quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Procedimento, Processo, Produto!


 
 
 
Artista orientador Ernandes Alves de Araújo
Linguagem: Teatro
Equipe: Centro Oeste


Um trampolim! Para novos saltos! Ou quem sabe” como abrir portas para que um anjo passe em nossas vidas” ! ( Anatoli Vassiliev)

Saltar desse trampolim altíssimo : O desconhecido. Ir em busca de um procedimento que possibilite abertura para experimentação de outras premissas para pensar a cena, ou permanecer na razoável zona de conforto, seguindo a cartilha dos jogos teatrais? Dentro dessa perspectiva me propus neste 2014, a repensar meu repertório, a tatear, tentar, inventar e principalmente instigar os artistas vocacionados a experimentar um caminho menos previsível do jogo teatral.

Para isso, foi necessário, abandonar esse lugar perigoso da reprodução do real, da cópia dos clichês televisivos, para buscar o risco, o perigo, o desafio, lançar-se pelo espaço, sem a necessidade de construir enredos, apenas uma escrita poética com seu corpo. A aventura desse primeiro momento, foi potencializar corpos endurecidos pelo cotidiano, buscar um corpo flexível, poroso , receptivo, por sensações e ressignificações de si e do outro.
Como instaurar processos em turmas com vocacionados flutuantes? Vocacionados instantâneos, que surgem e desaparecem na mesma velocidade da luz! Uma questão delicada, que fragiliza a ideia de processos contínuos, que ao final resultam em um produto. Essa palavra ascende a luz nos olhos deles, que querem o produto teatral, a peça, se possível sem a necessidade de processos criativos, longos e difíceis, ou seja sem o meio, só inícios e fins.
Dentro dessa instantaneidade real e inerente do projeto, escolhi investigar procedimentos que verticalizassem a pesquisa corporal, sonora, espacial, e cada procedimento em si, era também uma pesquisa estética, constituía uma linguagem, possuía uma formalização em sua construção, que segue um lógica simples, criar individualmente, selecionar, e mostrar o material pesquisado.


Esse percurso criativo permitiu ao final de cada procedimento, um resultado estético a ser apreciado por todos que experienciaram e juntos construíram pequenos instantes teatrais, assim a palavra processo está contida nessa pesquisa desse dia, está embutida na capacidade de construção, e de elaboração de novos sentidos e significados que cada procedimento imprime no corpo de cada um, e na possibilidade de fruição de todos que são ao mesmo tempo espectá-atores.
 
Possibilidades : Composição poética do corpo
 
 
 
 

Entre as diversas técnicas corporais que estão a serviço de uma linguagem específica, abordagem escolhida estava alinhada aos estudos de Comunicação e Semiótica, cunhada pela professora Helena Katz, “como Corpomídia", um corpo que não é apenas recipiente das informações”,¹ ao contrário, ele processa e devolve ao mundo o conhecimento gerado, numa troca constante e simultânea com a realidade, um corpo que é sujeito de sua história, ativo e atuante no meio social em que está inserido.
 
 
Este pensamento permitiu, que os Artistas-Vocacionados desenvolvessem uma percepção maior de seus corpos, de sua individualidade, de sua identidade cultural, estabelecendo conexões espaciais e sociais. Gerando um corpo expressivo que comunica a sua singularidade e a sua poética. 
O ponto de partida inicial foi buscar impulsos e estímulos que permitisse o corpo a sair dos seus automatismos, que abrisse a cortina para o novo, uma nova forma de dizer e expressar os paradoxos do ser. Desafio para ressignificar sentimentos, palavras, desejos com o corpo, potencializar o corpo como expressão máxima do verbo, a palavra nesse momento foi suspensa dos procedimentos.
Como forma e conteúdo estão atrelados na criação artística, os corpos em movimentos foram construindo imagens, pequenos instantes dramáticos. Por exemplo: Um dos exercícios usados no aquecimento, foi escrever o nome usando o próprio corpo no espaço. Esse simples enunciado do exercício liberava os vocacionados a se lançarem no espaço livremente, aos poucos outras camadas eram lançadas aumentando a complexidade do mesmo.
A questão do tempo/ritmo, lento, normal, rápido, pausado, ou então escrever com sensações de frio, calor, sede, fome, medo, raiva, triste, apaixonado, abandonado, flutuando, enfim todas as gamas de sensações foram explorados, e todas eram vivenciadas de maneira única, particular, onde as singularidades dos corpos eram evidenciados e toda descoberta era saudada como uma dança pessoal e intransferível.
Outras experimentações foram realizadas : corpos que atravessavam o espaço/cenário : O deserto, a chuva, o dilúvio, a lama, o amor, a solidão, a alegria, a paixão, e toda sorte de combinações foram vivenciados, e aos poucos, esses corpos foram se apoderando do seu poder de comunicação, e foram surgindo coros que eram alegorias: O medo, a velhice, a solidão, o perigo. Essa composição resultou em uma movimentação cênica para Instalação poética : CHAMA.
 
 
 
 
Corpo e sua composição no Espaço
 
 
 

 
Outra instância do trabalho se deu na exploração do corpo e a sua relação no Espaço, um corpo que soma, que imprime significados quando se relaciona nesse ambiente. Aumentar a sua consciência dos signos e significados que o corpo possibilita no espaço teatral.
Potencializar a sua capacidade de compor imagens e relações com o espaço e os outros corpos. Estes procedimentos permitiram o lúdico como componente fundamental para criação, de figuras urbanas no contexto da cidade, da metrópole, que se configurou
o tema escolhido para pesquisa cênica.
 



 
Tema: Cidade e suas Figuras Urbanas
                                                                                                                                           

 
                    
Com essa gama de material levantados, o cotidiano era o meio e não o fim, para entender o os mecanismos que estavam por trás disto, ou deste grande tema que foi o mote para pesquisa teatral: A cidade e as suas figuras urbanas.



Assim, conceitos como veracidade, unidade, linearidade, cópia ou imitação do real, se distanciaram naturalmente, dando espaço para o inusitado, o desconhecido a ser jogado, vivido como tema do ensaio, a busca não era levantar cenas para o espetáculo, e sim estetizar os instantes teatrais que foram formulados a partir dos procedimentos, que em si continham uma expressividade cênica. Portanto, não haveriam a necessidade de construção de enredos que justificassem a sua existência, pois em si mesmo, eles continham uma célula dramatúrgica, uma organicidade, que sinalizava a sua potencialidade criativa.


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 Corpos+ Espaço+ Objetos =Instalação Cênica
 

Outro componente importante que abriu portas para criação desses instantes cênicos, foi a entrada de objetos e a relação ou estranhamento que poderiam causar com a sua presença, e também a sua ressignificação, ampliaram as possibilidades do jogo, onde guarda-chuvas se tornaram paraquedas, ou pedras opressoras, espadas ou revólveres, bichos de estimação viraram filhos, monstros, caixas viraram obstáculos a serem transpostos.  Eles, os objetos se tornaram suportes fundamentais para a formalização de uma ideia, de uma imagem, permitindo a constituição de uma linguagem que se desvelava. 

Esse campo da linguagem, que foi surgindo dentro do processo, mas ainda não havia elementos suficientes para entendê -la, porque ela não foi um norte perseguido ou buscado durante a pesquisa, A linguagem nasceu dessa experiência diária da prática dos procedimentos, que viraram pilares do processo, que ao final resultaram em um produto estético, a ser apreciado em si mesmo, e não apenas como material para construção de cenas ou personagens.
 
 
Porque os procedimentos foram ferramentas valiosas para improvisações da imaginação, de "corporalidades", de construção de uma ficção não linear, fragmentada, da constituição de uma linguagem , e do surgimento do ator compositor, ou melhor de um artista vocacionado, autor de sua escritura cênica.
Este processo mobilizou o meu pensamento criativo e a minha abordagem teatral com as turmas, rompendo no meu fazer essa dicotomia entre pedagogia e prática teatral, me obrigou a me distanciar das fórmulas fáceis e previsíveis, despertando em mim e principalmente neles, o desejo de experimentar! Criando metáforas para quem sabe um anjo passe. 
  
 
A arte não está nem no artista, nem na obra, nem no espectador, mas na experiência, ou seja, no que acontece “entre” a obra e o espectador ou “entre” o espectador e a obra. Tudo acontece nesse entre”   Jorge Larrosa Bondía



                                                  
 
  
 
Ernandes Alves de Araújo-
novembro 2014.

 
 
 























  
Bibliografia
Camargo, Carlos Avelino de Arruda. Do lugar de onde se Vê, Aproximações entre as artes plásticas e o teatro. Editora Unesp.
Greiner Cristine. “ O Corpo, Pistas para estudos indisciplinares, Editora Annablume, 2005.
Goethe,Joahann WolfGang Von. Os anos de Aprendizados de Wilhelm Meister. Editora 34
Ferracini, Renato. A Arte de Não Interpretar como poesia corpórea do Ator. Editora Unicamp.
Larrosa , Jorge. “Notas sobre a experiência e o saber de experiência”
Ponty, Maurice Merleau. O Olho e o espírito. seguindo a linguagem indireta e as vozes do silêncio. Editora Cosac &Naif.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 





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