sábado, 22 de novembro de 2014

Encontros Potencializadores - CEU Uirapuru

Encontros potencializadores

AO: Carla Tiemi
Equipamento: CEU Uirapuru
Coordenação/Equipe: Centro-Oeste: Yaskara Manzini

O trabalho de artista-orientador dentro do vocacional potencializou a minha pesquisa sobre criação através de processos colaborativos dentro e fora da dança. Nos encontros pude explorar com os vocacionados diversos procedimentos onde cada um trouxe, artisticamente, olhares diferentes sobre um mesmo “tema”, ora com mais dificuldades de se expressarem ora com menos. Tive uma primeira conversa com eles para conhecê-los e entender quais eram as seus desejos enquanto artistas e como eu poderia explorar e ocupar esse espaço que era tão deles quanto meu, dialogamos bastante para achar esse espaço comum e como criar artisticamente esse novo lugar e escolhemos trabalhar/desenvolver procedimentos variados para criação. Todos os encontros começavam com uma roda de conversa, onde havia propostas, leituras, indagações, divagações e muitos tantos.
No primeiro encontro propus que através de um “brain storm” esvaziassem a mente e escrevessem no papel tudo que desejassem e, a partir dai, pedi que escolhessem algumas palavras e as traduzissem pelo gesto, no início percebi que todos ficaram muito tímidos em se expor, apesar de alguns deles já trabalharem com dança, mas aos poucos foram se liberando, porém os gestos principais que surgiam eram os “mais fáceis” ou “cotidianos”, que provavelmente fazem parte da memória corporal de cada um e é difícil se livrar dessa memória repentinamente, mas a ideia desse exercício era exatamente liberar todas as possibilidades para que surgissem novos gestuais. Em outro momento propus que se utilizassem também dos gestos para me contarem sobre a personalidade de cada um. Esse exercício também foi uma busca muito intensa, pois logo de início já pedi que tentassem sair do comum e, por isso alguns tiveram dificuldades de desenvolver a proposta.
Trabalhamos em alguns encontros com essas mesmas propostas e a cada vez avançávamos um pouco mais. Ver a construção do corpo deles e da maneira de pensar sobre essas palavras, tão presente no nosso vocabulário, foi muito intenso, tanto para mim quanto para eles, que saíram da comodidade corporal e investigaram outras possibilidades de se movimentarem, percebendo suas potencialidades.
Ao longo desse processo, eles foram desenvolvendo pequenas células onde pudemos trabalha-las de diversas maneiras, ora propostas por mim, ora propostas por eles. O mais interessante desse jogo foi a descoberta de novas qualidades corporais, o que tornou tudo mais interessante, pois todos os experimentos, divagações, confusões, foram filmadas, e eles mesmos puderam olhar para si e perceber como é seu corpo em movimento e o que gostariam de potencializar ou não.
Em outro encontro estudamos alguns ideogramas japoneses, experiência que eu vivenciei com a Morena Nascimento e foi muito interessante pesquisar essa movimentação no meu corpo. Estudamos como são escritos, como são os traçados, o início de cada um, o significado do traço grosso e o fino, então, pedi para que se utilizassem dessa pequena pesquisa para escrever os ideogramas com o corpo, se importando com o traçado, com as linhas, o volume, o balanço que cada um tem e, assim, desenhá-los no espaço. Surgiram materiais incríveis, em especial de uma vocacionada, Aurileide, mulher de uns 40 e poucos anos, nunca dançou e procurou o vocacional dança porque o médico pediu que ela fizesse algum tipo de exercício e indicou a dança. Surpreendi-me muito com ela, pois desde o primeiro encontro com ela, já se mostrou muito disponível mentalmente e corporalmente, mesmo com as suas “limitações técnicas corporais” e, nesse exercício o material que ela propôs, foi extremamente poético, sensível e delicado. Muito diferente dos materiais de outros vocacionados que foi mais mecânico. Depois dessa construção dos ideogramas, propus alguns jogos de interação entre eles para que pudessem se apropriar ou não da movimentação do outro, mas que conseguissem trabalhar nesse coletivo desenvolvendo mais o que já possuíam. Também filmamos todo o material que eles criaram e deixamos reservado para explorar futuramente.
Desenvolvi com eles um jogo de improvisação onde cada um falava o que gostava em si, mas a regra era que tudo o que falavam era uma disputa e todos precisavam ganhar o jogo, então podiam falar mais alto, utilizar de alguma habilidade, mostrar o corpo, enfim, ofereci toda liberdade para que ganhassem a disputa, e o jogo se desenvolveu dessa maneira criando coisas absurdas e inovadoras. A proposta desse jogo era chegar ao absurdo e caricato e, todos me surpreenderam com propostas ótimas, inclusive dois meninos que foram conhecer o vocacional dança neste dia, então filmei e mostrei para eles para que vissem o que precisava ser feito para chegarem na essência da proposta, e aos poucos foram se soltando mais e entrando de fato na proposta. Foi um encontro com muito potencial, pois mesmo aqueles que eram mais tímidos trouxeram de si o que têm de melhor e não só exploraram como mostraram para todos que era o melhor.
Quase todos meus vocacionados trabalham com música, então ao longo de todo o processo desenvolvido, pedi que trouxessem a música para os encontros, assim pudemos explorar e investigar juntos essa intersecção de linguagens e ainda estamos construindo maneiras de trabalhar essa intersecção. Assim como a fotografia; tenho uma pesquisa particular com relação às artes visuais e, principalmente a fotografia; então levei algumas fotografias de artistas que gosto muito e pedi que fizessem uma releitura dessas fotos e se fotografassem entre si com o celular, (ainda estamos em processo, mas algumas imagens ficaram bem legais), outro momento será o encontro com a AO das Artes Visuais, para conversarmos um pouco sobre fotografia.

Em todos os encontros desenvolvi com eles jogos cênicos para a criação, todos os exercícios partem de algum jogo para que possam explorar outros momentos corporais como a fala, expressão, movimento, música, gestuais e entre outros. Os encontros são muito potentes, tanto para as descobertas deles, quanto para as minhas. O processo todo dentro do vocacional foi e ainda está muito potente, com alguns imprevistos no meio do caminho, como faltas, desencontros e afins, mas nada que altere o desenvolvimento artístico dos encontros e dos vocacionados, percebo que eles estão pesquisando novas maneiras de se expressarem e conviverem/viverem com a arte.

Carla Tiemi Taniguchi

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