Uma imagem vale por mil palavras?
PROGRAMA
VOCACIONAL ARTES INTEGRADAS – 2014
Artista
orientador: Valter de Sant’Anna Nunes
(Valter Nu)
Uma imagem vale por mil palavras?
O que de tudo não compreende (...) é
que, ao se desenvolverem as tecnologias de comunicação em autêntica progressão
geométrica, de melhoria em melhoria, a outra comunicação, aquela propriamente
dita, a verdadeira, de mim para ti, de nós para eles, continue a ser essa
confusão cruzada de becos sem saída, tão decepcionante com suas avenidas
ilusórias, tão dissimulada no que expressa quanto no que dissimula.
José
Saramago
Por anos, a frase
"uma imagem vale por mil palavras" foi aplicada pela indústria midiática
como verdade absoluta, mas, nos dias atuais, inúmeros questionamentos a
tornaram expressão de conteúdo duvidoso e de pouca credibilidade. A ideia desse
programa performativo é propor a desconstrução dessa frase e
reterritorializá-la na segunda década do séc. XXI, onde
grande parte das pessoas tem acesso a tecnologias de manipulação de
imagens como softwares, editores e
filtros - inclusive em simples celulares -, ferramentas que há pouco
tempo eram acessíveis apenas para profissionais da área.
Anteriormente,
a manipulação de imagens era muito mais difícil e complexa, o avesso do que
podemos ver hoje, quando é possível em menos de 5 minutos fotografar, editar e
postar uma imagem com mensagens de qualquer natureza em uma rede social.
Essa postagem, por sua vez, poderá ser instantaneamente replicada, com ou sem
créditos do autor, e também com outras mensagens que não sejam as originais,
possibilitando várias interpretações em diferentes partes do
planeta.
No
período denominado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman como modernidade liquida, a maior parte dos indivíduos
tem em suas mãos celulares com máquinas fotográficas a partir dos quais criam
uma imagem virtual,
(...) porém seu tamanho e conteúdo são construídos
de acordo com as preferências e predileções do proprietário individual, são fáceis
de “limpar”, bastando para isto pressionar o botão de deletar, apagando assim
as partes que não correspondem mais aos interesses ou perspectivas do dono (Bauman, 2011, p.46)
Então, a questão que aparece é quais
mil palavras serão escolhidas e adicionadas a quem ou ao o quê? Qual interpretação terá
esta imagem? A fonte da imagem será uma só? Ou as manipulações,
edições e replicações com novos caracteres serão considerados? Quem decidirá a
significação das mil palavras: emissor ou observador?
A indústria da comunicação foi uma
potente vendedora de verdades absolutas no século passado, mas esse
cenário tem mudado gradativamente com o aparecimento de novas formas de
divulgação de informações. A grande mídia, formada por oligopólios econômicos,
tem perdido cada vez mais credibilidade ao difundir imagens manipuladas e
parciais como se fosse um neutro retrato da realidade. Um bom exemplo dessa
engrenagem ideológica foi a cobertura das manifestações de junho de 2013. Num
primeiro momento, boa parte da mídia (TV, jornais, revistas) apresentava um
recorte da situação e colocava os manifestantes como um pequeno grupo de baderneiros
ou vândalos. Por outro lado, na internet, a realidade era outra: as mesmas
imagens da TV apareciam na internet com outro enquadramento, outa manchete, outra
verdade. Além disso, as imagens da mídia independente chegavam antes na
internet e eram replicadas com rapidez. Assim, quando imagens semelhantes
chegavam a TV, a informação já havia circulado pela rede e geralmente com
matérias muito diferentes daquelas apresentadas pelos grandes grupos de
comunicação: as mesmas imagens, mas múltiplas mensagens. Naquele contexto, as informações
da grande mídia sempre pareciam velhas, por sua distância da fluidez das
manifestações.
Podemos também retomar a
recente Campanha Presidencial no Brasil e a clara preferência das tradicionais
empresas de comunicação pelo candidato Alceio Neves. Alguns veículos publicaram
editoriais explícitos justificando seu apoio e, no caso da revista
"Veja”, houve até a antecipação da sua distribuição, nas vésperas das
eleições, com uma capa onde fazia graves denúncias contra a presidente
Dilma Rousseff, então candidata a reeleição.
Na era pré-internet e pré-redes
sociais, esta capa e a sua imagem teria feito um grande estrago para a
campanha da candidata, mas não foi o que se observou. Rapidamente na internet a
capa da revista começou a ser satirizada e a mesma imagem teve várias
interpretações diferentes, o que pode ter levado as pessoas a questionar a veracidade
da informação, da imagem de capa e dos fatos que ali estavam sendo relatados. Dilma
Rousseff venceu as eleições mesmo tendo contra ela esse ataque de um forte
veiculo de mídia no Brasil.
No contemporâneo, a
exclamação parece perder espaço para as interrogações e já não é mais possível
afirmar que uma imagem vale por mil palavras. Agora, talvez seja mais
apropriado dizer que uma imagem gera mil palavras, mil interpretações e mil
possibilidades sem fim.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUMAN, Zygmunt. 44 cartas do mundo líquido moderno. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 2011
SARAMAGO, José. O homem duplicado. Lisboa: Editora Caminho, 2002
ANEXO:
PROGRAMA
PERFORMATIVO
Uma imagem vale por mil palavras?
