Duda
Moreno
Coordenador da equipe
Norte 1
Vocacional Dança
Fragmentos
de um Todo
A
Equipe Em Movimento
Abro
essa reflexão falando do trabalho micro que acontece na relação entre o Artista
Coordenador e o Artista Orientador, pois esse encontro é sem dúvida uma potência
para a concretização das orientações nos equipamentos.
É na equipe que buscamos
refúgio, que compartilhamos a dor e a delícia que o programa nos proporciona
constantemente em nossas idas e vindas ao equipamento. Quando estamos reunidos
em nossa reunião temos a oportunidade de sermos acalantados caso estejamos
perdidos em um mar de insegurança e frustração, e enaltecidos quando todo o
investimento e o suor que dedicamos ao programa são recompensados com belos
presentes. Trabalhar em equipe gera segurança para todos nós, por aqui não
estamos preocupados com a crítica e sim com o estímulo mútuo, com o respeito e
com a parceria.
Na equipe norte 1 toda e
qualquer ação é compartilhada, é decidida pelo coletivo. Não pensamos em
liderança e não temos solistas - estamos constantemente em “CHORUS LINE”. Nós
nos complementamos com as experiências dos companheiros mesmo diante de tanta
diferença, de tanta singularidade. Quando refletimos coletivamente sobre o
processo de um ou de outro, encontramos muitas vezes, caminhos para nossas
emaranhadas teias de questões.
Cada indivíduo traz consigo diversos
movimentos para compor a coreografia da nossa equipe. Movimentos que às vezes
são diretos e às vezes indiretos, mas que sempre atingem seus objetivos.
Movimentos que trazem em seus conteúdos temas leves contrastando constantemente
com temas pesados (que na maioria das vezes estão relacionados com a política
que rege os combinados entre o programa e os equipamentos).
Partilhamos nesse coletivo
de artistas operários, um interesse antes de qualquer princípio, pela difusão
de nossa amada arte. São profissionais que oferecem suas experiências para a
comunidade respeitando antes de tudo as escolhas que a mesma fez para si.
Ao pensar nas
características da equipe norte 1, vejo uma terra fértil que é regada com muita
escuta, reflexão, parceria, pró atividade e muita, mais muita humildade. Somos
uma unidade que visa à criação e recriação dos espaços onde seja possível
estabelecer diálogos artísticos que nos provoquem, complementem e que nos
aponte novos horizontes.
Fazer parte de uma equipe
que é composta por artistas que estão em constante movimento é simplesmente
desafiador, e ao mesmo tempo instigante e nutritivo. Hoje somos um coletivo que
com certeza colherá valiosos frutos.
Penso o tempo todo que a
minha atuação dentro desse pode ser entendida como um ponto de vista
provocativo. Não tenho o direito de impor ou manipular as iniciativas dos AOs,
e nem cabe a mim decidir quais escolhas são melhores para cada processo. Inúmeras
coisas acontecem durante o processo de construção artística com os
vocacionados, e de certa forma a minha leitura pode implicar na condução e na
emancipação do AO. Por isso eu simplesmente escuto e provoco. Sendo assim, cada
um poderá optar pelo que for melhor para o seu processo.
É por essa ótica que eu vejo
a relação entre o coordenador de equipe e o artista orientador. Creio que
atuamos de maneiras distintas no programa, mas tenho certeza que uma ação
potencializa a outra. Sinto que tudo corre bem quando esse encontro é
produtivo, quando um entende a função do outro e juntos buscam o melhor para a
ação junto ao vocacionado.
Movimentando-se
com os vocacionados
- talvez seja preciso encontrarmos outra
língua, ou, melhor dizendo, um outro modo de linguagem, para nos surpreender,
nos maravilhar novamente.
Sacks 2010 pg, 9.
Os encontros com os
vocacionados são os melhores momentos que vivemos no programa.
O
ato de orientar o processo criativo de um o vocacionado exige um aprofundamento
na realidade da comunidade, como a abordagem de Sacks a cultura surda. Temos de
fato que entender onde estamos inseridos, antes de sugerirmos qualquer
proposição artística emancipatória. Faz-se necessário uma imersão na realidade
do lugar para o qual somos destinados, pois cabe a nós sabermos onde estamos
entrando.
É
preciso mapear!
Mapear
a região, as pessoas, as estruturas, as relações para então tentarmos
estabelecer esse tão sonhado diálogo.
O fato de ter sido AO
durante três anos me ensinaram a coordenar a equipe pensando constantemente no
encontro com o vocacionado e nas potências que podem nascer do diálogo entre
todos nós.
Ao longo desses breves 6 anos de pesquisa, vivencio
encontros que não se dariam em outros
projetos. Encontramos nas comunidades uma infinidade de artistas sensíveis
donos de uma condição criativa única, que deixa muitos estudiosos boquiabertos.
