domingo, 23 de novembro de 2014

Situações Sincrônicas e Ciclos em Fase: Processos de Apropriação e Intercomunicação


Programa Vocacional 2014
Ensaio de Pesquisa
Gustavo Lemos
Artes Integradas



Este primeiro ano de atuação como AO no Programa Vocacional Artes Integradas está terminando com alguns ciclos importantes em fase, como a excelente execução de um trabalho extenso e complexo pelos AVs e resoluções/clareamentos/transformações de diversas questões minhas sobre como exercer minha função e sobre o que é Artes Integradas, por exemplo. Sincronicamente, uma configuração especial do equipamento onde trabalhei, o Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes (CFC),  permitiu que se ampliasse praticamente as discussões e movimentos no sentido de reformular a estrutura de comunicação e organização entre as Linguagens do Programa.  Eu gostaria de usar essa situação sincrônica como recorte e foco para me referir aos ciclos em fase.


A uma certa altura do ano, em meados de julho, iniciei proposições de trabalhos audiovisuais em meus encontros, tendo a linguagem do videoclipe como foco. Decidi por esta abordagem por alguns motivos: a popularidade da linguagem do videoclipe, a presença mesclada de praticamente todas as expressões artísticas (música, dança, teatro, artes visuais, literatura e cinema, deixando de fora, talvez, somente os programas performáticos e computacionais), a intensa presença das mídias digitais na vida cotidiana, a facilidade de acesso a dispositivos gravadores (telefones celulares fazem muito bem as tarefas de câmera e gravador de som) e as instalações do CFC, que incluem um cinema, uma sala com computadores preparados para editação de vídeo e um teatro, além de uma sala regular bem ampla e iluminada (sem mencionar a boa vontade dos funcionários em facilitar o acesso).


As atividades se intensificaram quando (e eis a configuração especial catalisadora de sincronias:) uma turma de AVs incrivelmente dispostos que frequentavam também os encontros de Dança e Teatro e participavam de atividades com a AO de Artes Visuais, passaram a frequentar também os meus encontros. Eles eram as puras artes misturadas em pleno potencial. 


No primeiro encontro nos conhecemos um pouco, conversamos sobre trabalhar videoclipes e fizemos algumas improvisações teatrais sem usar texto e com a inserção de uma câmera de celular registrando.  No segundo fomos para a sala de edição e os AVs criaram os vídeos “Precoce” e “Avulso” com as imagens do encontro anterior. Neste dia surgiu o Grupo Aspas, que assinou estes dois trabalhos e que viria a assinar o seguinte. No terceiro encontro assistimos a uma sessão de videoclipes no cinema do CFC (jamais esquecerei). Neste dia ocorreu uma apropriação processual maravilhosa: os AVs se decidiram por escrever uma letra original para o videoclipe que produziríamos, ao invés de simplesmente utilizar uma música pronta. No encontro seguinte lá estavam eles com a letra pronta dizendo “vem mudar o teu futuro” e inventando juntos a melodia, em ritmo de hip hop. Ganhamos de presente de um colega músico (Pedro Sollero) uma base musical que combinou perfeitamente com a letra e a melodia que os AVs haviam criado.


A partir daí o nível de apropriação somente cresceu: os AVs criaram roteiro, coreografias e planos de tomada de imagens e outras questões de fotografia e arte, escolheram figurinos e locações (CFC e entornos, Bienal de Arte, Pq do Ibirapuera, Metrô, Ônibus dando mole na frente do CFC, etc) e criaram estratégias intrinsicamente ligadas à edição do vídeo, como a cena do Metrô com a logística de entrar gravando num vagão onde já estavam os outros AVs e a do Teatro, destinada à ponte da música, gravada somente com lanternas e dois “estrobos” pequenos para diferir das outras cenas.


Partindo de uma iniciativa dos Gestores do CFC o Professor Milton, que dá aulas de edição de vídeo no equipamento, se disponibilizou a instruir os AVs segundo as demandas que se apresentassem durante as sessões de edição do videoclipe. Esta situação privilegiada permitiu aos AVs se instruirem no programa de edição segundo suas vontades estéticas (fez parte de um processo pessoal a descoberta do que era necessário aprender do programa).


Por sugestão do Prof. Milton, os AVs se dividiram em 3 grupos de 3 pessoas, cada um em um computador. Também dividiram as partes do videoclipe que deveriam ser editadas e as imagens que iriam compor cada parte (a saber: a introdução/1a e 2a estrofes, a ponte e os refrões). Em dois encontros um pouco extendidos o videoclipe inteiro foi admiravelmente montado.


Foi neste momento em que alguns pontos se ligaram: 1 – As AOs Morgana (Dança) e Ilma (Artes Visuais) já vinham tentando articulações com outros AOs e com os gestores do Equipamento e de fato formaram uma parceria de orientação frutífera, 2 – Alguns coordenadores do Programa já elaboravam havia algum tempo outras possibilidades de organização e comunicação entre as linguagens do Programa, 3 – Em uma reunião entre Coordenadores do Programa e Gestores de Equipamentos ) foi apontado por Ieltxu Martinez (Coordenador de Artes Integradas) que muitas dificuldades de funcionamento do Programa poderiam ser atenuadas ou resolvidas com uma comunicação mais fluida entre os Gestores, os Coordenadores, os AOs e os AVs, do que surgiu 4 – a sugestão e a viabilização de organizar uma reunião no CFC (pelas peculiaridades do Equipamento e pela presença da turma de AVs catalisadores de sincronias).


Fizemos três reuniões com AOs, Gestores, Coordenadores e AVs (a partir da segunda reunião) que certamente foram um início muito promissor: apesar de diversas questões que necessitavam de ajustes (lembrando que os esforços para organizar um encontro assim já existiam desde o 1o semestre), o próprio movimento de resolver estas questões em roda, conversando em várias instâncias já potencializou as relações. Foi possível entender melhor a situação do Equipamento e conhecer suas limitações e as idéias de gestão para os próximos anos, que inclusive tem em vista solucionar estas limitações. Também foi possível aproximar os AOs, os Coordenadores de outras Linguagens e os AVs, e – novamente – mesmo com tão pouco tempo para terminar o ano, essa aproximação mudou algo um tanto sutil e difícil de racionalizar por enquanto, mas apreciável na atmosfera do CFC e nos ânimos de todos. A participação dos AVs na reunião pareceu fortalecer um elo com o Vocacional, em virtude da apropriação deles de mais esferas da estrutura que contém a prática artística que eles experimentam nos encontros. 


E novamente, o tempo: eu também gostaria muito de que, agora que se consolidou uma situação potente, não tivéssimos uma interrupção tão longa, mas esse pouco tempo que tivemos bastou para experimentar diferenças positivas, notáveis em todos os níveis do Vocacional a que tenho acesso como AO.


Concluo este ensaio com um pensamento que se forma desde as reuniões: acredito que seja possível que um Projeto Artístico mais consistente se construa numa dinâmica de comunicação em que os AOs e os AVs conhecem as referências e as práticas uns dos outros. É possível que surjam temas e práticas em comum ou complementares capazes conectar as Linguagens em um Equipamento, e que esta situação sirva de fomento para que se torne mais comum que grupos de AVs frequentem mais de uma linguagem.


Links:
www.youtube.com/grupoaspas


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