sexta-feira, 21 de novembro de 2014

CORPO_EM_TRÂNSITO
Claudia Palma
Ensaio Pesquisa 2014

Desde de que integrei a equipe do  vocacional em 2010, tenho me interessado pelos deslocamentos que o programa propõe. Logo penso em corpo, minha linguagem.... O corpo propõe, transita, experimenta, processa, movimenta, o CORPO DANÇA. Procuro desde então buscar sentido para as coordenações que tenho feito até o momento presente, ou seja, venho fazendo uma reflexão do meu processo artístico enquanto  artista independente da cidade de São Paulo e deste programa. Parece que transitar pelos espaços também tem sido uma proposta interessante não só para mim como coordenadora, mas também para quem passa pela equipe Leste 1 desde então.
Como penso em fluxo continuo, provoco nas equipes desejos que perpassam  por essa região. O que nos move? Por este e outros motivos surgiram e permaneceram como proposta de pesquisa o “Trem espaço poético”. Ressalto esta ação porque foi a partir dela o impulso propulsor para outras tantas possibilidades de pesquisa enquanto processo da equipe Leste 1.
A ação Cultural - nomadismo - no espaço público passa a tomar papel relevante para a equipe como processo e pesquisa. Transitar! Passear, perpassar....

MO   VER     SE!           E            SE   VER   SE

A "Ação Cultural como conceito agarra-se diretamente a produção simbólica de um grupo, à pratica, reflexão e apropriação dos seus meios e modos de produção. Além da simples propagação de produtos institucionalizados  ou midiatizados e da mera formação de técnicos de espetáculos, a ação cultural tateia a possibilidade intrínseca  de inserir-se no mundo e começar uma história própria”. (Arendit 2003 p. 199)

O desejo da equipe...  criar disposições flexíveis, impulsionar indivíduos à produções de novas subjetividades e construções de sentidos, em processos emancipatórios capazes de constelar novas possibilidades  de ser e estar no mundo.(Material Norteador).

Percebi que uma saída para minhas inquietações para entender o espaço público, processos artísticos entre outros do material norteador, seria investir nas  ações culturais e no nomadismo nos espaços públicos - a cartografia como proposta de uma possível experiência corporal, experenciar o corpo em trânsito e dele perceber seus deslocamentos, para onde, porque, como e para que ir? A meta são as investigações dos Processos Artísticos da equipe em fluxo contínuo que o programa propõe.

Dentro da Cartografia e do Nomadismo, venho tentando entender, questionando, procurando respostas e sentidos para os não sentidos e as contradições que perpassam pelos conceitos dos textos apresentados durante o ano.
O que é ser Nômade?
Somos nômades?

"A vida do nômade é intermezzo; é na borda que se dão os contatos, é na margem que estão abertas as possibilidades, é aí, justamente neste não-lugar, que é também, intensivo e afetivo, que a articulação com o fora permite uma produção nomádica da existência e a emergência do singular. É nômade todo processo (político, coletivo, individual, psíquico e etc...)" Material norteador

Transitar  é o corpo experenciar, possibilitar passagens de estados, memórias e sensações. O corpo escolhe sua direção, define seus caminhos, por vezes pode parar, observar, mas seguir...

Transitar entre dentro e fora fica então uma experiência como primeira condição da Equipe.

"A  experiência, a possibilidade de algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção... dar-se tempo e espaço... O que nos passa, o sujeito da experiência seria algo como um território de passagem, algo como uma superfície sensível que aquilo que acontece afeta de algum modo, produz alguns afetos, inscreve algumas marcas, deixa alguns vestígios, alguns efeitos...
A experiência é o que nos passa ,o que nos acontece o que nos toca." (Larrosa)

Experimentar o transitar!

Começo o ano de 2014  fazendo a reunião de equipe em uma padaria do centro da região da Penha.O motivo foi, porque não tínhamos uma sala dentro do horário que a equipe se dispôs a começar suas reuniões, 9h da manhã, no Centro Cultural da Penha. Isto fez com que encontrássemos um solução imediata. Foi então que nossas reuniões começaram a ser marcadas em pontos de padarias do bairro da Penha e também no centro da cidade de São Paulo. Metade da reunião fora, metade dentro do equipamento.

A pesquisa às vezes se dá sem mesmo precisar fazer grande esforço para buscá-la... O que tentamos foi dar sentido ao que estava acontecendo e tirar proveito da situação. Às vezes, está embaixo dos nossos próprios olhos... É preciso abrir espaço para a percepção!  O trânsito já estava ocorrendo! Reunião era regada por afetos, O que nos alimenta?

Por vezes o  entorno de um equipamento dá mais possibilidades de compreendê-lo do que se fixar dentro dele. Entender o entorno... As bordas... Mais uma vez é preciso transitar -mover-se! Perceber-se na paisagem.

Estar em trânsito, em deslocamento constante, onde o trajeto se modifica a cada encontro, hora num lugar hora noutro, permite que a equipe provoque questionamentos.

O espaço modifica meu encontro?
O trajeto modifica meu corpo?
Quem passa? O que passa?
Quem vem e quem vai?
De qual paisagem você faz parte?
O  entorno dialoga com essa arquitetura fria, rígida de concreto?
O que dialoga com você?
Que língua você fala?
O que te alimenta?

São algumas questões que permearam a Leste 1 em  2014.

Nos interessamos pela possibilidade do Nomadismo ser o mote adotado como pesquisa para a  equipe neste ano e deixar com que as orientações fossem contaminadas pelo tema, possibilitando um maior diálogo entre equipe, vocacionados e equipamentos. Várias ações então a partir dessa proposição foram efetuadas ao longo do ano.


"O grande feito do nômade é sua capacidade de se territorializar na própria desterritorialização. A construção de novos territórios (existenciais) pelo nômade não retorna sempre aos espaços de outrora,mas perfaz um movimento de territorialização, na medida em que abandona os territórios atuais para a construção dos novos." (Material Norteador)

Identifico enquanto processo um corpo  nômade, aquele que  esta sempre se desterritorializando e conquistando novos territórios sem mesmo abandoná-los. A cada retorno ele volta modificado, transformado! Permite-se aos atravessamentos contínuos, experimentando  sensações, memórias, se apropriando e desapropriando... O nômade está no lugar deste trânsito, entre o dentro e o fora.

Como também um cartógrafo, o  artista é um cartógrafo , ele pode se  interessar em acompanhar movimentos de transformações da paisagem, o artista cria e recria constantemente para si um corpo poroso e permeável a afetos.

As ações mobilizam o corpo -  A equipe!
Ser  Nômade para ter o trânsito!
O corpo é nômade?
A deriva pode ser um processo?
Será que o nômade é emancipado?
Nomadizar o pensamento!

PERFURAR COM DELICADEZA!

Surge com os encontros nas padarias o desejo de nomear nossa primeira ação Territórios da dança como "Pão na chapa". Essa ação foi realizada no CEU Aricanduva, mobilizando aproximadamente sessenta artistas vocacionados logo no inicio do programa de 2014. Para uma primeira ação, percebi o comprometimento dos vocacionados com os Artistas Orientadores, entrando nos afetos. Nesse encontro, foram realizados vários procedimentos que passaram a ser disparadores para processos futuros e  integração da equipe toda ao longo do ano.


I Territórios da dança - Pão na chapa 


Café da manhã pela região da Penha - Reunião artístico-pedagógica

Reunião artístico-pedagógica no Centro de São Paulo


O trânsito permite o entendimento do entorno e das bordas.
ESPAÇO ENTRE.

A partir das ações e de todos os deslocamentos, trânsitos  da equipe, surgem desejos de visitações em espaços culturais da cidade de São Paulo como,  Banco do Brasil com a exposição do Iberê Camargo e Obsessão infinita da artista Yayoi Kusama no Instituto Tomie Ohtake.Minha relação com as artes plásticas sempre foi intensa e curiosa,tem sido  uma grande fonte de inspiração para investigações de processos, novas  possibilidades e perspectivas em relação a minha dança.Na exposição do Iberê,muitas questões vieram a tona por causa dos processos apresentados em sua exposição.Em um dos andares assistimos um vídeo onde Iberê pinta  incansavelmente uma tela, que fica perceptível  sua força e tamanha intensidade nas camadas colocadas em seu quadro. Pintar, repintar,revelar,velar...eram ações muito fortes no seu trabalho. 
AS CAMADAS.