Essas pessoas impares nos inspira a continuar com nossas provocações, elas nos
fortalecem e nos mostram que sempre á uma nova possibilidade.
Quando olho para nossos
vocacionados, vejo indivíduos que se apropriaram de suas vidas e que seguem
segundo suas próprias necessidades. Esses mestres, pouco ignorantes, estão
sempre nos ensinando, e nós ainda somos pagos por isso!
Além do descobrimento
artístico, vivenciamos uma evolução humana sócio- política em todos os
momentos. Ao me encontrar com os vocacionados , sou provocado o tempo todo, as
vezes sou desestabilizado na condição de artista e as vezes a indagação vem na
condição humana e isso me faz refletir inclusive sobre a minha existência e o
meu não saber.
Para chegarmos a essa
condição, se faz necessário uma escuta atenta, às vezes temos que lançar mão de
um jeito nosso de fazer, e olhar para a resolução que o outro nos apresenta.
Novamente aparece a palavra
humildade e não é fácil se despir e se reconhecer como ignorante. Isso demanda
uma maturidade que só estimulada quando nos deparamos com as inquietações e os
questionamentos que os vocacionados nos apresentam.
- Acredito que ser Artista
Orientador nesse programa é se desprender de si em prol do crescimento do
outro!
Essas colocações me fazem voltar ao primeiro
parágrafo desse texto:
Os encontros com os
vocacionados são os melhores momentos que vivemos no programa!
Isso
está além de qualquer ato reflexivo. Poder ser afetado e de certa forma
contribuir com a evolução dos vocacionados é simplesmente prazeroso. Ver as
pessoas se livrarem de velhos paradigmas se tornarem potências a serem seguidas
é sem dúvida um privilegio.
A
Ação Cultural Como Potencializadora dos Processos
A
ação cultural sempre foi um instrumento muito potente na região norte 1, e
através desse princípio, nós conseguimos estabelecer grandes possibilidades para
as trocas artísticas dentro e fora dos equipamentos.
A
equipe se organizou para participar de várias ações, pois esse momento é muito
revelador e as apreciações estimulam a continuidade do processo de forma
positiva e agregadora. Esse momento possibilita a partilha da pesquisa e quando
juntamos as turmas proporcionamos o encontro entre os vocacionados, o que evidencia
o tamanho da nossa região. Nesse momento temos a noção real de quantas pessoas
estamos orientando e o quanto as reflexões artísticas são potentes e
importantes para região. Esses momentos provocam outros tantos cruzamentos e
novas possibilidades para as pesquisas e ao voltarmos para a sala de ensaio
podemos dar novos rumos para a pesquisa e aprofundar ainda mais as reflexões.
"Quarta No Jaça"
"Ocupação da FUNARTE"
"Ocupação da FUNARTE"
"Inter CEU Cultural"
" Perusferia Jam"
"Mostras"
Uma grande vitória oriunda das ações foi a integração entre a gestão e todos os outros segmentos educacionais dentro dos CEUs. Esse fator foi muito importante, pois à participação de gestores e coordenadores de NAC, EMEI e EMEF em nossas ações, favoreceram o entendimento dessas pessoas sobre o que é o vocacional.
Essas
ações não se resumem apenas nas mostras de processos artísticos, elas se estendem
para os encontros nas salas de ensaio, reuniões com os agentes dentro dos
equipamentos e os nossos potentes “roles pelas quebradas”. Esse conjunto é que
fez e faz a diferença na região.
Conseguimos
através de toda essa movimentação estabelecer parcerias com grande
envolvimento, apropriação e participação dos coordenadores e gestores e isso é
um fruto da nossa árdua atuação. Atualmente ao me encontrar com esses
coordenadores, ouço uma fala que exalta o programa e viabiliza cada vez mais o
trabalho dos AOs junto aos seus vocacionados.
Presenciei nesses anos coordenando a região
Norte1, um amadurecimento no entendimento do programa e isso também tem que ser
enaltecido.
O
espaço entre o que é e o que se entende...
O
programa Vocacional abre precedente para várias interpretações. Em alguns
lugares somos o braço forte da cultura, e até mesmo da educação e do esporte, pois
o nosso olhar torna-se indispensável, uma vez que ele atinge a comunidade
sutilmente e propõe ações reflexivas que movimentam artisticamente o
equipamento e o entorno.
Quando
somos vistos por essa ótica, quando os coordenadores e gestores se permitem
conhecer a nossa linguagem, a atuação do programa é facilitada, enriquecida e
esse suporte faz de nós, verdadeiras potências culturais dentro dos
equipamentos. Tornamos-nos parceiros que visam um bem em comum: O melhor para a
comunidade.
