Situações Sincrônicas e Ciclos em Fase: Processos de Apropriação e Intercomunicação
Programa
Vocacional 2014
Ensaio de Pesquisa
Gustavo Lemos
Artes Integradas
Ensaio de Pesquisa
Gustavo Lemos
Artes Integradas
Este primeiro ano de atuação como AO
no Programa Vocacional Artes Integradas está terminando com alguns ciclos importantes
em fase, como a excelente execução de um trabalho extenso e complexo pelos AVs
e resoluções/clareamentos/transformações de diversas questões minhas sobre como
exercer minha função e sobre o que é Artes Integradas, por exemplo.
Sincronicamente, uma configuração especial do equipamento onde trabalhei, o
Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes (CFC), permitiu que se ampliasse praticamente as discussões e
movimentos no sentido de reformular a estrutura de comunicação e organização
entre as Linguagens do Programa.
Eu gostaria de usar essa situação sincrônica como recorte e foco para me
referir aos ciclos em fase.
A uma certa altura do ano, em meados
de julho, iniciei proposições de trabalhos audiovisuais em meus encontros,
tendo a linguagem do videoclipe como foco. Decidi por esta abordagem por alguns
motivos: a popularidade da linguagem do videoclipe, a presença mesclada de
praticamente todas as expressões artísticas (música, dança, teatro, artes
visuais, literatura e cinema, deixando de fora, talvez, somente os programas
performáticos e computacionais), a intensa presença das mídias digitais na vida
cotidiana, a facilidade de acesso a dispositivos gravadores (telefones
celulares fazem muito bem as tarefas de câmera e gravador de som) e as
instalações do CFC, que incluem um cinema, uma sala com computadores preparados
para editação de vídeo e um teatro, além de uma sala regular bem ampla e
iluminada (sem mencionar a boa vontade dos funcionários em facilitar o acesso).
As atividades se intensificaram
quando (e eis a configuração especial catalisadora de sincronias:) uma turma de
AVs incrivelmente dispostos que frequentavam também os encontros de Dança e
Teatro e participavam de atividades com a AO de Artes Visuais, passaram a
frequentar também os meus encontros. Eles eram as puras artes misturadas em
pleno potencial.
No primeiro encontro nos conhecemos
um pouco, conversamos sobre trabalhar videoclipes e fizemos algumas
improvisações teatrais sem usar texto e com a inserção de uma câmera de celular
registrando. No segundo fomos para
a sala de edição e os AVs criaram os vídeos “Precoce” e “Avulso” com as imagens
do encontro anterior. Neste dia surgiu o Grupo Aspas, que assinou estes dois
trabalhos e que viria a assinar o seguinte. No terceiro encontro assistimos a
uma sessão de videoclipes no cinema do CFC (jamais esquecerei). Neste dia
ocorreu uma apropriação processual maravilhosa: os AVs se decidiram por
escrever uma letra original para o videoclipe que produziríamos, ao invés de
simplesmente utilizar uma música pronta. No encontro seguinte lá estavam eles
com a letra pronta dizendo “vem mudar o teu futuro” e inventando juntos a
melodia, em ritmo de hip hop. Ganhamos de presente de um colega músico (Pedro
Sollero) uma base musical que combinou perfeitamente com a letra e a melodia
que os AVs haviam criado.
A partir daí o nível de apropriação
somente cresceu: os AVs criaram roteiro, coreografias e planos de tomada de
imagens e outras questões de fotografia e arte, escolheram figurinos e locações
(CFC e entornos, Bienal de Arte, Pq do Ibirapuera, Metrô, Ônibus dando mole na
frente do CFC, etc) e criaram estratégias intrinsicamente ligadas à edição do
vídeo, como a cena do Metrô com a logística de entrar gravando num vagão onde
já estavam os outros AVs e a do Teatro, destinada à ponte da música, gravada
somente com lanternas e dois “estrobos” pequenos para diferir das outras cenas.
Partindo de uma iniciativa dos Gestores
do CFC o Professor Milton, que dá aulas de edição de vídeo no equipamento, se
disponibilizou a instruir os AVs segundo as demandas que se apresentassem
durante as sessões de edição do videoclipe. Esta situação privilegiada permitiu
aos AVs se instruirem no programa de edição segundo suas vontades estéticas
(fez parte de um processo pessoal a descoberta do que era necessário aprender do
programa).
Por sugestão do Prof. Milton, os AVs
se dividiram em 3 grupos de 3 pessoas, cada um em um computador. Também
dividiram as partes do videoclipe que deveriam ser editadas e as imagens que
iriam compor cada parte (a saber: a introdução/1a e 2a estrofes, a ponte e os
refrões). Em dois encontros um pouco extendidos o videoclipe inteiro foi
admiravelmente montado.
Foi neste momento em que alguns
pontos se ligaram: 1 – As AOs Morgana (Dança) e Ilma (Artes Visuais) já vinham
tentando articulações com outros AOs e com os gestores do Equipamento e de fato
formaram uma parceria de orientação frutífera, 2 – Alguns coordenadores do
Programa já elaboravam havia algum tempo outras possibilidades de organização e
comunicação entre as linguagens do Programa, 3 – Em uma reunião entre
Coordenadores do Programa e Gestores de Equipamentos ) foi apontado por Ieltxu
Martinez (Coordenador de Artes Integradas) que muitas dificuldades de
funcionamento do Programa poderiam ser atenuadas ou resolvidas com uma
comunicação mais fluida entre os Gestores, os Coordenadores, os AOs e os AVs,
do que surgiu 4 – a sugestão e a viabilização de organizar uma reunião no CFC
(pelas peculiaridades do Equipamento e pela presença da turma de AVs
catalisadores de sincronias).
Fizemos três reuniões com AOs,
Gestores, Coordenadores e AVs (a partir da segunda reunião) que certamente
foram um início muito promissor: apesar de diversas questões que necessitavam
de ajustes (lembrando que os esforços para organizar um encontro assim já
existiam desde o 1o semestre), o próprio movimento de resolver estas questões
em roda, conversando em várias instâncias já potencializou as relações. Foi
possível entender melhor a situação do Equipamento e conhecer suas limitações e
as idéias de gestão para os próximos anos, que inclusive tem em vista
solucionar estas limitações. Também foi possível aproximar os AOs, os
Coordenadores de outras Linguagens e os AVs, e – novamente – mesmo com tão
pouco tempo para terminar o ano, essa aproximação mudou algo um tanto sutil e
difícil de racionalizar por enquanto, mas apreciável na atmosfera do CFC e nos
ânimos de todos. A participação dos AVs na reunião pareceu fortalecer um elo
com o Vocacional, em virtude da apropriação deles de mais esferas da estrutura
que contém a prática artística que eles experimentam nos encontros.
E novamente, o tempo: eu também
gostaria muito de que, agora que se consolidou uma situação potente, não
tivéssimos uma interrupção tão longa, mas esse pouco tempo que tivemos bastou
para experimentar diferenças positivas, notáveis em todos os níveis do
Vocacional a que tenho acesso como AO.
Concluo este ensaio com um
pensamento que se forma desde as reuniões: acredito que seja possível que um
Projeto Artístico mais consistente se construa numa dinâmica de comunicação em
que os AOs e os AVs conhecem as referências e as práticas uns dos outros. É
possível que surjam temas e práticas em comum ou complementares capazes
conectar as Linguagens em um Equipamento, e que esta situação sirva de fomento
para que se torne mais comum que grupos de AVs frequentem mais de uma
linguagem.
Links:
www.youtube.com/grupoaspas
Marcadores: Artes Integradas, Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, CFCCT, Grupo Aspas, Gustavo Lemos, Vem Mudar o Teu Futuro
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