"A  memória é a gaveta dos guardados...Nós somos o que somos, não o que virtualmente seriamos capazes de ser...Só podemos ver as coisas com clareza e nitidez porque temos um passado. O momento é cheio de uma totalidade. Somos alguém envolvido pelas coisas, envolvido pelos componentes físicos. O que me prende não é a nomenclatura dos elementos mas o próprio envolvimento... Pensamos que tudo apareceu revelado,e de fato revelou-se”. A criação é um desdobramento continuo ,em um uníssono  com a vida. A verdade da obra é a expressão que ela transmite. Nada mais do que isso.
Escrever pode ser ou  é,a necessidade de  tocar a realidade que é a única segurança de estar no mundo - o existir: É difícil, se não impossível, precisar  quando as coisas começam dentro de nós (PROCESSO).
Há pintores que são permanentemente prenhes, parindo ninhadas ,como era o caso de Picasso.Eu,antes de iniciar a viagem - o quadro-,consulto minha bussola interior e traço o rumo. Mas quando estou no mar grosso, sempre sopra um vento forte que me desvia da rota preestabelecida e me leva a descobrir o novo...”  Iberê Camargo

Quais são nossas camadas enquanto processo de criação?
Quais as camadas do corpo na e em criação?
Quais as camadas de uma dança?
Apesar de haver transformações no decorrer de um processo, qual a ideia ou forma que insiste em ficar?


Iberê Camargo



A Resposta também é uma interrogação...!
Deixar ventar para descobrir o novo! Deixar desviar...!

Embora pense como coordenadora a continuidade desses processos de quatro anos, fica claro que ventos sopram a cada ano, diferentemente!
Já na exposição da Yayoi Kusana, percebe-se mais a espetacularidade do que a profundidade proposta em relação ao Iberê,claro que como uma visão da equipe. Grandes filas se formaram para ver o que era o espetácular,as bolinhas ou sua obsessão por falo,quase um entretenimento. Essa obsessão tambem é representada por uma frequência formal de círculos, redes de pontos,padrões ritmados.As interações e espelhamentos desvendam a maneira peculiar da artista ver o mundo e a arte.

O que a mídia interfere na obra?
O que é o espetáculo?
O que de fato nos toca?


ESPECTACULARIZAÇÃO!

Yayoi Kusama

Algumas questões surgiram e permaneceram neste ano de 2014 colaborando e alimentando as pesquisas dos Artistas Orientadores e por consequência vocacionados.


Estrutura em trânsito - provocação - artista-orientador - TJ - II Territórios da Dança



 Construção do Mapa das ações ao longo do ano. Cartografia.



CORPO – APROPRIAÇÀO – PENSAMENTO
Pensamento- corpo- apropriação – corpo- pensamento—apropriação...! Desordem.

ESTADO DE ESPIRITO POROSO = NOMADISMO = DESLOCAMENTO.

ESTRUTURA EM TRANSITO É UM DISPARADOR PARA CRIAR DESLOCAMENTOS NO CORPO, SEJA ELE DA  EQUIPE OU  PROGRAMA.


Paisagem das manhãs de segundas-feiras - Reunião artístico-pedagógica

Mudar o cotidiano, sair da rotina. Ver a paisagem, a cidade sobre outras perspectivas. Mudar o foco.

Musica da língua do P. Padaria, processo, procedimento, pedagogia... Na padaria. 
Que língua você fala?


Guardar, dobrar...! Reflexão poética do fazer.
Dispositivo, disparador, desdobramento.


O que chama a atenção da equipe é que a partir desse ano  surgem novos grupos de dança com  vocacionados na região. Acreditamos que este fato se dê pelo fortalecimento da rede das ações provocadas pela Equipe Leste 1.
O corpo em trânsito.

O III Território da Dança é a junção e a resposta de todas essas ações.
Mas a questão é sempre essa: O que virá?

PARA ONDE APONTA?




Claudia Palma é artista coordenadora de dança do programa Vocacional, Equipe leste1.
Diretora da iN SAiO Cia. de Arte, companhia independente da cidade de São Paulo. Graduada em Educação Física, professora do curso de Pós Graduação em dança e consciência corporal  na FMU, Estácio de Sá e São Caetano do Sul.

Equipe Leste 1
Allyson Mendes - Teatro Zanoni Ferriti
Igor Gasparini - CEU Formosa
Frank Aguilar - Centro Cultural da Penha
Enoque Santos - CEU Quinta do Sol
Thais Ponzoni - CEU Aricanduva
TJ - CEU Tiquatira

Referências Bibliográficas
Rolnik, Suely. Cartografia Sentimental.
Larrosa,Jorge Bondia. Notas sobre a experiência e o saber de experiência.
Material norteador - Programa Vocacional
Exposição Iberê Camargo
Yayoi Kusama - Obsessão infinita.



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