sábado, 22 de novembro de 2014


ensaio-de-pesquisa-ação-em-experimento



VOCACIONAL DANÇA
Cristina Ávila - CEU Caminho do Mar
coordenação de equipe - Sul 1: Elenita Queiróz


EXPERIMENTO NOTURNO
Valendo!
São muitos. Diferentes tantos, buscando encontro em roda, em corpo, buscando caber. Caberem-se. Cabermo-nos.
As duas AO's em experiência de começo. O experimento aqui já começa na orientação: nosso a priori juntas era pré-determinado, e portanto algo a saber. Com vontades de acordo, nós duas desconhecidas lançando-nos a tatear possibilidades. O que querer, duplamente, multiplamente, onde tudo é espaço desconhecido e tantos são os olhos que chegam?
O experimento das formas explodidas pareceu ser um espaço de busca. Partir da ação. Ler os sentidos coletivamente. Entender os egos - todos -, perceber os desejos e a inexistência deles. A turma/orientação é pesquisa para nós. Talvez sejamos nós, também, nossa própria pesquisa. Discutir as formas. Encontrar canais para discutir conceito sobre forma, conteúdo, arte, posicionamento, subjetividade. Ir a fundo. Caber no tempo - quase um pedido de socorro.
As regras do jogo provocam ações descontinuadas. Na roda onde entram pré-dispostos a nada prévio, podem sons, podem gestos, podem frases. Quem assiste pode pedir. Volta, repete, acelera, ou o que a percepção revelar necessário. A poética que surge da ação, em outros diálogos possíveis. Em quanto tempo (muito, sempre) se amadurece esta pesquisa? Como surgem encantamentos pelos significados antes (im)possíveis?

questão I: É possível a inexistência das vontades?
Perguntar. A questão como disparador da vontade. A questão sobre o que se cria revela a vontade - de discussão, de criação, de abstração, daquilo que ainda não tem nome? A questão sobre o que se quer revela a criação - em cena, pelo corpo, pelo texto, pelo espaço?

questão II: Quais questões enxergo no outro? Em mim? Em nós que somos todos?
Da ação subjetiva para a pergunta. Da pergunta para ação, de volta. Da nova ação para novas subjetividades. Para composições. Para escolhas. A intuição revela, a percepção reflete, a prática encontra, perde, reverte, esvazia, pergunta outra vez.

questão III: Onde está o corpo?
Provocar o corpo como necessidade. Provocar o corpo como discurso. Provocar o corpo como expressão. Não o corpo-dança-prévio. Não a pseudo-necessidade-oficial da linguagem. O corpo inteiro, que diz, olha, organiza, explora, move. E como tem explodido.

questão IV: Num fluxo de idas e vindas, para onde ir?
questão IV. Esta, hoje. Contornos de nonsense em mergulhos apropriados de sentidos.


EXPERIMENTO DIURNO
De vez em quando / todos os olhos se voltam pra mim,
de lá de dentro da escuridão,/ esperando e querendo / que eu seja um herói.
Mas eu sou inocente, / eu sou inocente,/ eu sou inocente.
De vez em quando/ todos os olhos se voltam pra mim,
de lá do fundo da escuridão / esperando e querendo /que eu saiba.
Mas eu não sei de nada,/ eu não sei de ná,/ eu não sei de ná.
De vez em quando / todos os olhos se voltam pra mim,
de lá do fundo da escuridão/ esperando que eu seja um deus
querendo apanhar, querendo que eu bata,/querendo que eu seja um Deus.
Mas eu não tenho chicote, / eu não tenho chicote,/ eu não tenho chicó.
Mas eu sou até fraco,/ eu sou até fraco,/eu sou até fraco.



Aos poucos. Muito aos poucos. Dois. Três. Outros. Nenhum, e muda. E uma, mais uma, mais uma que vem com mais duas.
Constrói-se delicadamente um espaço de pequenas confissões, todas femininas. Os corpos que começam a experimentar-se revelam metamorfoses de si, em si. E deste mote em diante estava dado um caminho de investigação que se mostra experimento puro. Olhar-se no espelho junto a Clarice, a Guimarães, a Manoel, a nós mesmas.
A turma recebe passagens de quem consegue passar por aqui assim, rapidamente, como quem visita e traz um pequeno presente - fundamental. São comentários, modos de ver, movimentos em conjunto que vem, passam e ficam como rastro-construção.

olhar I: espelhos.
Olhar o que não foi visto, ou não por este ângulo. Olhar aos poucos, com tempo e calma. Mostrar à outra o que ver. Escolher. Criar luz com os reflexos. Olhar como quem recita um poema. E subitamente lançar-se em quedas até perder o chão. Esse também é um modo de ver.

olhar II: disponibilidade nos olhos de todo o corpo.
Lugares profundos de pequenos segredos, de grandes encontros, de rasgar algumas cascas, de revelações de dentro. De maturidade, reflexão, humanidade e prazer. De intensidade que enche os olhos de imagens, alguma água, corpos em pulsação.

olhar III: desformar
Manoel de Barros, empresta seu verso (e não sabíamos que seria como asas in memoriam...)? O que desforma recria as gentes pelo que borra, pelo que torce, pelo que grita escondido por trás da máscara, pelo que se molda debaixo ou por cima das cadeiras e dos outros corpos. Pelo que queda.

olhar IV: com palavras, traços e cores.
As influências visuais passaram a habitar os corpos. De desenho a objetos, de pintura a construções de instalações por onde habitam os corpos. Fotografias que deformam para ser outra. Vontades e ações de recorte em vídeo, de aproximação e detalhe. 
http://youtu.be/FBgpfroK8m8

olhar V: todos os olhos
Lugar de apaixonamento. Abstração e coerência, presença, amplitude, genuinidade e transformação. Ganhou forma para reafirmar o que é fundo. Rabiscar o rosto para olhar o avesso no espelho, explodir em humor para revelar os calos. Agora é que está começando, embora já esteja há tempos. A dramaturgia passou a ser também espaço de investigação.


EXPERIMENTO DO LADO DE FORA
O experimento passa a ser o discurso, que passa a ser experimento. Questiono sobre as consolidações - não as estagnações, mas aquilo que pode se estabelecer, criar espaço permanente de aprofundamento e criação. Qual o lugar dos artistas envolvidos (artistas-vocacionados, artistas-orientadores, artistas-coordenadores) para além da presença passageira? Para além do lugar-vocacional-comum do transitório, do se-for-pra-ser-mais-faça-você-mesmo? Para além de, mais um ano, terminar envolvida além do que se percebe com a presença (no sentido existencial (?)) dos vocacionados, e consciente de que a necessidade artística e humana é de muito mais?
O lado de fora deveria ser de dentro. Mas é tão externo na não-estrutura. Na não-escuta. No tempo restrito que cria, de novo, e de novo, e mais uma vez, lacunas irreversíveis em processos fortes porém necessitados de aporte, escora, parceria. Tão contraditório na sua liberdade de criação desamparada pelas impossibilidades. Qualquer semelhança com o lugar do artista não é mera coincidência.

Isto é um rascunho.                      

2014

   

Marcadores: , , , ,

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial