural - nomadismo - no espaço público passa a tomar papel relevante para a equipe como processo e pesquisa. Transitar!
Passear, perpassar....
MO VER SE! E SE
VER SE
A "Ação Cultural como conceito agarra-se diretamente a
produção simbólica de um grupo, à pratica, reflexão
e apropriação dos seus meios e modos de produção. Além da simples propagação de
produtos institucionalizados ou
midiatizados e da mera formação de técnicos de espetáculos, a ação cultural tateia a possibilidade
intrínseca de inserir-se no mundo e
começar uma história própria”. (Arendit 2003 p. 199)
O desejo da
equipe... criar disposições flexíveis,
impulsionar indivíduos à produções de novas subjetividades e construções de
sentidos, em processos emancipatórios capazes
de constelar novas possibilidades de ser
e estar no mundo.(Material Norteador).
Percebi que uma saída para minhas inquietações para
entender o espaço público, processos
artísticos entre outros do material norteador, seria investir nas ações culturais e no nomadismo nos espaços públicos
- a cartografia
como proposta de uma possível experiência corporal, experenciar o corpo
em trânsito e dele perceber seus deslocamentos, para
onde, porque, como e para que ir? A meta são as investigações dos Processos Artísticos da equipe em fluxo
contínuo que o programa propõe.
Dentro da Cartografia e do Nomadismo, venho tentando
entender, questionando, procurando respostas e sentidos para os não sentidos e
as contradições que perpassam pelos
conceitos dos textos apresentados durante o ano.
O que é ser Nômade?
Somos nômades?
"A
vida do nômade é intermezzo; é na borda que se dão os contatos, é na margem que
estão abertas as possibilidades, é aí, justamente neste não-lugar, que é
também, intensivo e afetivo, que a articulação com o fora permite uma
produção nomádica da existência e a
emergência do singular. É nômade todo processo
(político, coletivo, individual, psíquico e etc...)" Material norteador
Transitar é o corpo
experenciar, possibilitar passagens de
estados, memórias e sensações. O corpo escolhe sua direção, define seus caminhos, por
vezes pode parar, observar, mas seguir...
Transitar
entre dentro e fora fica então uma experiência como primeira
condição da Equipe.
"A experiência, a
possibilidade de algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de
interrupção... dar-se tempo e espaço... O que nos passa, o sujeito da experiência
seria algo como um território de passagem, algo como uma superfície sensível que
aquilo que acontece afeta de algum modo, produz alguns afetos, inscreve algumas
marcas, deixa alguns vestígios, alguns efeitos...
A
experiência é o que nos passa ,o que nos acontece o que nos toca." (Larrosa)
Experimentar o transitar!
Começo o ano de
2014 fazendo a reunião de equipe em uma
padaria do centro da região da Penha.O
motivo foi, porque não tínhamos uma sala dentro do horário que a equipe se
dispôs a começar suas reuniões, 9h da manhã, no Centro Cultural da Penha. Isto
fez com que encontrássemos um solução imediata. Foi então que nossas reuniões começaram
a ser marcadas em pontos de padarias do
bairro da Penha e também no centro da cidade de São Paulo. Metade da reunião
fora, metade dentro do equipamento.
A pesquisa às vezes se dá sem mesmo precisar fazer grande esforço para buscá-la... O que tentamos foi dar sentido ao que estava acontecendo e tirar proveito da situação. Às
vezes, está embaixo dos nossos próprios olhos... É
preciso abrir espaço para a percepção! O
trânsito já estava ocorrendo! Reunião
era regada por afetos, O que nos alimenta?
Por vezes o
entorno de um equipamento dá mais
possibilidades de compreendê-lo do que se fixar dentro dele. Entender o
entorno... As bordas... Mais uma vez é preciso transitar -mover-se! Perceber-se
na paisagem.
Estar em trânsito, em deslocamento constante, onde o
trajeto se modifica a cada encontro, hora
num lugar hora noutro, permite que a
equipe provoque questionamentos.
O espaço modifica meu encontro?
O trajeto modifica meu corpo?
