Encontros Potencializadores - CEU Uirapuru
Encontros potencializadores
AO: Carla Tiemi
Equipamento: CEU Uirapuru
Coordenação/Equipe: Centro-Oeste: Yaskara Manzini
O
trabalho de artista-orientador dentro do vocacional potencializou a minha
pesquisa sobre criação através de processos colaborativos dentro e fora da
dança. Nos encontros pude explorar com os vocacionados diversos procedimentos
onde cada um trouxe, artisticamente, olhares diferentes sobre um mesmo “tema”,
ora com mais dificuldades de se expressarem ora com menos. Tive uma primeira
conversa com eles para conhecê-los e entender quais eram as seus desejos
enquanto artistas e como eu poderia explorar e ocupar esse espaço que era tão
deles quanto meu, dialogamos bastante para achar esse espaço comum e como criar
artisticamente esse novo lugar e escolhemos trabalhar/desenvolver procedimentos
variados para criação. Todos os encontros começavam com uma roda de conversa,
onde havia propostas, leituras, indagações, divagações e
muitos tantos.
No
primeiro encontro propus que através de um “brain storm” esvaziassem a mente e
escrevessem no papel tudo que desejassem e, a partir dai, pedi que escolhessem
algumas palavras e as traduzissem pelo gesto, no início percebi que todos
ficaram muito tímidos em se expor, apesar de alguns deles já trabalharem com
dança, mas aos poucos foram se liberando, porém os gestos principais que
surgiam eram os “mais fáceis” ou “cotidianos”, que provavelmente fazem parte da
memória corporal de cada um e é difícil se livrar dessa memória repentinamente,
mas a ideia desse exercício era exatamente liberar todas as possibilidades para
que surgissem novos gestuais. Em outro momento propus que se utilizassem também
dos gestos para me contarem sobre a personalidade de cada um. Esse exercício
também foi uma busca muito intensa, pois logo de início já pedi que tentassem
sair do comum e, por isso alguns tiveram dificuldades de desenvolver a
proposta.
Trabalhamos
em alguns encontros com essas mesmas propostas e a cada vez avançávamos um
pouco mais. Ver a construção do corpo deles e da maneira de pensar sobre essas
palavras, tão presente no nosso vocabulário, foi muito intenso, tanto para mim
quanto para eles, que saíram da comodidade corporal e investigaram outras
possibilidades de se movimentarem, percebendo suas potencialidades.
Ao
longo desse processo, eles foram desenvolvendo pequenas células onde pudemos
trabalha-las de diversas maneiras, ora propostas por mim, ora propostas por
eles. O mais interessante desse jogo foi a descoberta de novas qualidades
corporais, o que tornou tudo mais interessante, pois todos os experimentos,
divagações, confusões, foram filmadas, e eles mesmos puderam olhar para si e
perceber como é seu corpo em movimento e o que gostariam de potencializar ou
não.
Em
outro encontro estudamos alguns ideogramas japoneses, experiência que eu vivenciei
com a Morena Nascimento e foi muito interessante pesquisar essa movimentação no
meu corpo. Estudamos como são escritos, como são os traçados, o início de cada
um, o significado do traço grosso e o fino, então, pedi para que se utilizassem
dessa pequena pesquisa para escrever os ideogramas com o corpo, se importando
com o traçado, com as linhas, o volume, o balanço que cada um tem e, assim,
desenhá-los no espaço. Surgiram materiais incríveis, em especial de uma
vocacionada, Aurileide, mulher de uns 40 e poucos anos, nunca dançou e procurou
o vocacional dança porque o médico pediu que ela fizesse algum tipo de
exercício e indicou a dança. Surpreendi-me muito com ela, pois desde o primeiro
encontro com ela, já se mostrou muito disponível mentalmente e corporalmente,
mesmo com as suas “limitações técnicas corporais” e, nesse exercício o material
que ela propôs, foi extremamente poético, sensível e delicado. Muito diferente
dos materiais de outros vocacionados que foi mais mecânico. Depois dessa
construção dos ideogramas, propus alguns jogos de interação entre eles para que
pudessem se apropriar ou não da movimentação do outro, mas que conseguissem
trabalhar nesse coletivo desenvolvendo mais o que já possuíam. Também filmamos
todo o material que eles criaram e deixamos reservado para explorar
futuramente.
Desenvolvi
com eles um jogo de improvisação onde cada um falava o que gostava em si, mas a
regra era que tudo o que falavam era uma disputa e todos precisavam ganhar o
jogo, então podiam falar mais alto, utilizar de alguma habilidade, mostrar o
corpo, enfim, ofereci toda liberdade para que ganhassem a disputa, e o jogo se
desenvolveu dessa maneira criando coisas absurdas e inovadoras. A proposta
desse jogo era chegar ao absurdo e caricato e, todos me surpreenderam com
propostas ótimas, inclusive dois meninos que foram conhecer o vocacional dança
neste dia, então filmei e mostrei para eles para que vissem o que precisava ser
feito para chegarem na essência da proposta, e aos poucos foram se soltando
mais e entrando de fato na proposta. Foi um encontro com muito potencial, pois
mesmo aqueles que eram mais tímidos trouxeram de si o que têm de melhor e não
só exploraram como mostraram para todos que era o melhor.
Quase
todos meus vocacionados trabalham com música, então ao longo de todo o processo
desenvolvido, pedi que trouxessem a música para os encontros, assim pudemos
explorar e investigar juntos essa intersecção de linguagens e ainda estamos construindo
maneiras de trabalhar essa intersecção. Assim como a fotografia; tenho uma
pesquisa particular com relação às artes visuais e, principalmente a
fotografia; então levei algumas fotografias de artistas que gosto muito e pedi
que fizessem uma releitura dessas fotos e se fotografassem entre si com o
celular, (ainda estamos em processo, mas algumas imagens ficaram bem legais),
outro momento será o encontro com a AO das Artes Visuais, para conversarmos um
pouco sobre fotografia.
Em
todos os encontros desenvolvi com eles jogos cênicos para a criação, todos os
exercícios partem de algum jogo para que possam explorar outros momentos
corporais como a fala, expressão, movimento, música, gestuais e entre outros. Os
encontros são muito potentes, tanto para as descobertas deles, quanto para as
minhas. O processo todo dentro do vocacional foi e ainda está muito potente,
com alguns imprevistos no meio do caminho, como faltas, desencontros e afins,
mas nada que altere o desenvolvimento artístico dos encontros e dos
vocacionados, percebo que eles estão pesquisando novas maneiras de se
expressarem e conviverem/viverem com a arte.
Carla Tiemi Taniguchi
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