Isso
pode ser diminuído, essa realidade pode ser esvaziada quando nossos princípios são
destorcidos, quando somos entendidos como meros “pedintes” ou quando somos
vistos como os opositores que só querem competir. Nesses casos a relação tende
a ser de rejeição e passamos a ser apenas mais um dentre tantos, na luta contínua
pelo pedaço de chão. Viramos mais uma ferramenta que será colocada à disposição
das necessidades do equipamento.
Apenas em um equipamento da região ocorreu
certa resistência: O CEU Parque Anhanguera. Acho que temos que fazer mais ações
dentro desse equipamento no ano que vem para tentar melhorar a aceitação e a
atuação do vocacional nesse equipamento tão árido.
Ao
mesmo tempo sinto que algumas ou várias coisas não estão em nossas mãos. Sinto
que estamos fazendo o máximo pela expansão cultural na cidade e infelizmente
algumas pessoas não estão preparadas para nos acompanhar.
Diante
dessa realidade me questionei sobre várias coisas uma delas foi sobre até onde
podemos caminhar e onde devemos investir as nossas energias para não ficarmos
rodando em um ciclo inquebrável e imutável.
O
vocacional não é oficina artística, não somos “os tapa” buracos e muito menos
os “fazem tudo”. Temos uma ideologia que ainda não é entendida e isso possibilita
a interpretação erronia e a falsa apropriação dos princípios do programa.
Após
essas idas e vindas, concluo (se é que se pode concluir), que se faz necessário
uma formação continuada com os coordenadores e gestores dos CEUs na tentativa
de um esclarecimento mútuo e eficaz. Não dá para nos depararmos com uma
distorção nociva do vocacional, não devemos transportar os Artistas
Orientadores para um universo onde a sua atuação é colocada a mercê das
incapacidades que tendem a desestimular e enfraquecer os anseios de um
militante cultural que só visa o crescimento.
Ser
vocacional, é ser um coletivo que fortalece seus indivíduos, é ter força para
dar suporte e chegar junto quando se faz necessário. É propor os embates, é
olhar para o outro e se reconhecer. Por isso não podemos permitir
interpretações destorcidas sobre o programa, uma vez que aquele outro que suporta
imposições dentro dos equipamentos é um representante de uma filosofia que
todos nós partilhamos.
Continuidade
x Estrutura
A
proposta máxima dentro desse universo chamado Programa Vocacional, é colaborar
na emancipação do sujeito que vive atado as redias normativas que só fazem
depreciar. Nossa atuação visa à reformulação contínua do pensamento e
possibilita ao outro uma reinvenção de si e o reconhecimento como potência
artística e política.
A
instauração e a manutenção dessa condição que se dá no encontro com os
vocacionados também depende da parceria entre o programa e o equipamento.
Levamos
uma bandeira para dentro das comunidades e essa bandeira não tem que ser
imposta, ela pode vir a ser aceita, e para isso acontecer, é necessário criar uma
confluência de vontades. É preciso dar respaldo, pois o abandono pode desestabilizar
e tudo o que era belo pode se tornar um campo seco e infecundo.
Não
somos a única verdade, mas a nossa verdade é muito potente. Colaboramos com a
construção de significações e isso estabelece pertencimentos imensuráveis e nos
direciona para as próximas questões:
Como
continuar?
Como
fomentar a permanência das pesquisas à beira de um hiato que dura tantos meses?
A
pausa nas orientações
Pode
até parecer fácil pensar em estratégias que fomentem a emancipação dos
coletivos dentro dos equipamentos, mas logo fica claro que a nossa ação
mediadora é o eixo condutor do programa e quando nos afastamos vemos um certo
enfraquecimento nas pesquisas e na atuação das pessoas nas micro regiões.
É
preciso repensar a estrutura. Temos que viabilizar a continuidade e para que
isso seja possível, só vejo uma opção: reformular a nossa estrutura. Sei que
isso pode até parecer uma inquietação dos artistas, mas os fatos são
comprobatórios e exigem uma mudança imediata na vigência do programa, se
quisermos mesmo falar e viver a continuidade. Se for mesmo o nosso objetivo
instaurar a permanência nós precisamos de uma atuação prolongada. Essa fala não
é apenas uma constatação dos artistas, mas de todos os vocacionados e todas as
pessoas envolvidas com o programa.
Às
vezes penso que não conseguimos transpor a velha demanda vertical e me faço a
seguinte questão:
Será
que estamos escutando todas as outras vozes quando propomos uma melhora para a
nossa estrutura vista como horizontal?
Refletir,
refletir, refletir!
Continuidade?
Recomeço?
Pausa?!
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