Instrução
-1
Um grupos de 5 pessoas (caso tenha
mais pessoas pode ser criado novo grupo de 5 ou dobrar as funções dos atores no
grupo: dois fotógrafos, dois escritores). Cada grupo precisa ter:
Uma dupla sujeitos da ação;
Um fotógrafo;
Um escritor (jornalista);
Um homem da lei –(este deve criar regras
enquanto observa todos os outros).
Instrução -2
1- Fotógrafo:
Deve registrar tudo que os sujeitos da situação
fazem e criar sua própria narração imagética para os fatos, planos, detalhes, enfim,
criar uma narrativa para o que imagina que os atores estejam fazendo.
2-
Escritor:
Deve escrever tudo que imagina que os
sujeitos da situação estão fazendo, pode escolher qualquer tipo de narração:
jornalística, ficcional etc. Não precisa se preocupar com a veracidade da
historia.
3- Sujeitos
da situação:
Devem criar uma situação entre si. Imaginar
local, país, bairro, onde estão e a situação que se encontram e quem são
seus personagens. Devem combinar entre si a ação antes de saírem para o programa ,
pois durante o processo não podem conversar entre si nem com os demais atores.
4-Homem da
lei:
Este deve observar o grupo e criar leis
para suas ações. Ex: é proibido fotografar com a máquina na mão esquerda ou não
pode escrever quando esta na escada.
Durante este processo o homem da lei apenas
cria as leis observando a ação do grupo sem aplica-las ou comentá-las.
Instrução
-3
Todo processo deve ser feito em silêncio. O
grupo tem 20 minutos para fazer a primeira parte do programa
performativo.
Retorno:
1-O fotógrafo da conta sua versão da
história, sobre o que viu e fotografou e exibe seu material para o grupo.
Os demais permanecem em silêncio.
2-O escritor apresenta sua versão para os
fatos oque escreveu sobre a ação dos sujeitos da situação.
Os demais permanecem em silêncio.
3-Os sujeitos da ação contam o que
estavam de fato fazendo.
Os demais permanecem em silêncio.
Roda de conversa com os
sujeitos da ação: eles contam o que estavam atuando e se esta
ação corresponde as imagens do fotógrafo e a descrição do escritor.
O homem da lei apresenta as regras
(leis) criadas a partir da ação anterior .
Segunda
saída:
Instruções:
A ação é repetida pelo grupo com mudança de
papéis nas funções. Quem foi fotografo pode virar escritor ou sujeito da ação ou
homem da lei.
Agora teremos a aplicação das leis que
foram cridas na primeira saída, exemplo:
Lei número 1-é obrigatório cantar para
crianças.
Lei número 2 – ajoelhar toda vez que ver
uma porta de vidro.
O homem da lei deve ter as leis escritas de
forma legível e claras. Estas leis quando apresentadas pelo homem da lei
aos demais integrantes do grupo devem ser cumpridas imediatamente sem contestação
e em silêncio.
Roda de conversa os sujeitos da
ação, contam oque estavam atuando e se esta ação correspondem as
imagens do fotografo e a narração do escritor.
Imagens da
ação:
Descrição do fotógrafo: “um casal de
namorados rindo no sofa olhando a postura de um segurança”.
Imagem
-1
Narração do escritor : “são dois
traficantes que estão muito loucos no CCJ.”
Imagem
-2
Sujeitos da ação: “amigo e amiga rindo no sofá do CCJ.”
Imagem -3
A lei aplicada:
Lei número 2 – ajoelhar toda vez que ver
uma porta de vidro.
Imagem 4
Programa performativo “Uma imagem vale
por mil palavras?” desenvolvido e aplicado durante os encontros do Programa
Vocacional Artes Integradas, quartas feiras -horário: 14 as 17 horas- CCJ Ruth Cardoso- mês de agosto, 2014 -
artista orientador Valter Nu.
Uma
imagem vale por mil palavras?
Programa 2
ATO SELF
“Narciso acha feio o que não é web
cam”
Instruções:
1- Em lugar público o ator (sujeito da
situação) deve escolher um local de passagem de grande fluxo de pessoas
(rodoviárias, ruas movimentadas, shopping centers, estações de trem , metro,
etc).
2- Deve pegar uma máquina fotográfica
(precisa ser câmera fotográfica e não celular. Quanto maior melhor com lentes
grandes e flash).
3- Apontar a câmera para o próprio rosto e
começar a clicar a própria face, fazendo poses, deve permanecer na ação por 25
minutos, não deve parar de se fotografar, deve permanecer em silencio, enquanto
executa a ação.
Programa -ATO SELF “Narciso acha feio
o que não é web cam”
Programa performativo desenvolvido e
executado por Pedro Galiza e Eric AP- nos encontros de artes integradas do
Programa Vocacional durante os meses de agosto e setembro – encontros as
quartas feiras, horário:18 as 21 horas- CCJ Ruth Cardoso. artista orientador
Valter Nu
Para ver: ATO SELF “Narciso acha feio
o que não é web cam”
Marcadores: CCJ Ruth Cardoso-Artista Orientador Valter Nunes de Sant`Anna- Valter Nu- Artes Integradas.
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