COLETIVO EM TRÂNSITO OCUPAÇÃO CENTRO CULTURAL DA PENHA
DANÇA VOCACIONAL
COLETIVO EM TRÂNSITO OCUPAÇÃO CENTRO CULTURAL DA PENHA
Artista
Orientador - Frank Tavantti
Equipe Leste 1 - Coordenação Claudia Palma
Atualmente o
corpo tem sido foco de uma era em que um simples toque pode abrir janelas que
nos carregam para o desconhecido, um emaranhado organizado de frestas pelas quais
podemos ver mundos totalmente diferentes e que nos possibilitam navegar no
passado, em um presente compartilhado ou até mesmo em um futuro que anseia,
tudo isso com o mínimo de esforço.
Podemos nos transportar em uma fração de
segundo sem sair do lugar, um simples toque e temos o mundo na ponta dos dedos.
Somos impulsionados então a abrir essas janelas, deslizar, tocar e compartilhar
o nosso próprio universo. Há nisso tudo um movimento pouco percebido que
nos acompanha desde que nos entendemos forma e somos estimulados a nos
mantermos, sustentarmos em uma estrutura. O desejo, a necessidade, o precisar é
o impulso interno que nos move, aquilo que nos faz buscar.
Neste ano de 2014 atuando como Artista Orientador
no Centro Cultural da Penha pude continuar o trabalho de formação de turmas e o
mapeamento de um local onde a dança pulsa forte. Percebi o desejo das turmas em
sair do espaço, estrutura CCP e buscar outros lugares para ocupação e dança.
Percorremos o entorno do Centro cultural com cortejos de ocupação, Shopping
Penha, praças e uma parceria com SESC Belenzinho onde participamos de encontros
do projeto “100 lugares para dançar”. Alem de visitarmos algumas exposições e
ali mesmo criar um espaço para dançar.
Esses cortejos ocupação detonaram nos processos artísticos, nos encontros possibilidades de movimento e memória do corpo a partir do que ficou de cada espaço ocupado. Revisitando o percurso, pelo segundo ano, percebo que o Centro Cultural é ocupado por artistas do entorno e em sua maioria por artistas de outras regiões que buscam ali um local de não só o fazer mas sim o pensar dança e que um pólo de processos criativos em dança se instala fortemente.
Acredito,
a princípio, que não há como pensar em processos de criação junto com os
artistas vocacionados sem que se atente pelo desejo, aquilo que nos faz mover e
então buscar algo que seja interessante e que de alguma forma nos faça sentido,
satisfaça. Não há dança sem sensação, sem sentir, sem um estímulo, sem
movimento. “O Homem se movimenta afim de satisfazer uma necessidade. Com sua
movimentação, tem por objetivo atingir algo que lhe é valioso” (LABAN, RUDOLF,
Domínio do Movimento p.19).
Nesta
definição de Laban, sobre o movimento, sempre me instigou a palavra “valioso”.
Entendo valioso como algo importante, de valor, algo muito merecido, mas que
também contém validade, um tempo de duração, um fim. O indivíduo então
tem como objetivo o desejo, que pelo movimento, seja possível atingir esse
“valioso”. Assim, o movimento torna-se um trajeto, uma ponte para conquista do
mesmo.
O que os faz buscar...?
Não
somente pelo espaço CCP que é um local de trânsito e circulação artística e/ou pelo encontro que o Vocacional promove
mas também percebo que alguns artistas vocacionados buscam acompanhar artistas
orientadores, o que descentraliza e os faz percorrer outras regiões, estar em
trânsito. Tenho alguns artistas vocacionados que me acompanham desde quando
iniciei no programa 5 anos atrás. Este ano em especial, tivemos um artista
vocacionado cadeirante que se deslocava de Guarulhos todas as sextas a noite
para os encontros na Penha, outros que vem da Zona Sul e alguns do extremo
Leste.
Camadas, poesia, memória... Detonadores do processo.
Imagem,
espaço, objeto, contorno, forma. Pensar então nesse princípio básico que é
ocupar e em como o meu corpo pode perfurar lugares tem sido um disparador para
minha pesquisa em dança e nos processos criativos que tenho desenvolvido nestes
anos de prática. O processo de criação é hoje, algo que não se restringe
somente a coletivos profissionais de dança e ou de teatro, chegando a uma boa
parte de pessoas interessadas em pensar a dança e não apenas se movimentar.
Abrir um leque de possibilidades, de ocupar um espaço com seu próprio corpo, é
partir para a busca de resgate de memórias, possibilitar agentes criativos a
uma matéria cuja essência é geradora de movimento.
Como seres vivos temos por
necessidade movimentar, gerar espaço, movimento, impulsos internos que
consciente ou inconscientemente criam caminhos e percursos no nosso fazer
vital. “As reflexões de um tal ser se efetuam e se exprimem dinamicamente. O
pensamento é, para ele, um movimento interior, intercorporal; o espírito é,
para ele, uma essência movimentada, talvez o próprio movimento”. (LABAN, apud
MIRANDA, REGINA Corpo Espaço p.17) Essa ideia de que o corpo possui uma
forma e com essa forma pode ocupar um lugar ou até mesmo se ocupar pode despertar
a consciência de ocupação e em consequência o espaço criativo. Um olhar para
dentro fazendo reverberar no que está fora, lançar ou impulsionar movimento.
“Madeleines”
O
processo deste ano chega a um local muito particular de movimento e memórias,
aquilo que ficou, as camadas que cada artista viveu e percorreu dentro de cada
encontro e de cada experiência que nos transpassou. As duas turmas com
trabalhos específicos, resultados bem característicos e individuais retratando
as suas “Madeleines”, escolhem levar
para a cena aquilo que os percorreu durante o processo. Criação individual e compartilhada.
Possibilitar
um espaço para criação coletiva ou individual é antes de tudo poder dar voz e
refletir sobre sua própria trajetória, suas experiências e sua cultura de
movimento que ao longo da vida colecionou. Partindo dos registros do arquiteto,
filósofo e coreógrafo Rudolf von Laban sobre o estudo do movimento,
revisitamos uma parcela dos estudos dos quais ele formulou um sistema de
observação, experimentação e análise de movimento complexo e poético. Poder
chegar mais próximo dos conteúdos fomentando outras formas de gerar
dança/movimento é conceder ferramentas para a busca desse valioso, de uma dança
pura e criativa. O que é dança? Onde ela começa? É possível dançar sem
uma “experiência” prévia? Onde moram os desejos?
Pensar
essas possibilidades de criação coletiva ou individual da dança é estimular
outros caminhos de uma obra sem que para isso seja necessário passar somente
pelos mesmos padrões ou estilos formais de escolas e academias de estudo
técnico da dança, mas também gerar e fornecer opções, atividades que provoquem
criações a partir do movimento interior, próprio, individual, autoral. De
uma forma mais simples, a intenção é promover uma vivência, a experiência de
uma linguagem próxima ao universo dos encontros, aulas e as peculiaridades de
cada turma, podendo perceber e dar voz a esse coletivo. É compartilhar um
trabalho artístico sem que pra isso seja preciso impor padrões e técnicas
tradicionais que os façam perder sua essência e sua individualidade.
Desde
2013 e ainda mais fortalecido este ano, o “Coletivo Dança CCP” aponta para
formação de um grupo que pretende se fixar no local e continuar esse percurso
durante 2015 com o desejo de ser
orientado pelo programa.
Ainda
há muito o que se conquistar em 2015 no Centro Cultural da Penha. As bases da
dança estão sendo fortalecidas e terminamos o ano com mostras que refletem o
prazer e o desejo de cada artista vocacionado em continuar, amplicar os
caminhos nesse espaço tão parceiro que nos da base para criação e
compartilhamento. A dança se faz criativa e transita a todo momento de um para
o outro, ocupando-se de cada um independente de onde ela atravesse.
Concluo
que a dança criativa pode tornar-se um facilitador e um colaborador em matéria
de pensar o corpo em suas funções básicas, não somente reproduzir ou gerar
movimento, mas antes de tudo, sentir e poder criar algo que seja genuíno. Se
pensarmos que a dança também pode ser gesto, esses movimentos corporais
utilizados na vida diária, no processo criativo ele ganhará uma função
estética, podendo ser estruturados, estilizados e até mesmo coreografados. A
dança então se torna uma linguagem simbólica podendo ser associada ao
desenvolvimento humano físico e psíquico. Como afirma Jacques Lacan, "é
também através da linguagem simbólica que o ego não apenas interage com o
mundo, mas é em si mesmo construído física e psiquicamente, em sua imagem
corporal" (LACAN apud FERNANDES, CIANE Pina Bausch Wuppertal Dança-Teatro,
p.29). Aproximar o movimento do universo cotidiano de cada indivíduo é trazê-lo
para o mais simples, chegando mais facilmente ao seu contexto histórico e de
sua realidade. A dança, assim, pode chegar mais facilmente a essa cultura
humanitária de movimento, não privando qualquer interessado em praticá-la.
Marcadores: CCP, Centro Cultural da Penha, Coletivo de Dança do Centro Cultural da Penha, Dança Contemporânea, Dança Penha, Dança Vocacional, Frank Tavantti, Programa Vocacional, Projeto Vocacional, vocacional
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial