sábado, 22 de novembro de 2014

PRÓLOGO - sobre o amanhã - José Romero - Coordenador de linguagem VOCACIONAL DANÇA

ENSAIO DE PESQUISA 2014
 José Romero
Coordenador de linguagem do vocacionaldança

PRÓLOGO - sobre o amanhã
Na edição 2014 o Programa Vocacional está distante das necessidades do VOCACIONALDANÇA. Tudo que foi argumentado em 2013 pela equipe de AOS e Coordenadores não foi levado em conta.
 Então, reescrevo sinteticamente: precisamos ter uma coordenação de formação que traduza as especificidades da linguagem. Precisamos de uma coordenação geral por região que possa acompanhar os processos artísticos de perto para entender as sutilezas de cada equipe. 
A partir daí podemos pensar em formações e territorializações gerais.

COLAGENS DE IDEIAS E TRECHOS INICIADOS SOBRE OS DESEJOS QUE ME
LEVARAM PELO ANO DE 2014. EIS O MEU ENSAIO!
NÃO CONCLUO, NÃO DEFINO, NÃO REFLITO, NÃO, NÃO E NÃO.
 
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Fig 1 -  Mostra do Vocacional Dança 2014

Dádiva
Onde atua o vocacionaldança vejo uma DÁDIVA no sentido da sociologia de Zigmund Baumam[1]. Pois um corpo que vive sem a poesia do movimento não está pronto para ser luz[2].

Baumam, coloca que em sua forma extrema a dádiva seria totalmente desinteressada e ofertada independentemente das qualidades de quem as recebe. Interesse, aqui, significa inexistência de remuneração de qualquer modo ou forma. Julgada pelos padrões comuns de troca e posse, a pura dádiva é pura perda. Afinal, ela representa ganho só em termos morais.
Em sua forma pura a dádiva é oferecida a quem precisa, apenas e simplesmente porque precisa. A pura dádiva é o reconhecimento de humanidade no outro. No oposto da dádiva está a troca equivalente, que afinadíssima com a lógica capitalista dá apenas aquilo que a pessoa tem a condição de devolver.

Dádiva também são os decretos celestes  que recebemos de Deus, estudados e revelados pelos Mestres para nos auxiliar a melhorar nossas vidas.


Da composição e estética como forma de se alçar no mundo

Eu dizia que criar uma obra, deixar um traço, gravar, não tem mais o mesmo sentido, o mesmo valor que antes do dilúvio informacional. A desvalorização da informação é uma consequência natural de sua inflação. A partir de então, o propósito do trabalho artístico se desloca para o acontecimento, ou seja, em direção à reorganização da paisagem de sentido que, fractalmente, em todas as escalas, habita o espaço de comunicação, as subjetividades de grupos e a memória sensível dos indivíduos. Ocorre alguma coisa na rede dos signos, assim como no tecido humano (LEVY. 2002).
Quando afirma que a experiência estética resignifica as coisas como possibilidades e que, a arte dá forma, intencionalmente desenvolvida a essas possibilidades, para que se materializem de maneira esclarecida, coerente, “apaixonada” e singular.

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Fig 2 - Mostra do Vocacional Dança 2014

Vivemos tempos de mudanças profundas em todas as dimensões de nossa vida em sociedade. E, em tempo de mudança, fica muito difícil fazer prognósticos confiáveis sobre o futuro e adotar medidas efetivas, antes as questões, às quais enfrentamos em cada momento do presente. Mobilidade e aleatoriedade são as constantes deste tempo e não o são menos em educação. Mudanças de planos, reestruturações organizacionais, reconsiderações conceituais, etc., tentativas contínuas de adaptação a realidades que parecem configurar-se,diante dos nossos olhos, de uma determinada maneira, mas que, quando preparamos a resposta educacional, já não estão onde estavam, já não são exatamente como eram. (IMANOL. 2009).


Introduction
O presente texto pretende refletir sobre os processos artísticos/educacionais como experiência estética a partir do entendimento de que a experiência estética decorre da prática e pesquisa artística dialógica, se ancora na  troca de saberes e subjetividades, e ainda, que ela se faz potencialmente na experiência cotidiana.
Para fundamentar este postulado, recorro a autores cruciais para o desenvolvimento desse tema como: John Dewey (1934), Jacques Ranciére (2002) e Imanol Aguirre (2009).
O mestre será menos mestre e mais ignorante.

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Fig 3 - Mostra do Vocacional Dança 2014

Passo um
Temos que considerar, apoiado em Aguirre (2009), que os espaços artísticos/educacionais são territórios com potência para gerar experiências estéticas por meio de diversos procedimentos que respeitem as singularidades e desejos dos estudantes e professores (ou orientadores) envolvidos independente da linguagem escolhida. Nesse sentido a relação se estabelece na aproximação das realidades trazidas pelos agentes.  Trata-se de uma relação processual onde a experiência estética está presente em sua potência para deflagrar novos olhares e percepções sobre o objeto pesquisado.
Uma experiência estética que acontece em meio a processos artísticos.
Nessa direção a prática da relação artística/educacional e criativa deve ser entendida, com base em Ranciére (2002), no livro o mestre ignorante. Para esse autor, que afirma que o professor/artista orientador não pode subjulgar o conhecido dos alunos e deve promover a emancipação do sujeito, todos estão em estado de aprendizado, em um estado de experiência e pesquisa sobre o espaço, as pessoas, o fazer artístico, não é, portanto, um situação de professor que ensina o aluno, mas um encontro de troca de experiências que amplifica os conhecimentos que são trazidos por qualquer um dos envolvidos. Nessa configuração as mais diversas formas culturais podem se fazer complementares e dialogar.

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Fig 4 - Mostra do Vocacional Dança 2014

Passo final
Podemos concluir, então, que quando estamos diante de um processo artístico/educacional /criativo que se faz pautado pela pesquisa que se instaura apoiada nos saberes coletivos, caminhamos na direção potencializar uma infinidade de interpretações e possibilidades de experiências estéticas, que conforme Dewey (1934) reside nos objetos e coisas como possibilidades latentes prontas para serem reveladas cotidianamente.

Outro passo
 Esse é o lugar da arte como política, uma política de enfrentamento não (somente) nos seus objetos poéticos, mas nos seus modelos de atuação, que visam, entre outros, instaurar a potência reflexiva do corpo no que ele tem de humano, dentro do entendimento de que a obra de arte é uma experiência estética em fluxo e aberta Dewey (1934,) para que possamos imaginar novos mundos e soprar neologismos construtores de novas ordens lastreados nas experiências que nos tocam diariamente.

O RUMO DESSE ENSAIO EM SETEMBRO FOI “DESLOCAMENTO” ANEXO TRECHO DO TEXTO/ARTIGO QUE FOI ENVIADO PARA A PUBLICAÇAO NA REVISTA VOCARE.
ATENDENDO AOS MEUS DESEJOS insiro AS DIVULGAÇÕES DE ALGUMAS AÇÕES QUE MOTIVARAM A EQUIPE + VOCACIONADOS NESSE LONGO 2014

deslocaçâo
Deslocamento está no entre. Nem o início nem o fim.
Vejo-te hoje na ação cultural da zona sul e amanhã, logo ali, na zona oeste. Entre uma e outra ação cultural uma noite se passou. Um espetáculo de dança no Centro Cultural São Paulo, um show de música na TV, uma serie de alongamentos e um banho quente. Outros deslocamentos.
Deslocamento que coloca em desuso a vocação crua de instaurar o processo artístico emancipatório. A emancipação é o devir. O plano de voo que traçamos indica que vamos nos jogar no buraco espesso e luminoso do movimento/deslocamento para moldar um neo princípio/objetivo.  O ir e vir de toda uma equipe em caráter de turista aprendiz[3], em busca de sentido, trabalho, negócio, deriva. A artificação[4] dos processos[5].

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Fig 5 - Mostra do Vocacional Dança 2014

O nomadismo no espaço público e a imaginação de possibilidades. Em fluxo e movimento perceber os motivos de estar em deriva pelo espaço e se reencontrar com a cidade. Uma rua estreita, um portão de ferro, uma fachada envelhecida, um matagal e a linha do trem.
Gostamos desses desvios.
Ser um nômade no pensamento, nos cruzamentos de intenções. O ser curioso que como o cachorro de rua não se contenta com o espaço do quintal. Um criador de situações e ações em conjunto alargando os “entres”.
Já avisei que a cidade é um vão[6]
A menor distância entre dois pontos é uma reta[7].
Qual debate que geramos nas maiores distâncias possíveis?
O andar em curva. O encontro em espiral. O cruzamento lateral.
No trajeto a mais que ganho quando me perco na cidade reconheço um retorno. Corpo nômade com bússola, ampulheta, fósforos e um enorme mapa amarelado com um retumbante XIS.
Nós nos reconhecemos andarilhos, poetas e artistas, que por inclinação ao desassossego, resolvemos nos mover.  Valorizamos o encontro, o gosto pelo movimento. As cores que mudam na paisagem.
Deslocamento e movimento porque para viver a crioturbação[8] entre a imaginação (deslocamento) e o corpo (movimento), nós escolhemos a fuga do tédio opressor dos espaços comportados. Não temos galerias, festas, salas de ensaios, revistas especializadas e sites.
Temos alguma liberdade e inúmeras vezes isso é divertido.
Escolhemos dançar o corpo nômade na metrópole pela convicção de que, a vertigem que a cidade de São Paulo provoca, extrapola a ordem natural das coisas.
No deslocamento/movimento produzimos os (nossos) verdadeiros vãos. Simulacros repletos de risos gozosos, pois assim, suspeitamos que não impulsionamos os objetos consumíveis-produtivos tão livremente franquiados pela política cultural vigente[9].
Movimento e deslocamento para viver a contradição






[1] BAUMAM, Zigmund. aprendendo a pensar com a sociologia. São Paulo: Editora Oficial  do Estado, 2002;
[2] Movimento  está aqui entendido como algo amplo que engloba as cores, música, palavra e pensamento.
[3] O turista aprendiz (1928) obra de Mário de Andrade (1893-1945) relata sua pesquisa etnográfica pelo norte do Brasil a fim de traçar as coordenadas de uma cultura nacional.
[4] Definição: Artificação é o processo pelo qual atores sociais passam a considerar como arte um objeto ou atividade, que eles, anteriormente não consideravam.  Ver artigo: Que é Artificação?  De Roberta Shapiro. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922007000100006> acesso em 29/jul/2014.
[5] Aqui é evocado o processo como uma ação em si que já possui toda a potência artística.

[6] As vitrines música de Chico Buarque de Holanda
[7] Segundo a geometria Euclidiana.
[8] Crioturbação: nas superfícies horizontais o solo alternadamente gelado e degelado sofre uma mistura, intricamento dos materiais. Dicionário de usos do Português do Brasil – Francisco S. Borba. Editora Ática São Paulo: 2002.
[9] LYOTARD, Jean-François. O acinema in teoria contemporânea do Cinema – pós estruturalismo e filosofia analítica vol. 1 RAMOS, Fernão Pessoa (org.). São Paulo:  Senac, 2004.

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