Quem passa? O que
passa?
Quem vem e quem vai?
De qual paisagem você faz parte?
O entorno dialoga
com essa arquitetura fria, rígida de concreto?
O que dialoga com você?
Que língua você fala?
O que te alimenta?
São algumas questões que permearam a Leste 1 em
2014.
Nos interessamos
pela possibilidade do Nomadismo ser o mote adotado como pesquisa para a equipe neste ano e deixar com que as orientações fossem contaminadas
pelo tema, possibilitando um maior diálogo entre equipe, vocacionados e
equipamentos. Várias ações então a partir dessa proposição foram efetuadas ao
longo do ano.
"O grande feito do nômade é sua capacidade de se territorializar na própria desterritorialização. A construção de novos territórios (existenciais) pelo nômade não retorna sempre aos espaços de outrora,mas perfaz um movimento de territorialização, na medida em que abandona os territórios atuais para a construção dos novos." (Material Norteador)
Identifico enquanto processo um corpo nômade, aquele que esta sempre se desterritorializando e conquistando novos territórios sem mesmo abandoná-los. A cada retorno ele volta modificado, transformado! Permite-se aos atravessamentos contínuos, experimentando sensações, memórias, se apropriando e desapropriando... O nômade está no lugar deste trânsito, entre o dentro e o fora.
Como também um cartógrafo, o artista é um cartógrafo , ele pode se interessar em acompanhar movimentos de transformações da paisagem, o artista cria e recria constantemente para si um corpo poroso e permeável a afetos.
As ações mobilizam o corpo - A equipe!
Ser Nômade para ter o trânsito!
O corpo é nômade?
A deriva pode ser um processo?
Será que o nômade é emancipado?
Nomadizar o pensamento!
PERFURAR COM DELICADEZA!
Surge com os encontros nas padarias o desejo de nomear nossa primeira ação Territórios da dança como "Pão na chapa". Essa ação foi realizada no CEU Aricanduva, mobilizando aproximadamente sessenta artistas vocacionados logo no inicio do programa de 2014. Para uma primeira ação, percebi o comprometimento dos vocacionados com os Artistas Orientadores, entrando nos afetos. Nesse encontro, foram realizados vários procedimentos que passaram a ser disparadores para processos futuros e integração da equipe toda ao longo do ano.
I Territórios da dança - Pão na chapa
Café da manhã pela região da Penha - Reunião artístico-pedagógica
Reunião artístico-pedagógica no Centro de São Paulo
O trânsito
permite o entendimento do entorno e das bordas.
ESPAÇO
ENTRE.
A partir das ações e de todos os deslocamentos, trânsitos
da equipe, surgem desejos de visitações
em espaços culturais da cidade de São Paulo como, Banco do Brasil com a exposição do Iberê
Camargo e Obsessão infinita da artista Yayoi Kusama no Instituto Tomie Ohtake.Minha
relação com as artes plásticas sempre foi intensa e curiosa,tem sido uma grande fonte de inspiração para
investigações de processos, novas possibilidades
e perspectivas em relação a minha dança.Na exposição do Iberê,muitas questões
vieram a tona por causa dos processos apresentados em sua exposição.Em um dos
andares assistimos um vídeo onde Iberê pinta incansavelmente uma tela, que fica perceptível
sua força e tamanha intensidade nas
camadas colocadas em seu quadro. Pintar, repintar,revelar,velar...eram ações
muito fortes no seu trabalho.
AS CAMADAS.
"A memória é a gaveta dos guardados...Nós
somos o que somos, não o que virtualmente seriamos capazes de ser...Só podemos
ver as coisas com clareza e nitidez porque temos um passado. O momento é cheio
de uma totalidade. Somos alguém envolvido pelas coisas, envolvido pelos
componentes físicos. O que me prende não é a nomenclatura dos elementos mas o
próprio envolvimento... Pensamos que
tudo apareceu revelado,e de fato revelou-se”. A
criação é um desdobramento continuo ,em um uníssono com a vida. A verdade da obra é a
expressão que ela transmite. Nada mais do
que isso.
Escrever pode ser ou
é,a necessidade de tocar a
realidade que é a única segurança de estar no mundo - o existir: É difícil, se
não impossível, precisar quando as coisas começam dentro de nós (PROCESSO).
Há pintores que são permanentemente prenhes, parindo
ninhadas ,como era o caso de Picasso.Eu,antes de iniciar a viagem - o
quadro-,consulto minha bussola interior e traço o rumo. Mas quando estou no
mar grosso, sempre sopra um vento forte que me desvia da rota preestabelecida e
me leva a descobrir o novo...” Iberê Camargo
Quais são nossas camadas
enquanto processo de criação?
Quais as camadas do corpo na e em criação?
Quais as camadas de uma dança?
Apesar de haver transformações no decorrer de um processo, qual a ideia ou
forma que insiste em ficar?
![]() |
Iberê Camargo |
A
Resposta também é uma interrogação...!
Deixar
ventar para descobrir o novo! Deixar desviar...!
Embora pense como coordenadora a continuidade desses
processos de quatro anos, fica claro que ventos sopram a cada ano,
diferentemente!
Já na exposição da Yayoi Kusana, percebe-se mais a espetacularidade do que a profundidade proposta
em relação ao Iberê,claro que como uma visão da equipe. Grandes filas se
formaram para ver o que era o espetácular,as bolinhas ou sua obsessão por falo,quase
um entretenimento. Essa obsessão tambem é representada por uma frequência
formal de círculos, redes de pontos,padrões ritmados.As interações e espelhamentos
desvendam a maneira peculiar da artista ver o mundo e a arte.
O que a mídia interfere na obra?
O que é o espetáculo?
O
que de fato nos toca?
ESPECTACULARIZAÇÃO!
Yayoi Kusama
Estrutura em trânsito - provocação - artista-orientador -
TJ - II Territórios da Dança
Construção do Mapa
das ações ao longo do ano. Cartografia.
CORPO
– APROPRIAÇÀO – PENSAMENTO
Pensamento-
corpo- apropriação – corpo- pensamento—apropriação...! Desordem.
ESTADO DE ESPIRITO POROSO = NOMADISMO = DESLOCAMENTO.
Paisagem das manhãs
de segundas-feiras - Reunião artístico-pedagógica
Mudar o cotidiano, sair da rotina. Ver a paisagem, a
cidade sobre outras perspectivas. Mudar o foco.
Musica da língua do P. Padaria, processo, procedimento, pedagogia... Na
padaria.
Que língua você fala?
Guardar, dobrar...! Reflexão poética do fazer.
Dispositivo, disparador, desdobramento.
O que chama a atenção da equipe é que a partir desse
ano surgem novos grupos de dança com vocacionados na região. Acreditamos que este
fato se dê pelo fortalecimento da rede das ações provocadas pela Equipe Leste 1.
O corpo em trânsito.
O III Território
da Dança é a junção e a resposta de todas essas ações.
Mas a questão é sempre essa: O que virá?
PARA
ONDE APONTA?
Claudia
Palma é artista coordenadora de dança do programa Vocacional, Equipe leste1.
Diretora da iN SAiO Cia. de Arte, companhia independente da
cidade de São Paulo. Graduada em Educação Física, professora do curso de Pós
Graduação em dança e consciência corporal
na FMU, Estácio de Sá e São Caetano do Sul.
Equipe Leste 1
Allyson Mendes - Teatro Zanoni Ferriti
Igor Gasparini - CEU Formosa
Frank Aguilar - Centro Cultural da Penha
Enoque Santos - CEU Quinta do Sol
Thais Ponzoni - CEU Aricanduva
TJ - CEU Tiquatira
Referências
Bibliográficas
Rolnik, Suely. Cartografia Sentimental.
Larrosa,Jorge Bondia. Notas sobre a experiência e o
saber de experiência.
Material norteador - Programa Vocacional
Exposição Iberê Camargo
Yayoi Kusama - Obsessão infinita.
Marcadores: Claudia Palma, Dança, Equipe Leste 1, trânsito
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