Ensaio de Pesquisa - Ação - Artista Orientadora Joyce Silva
O ensaio a seguir nem sei se pode
ser chamado de ensaio. Não tem formas, nem um layout atraente. Apenas linhas
seguidas de palavras, combinações de frases, oras solitárias, oras barulhentas.
Apenas um amontoado de algo escrito.
Vocacional Dança... Dança da Vida!
Tempos e contratempos faz parte da dança também... E não só da vida!
Orientar ou ser orientado eis a questão?
Ou Seria... Orientar ou ficar desorientado!!
No frescor da tarde fria... Maio, junho, julho...
Agosto... agosto de Deus... Setembro... Outubro...
Novembro... Dezembro a Deus pertence....
Horas... Passam...
Oras lentas... Oras rapidinhas...
Continua.... Propõe... ( des...propõe).
Um pé ali... Outro acolá...
Experimenta só... Improvisa só...
***
Chaves... Salas... Incertezas...
Hoje pode ser aqui? Amanhã não se sabe...
Hei!! Fulano onde está cicrano???
A resposta é:
Não sei acho que no teatro...
Procuras constantes, esperar!! Esperar uma chave... uma sala livre... ou sei lá!!
Resolução não!
Apenas... Ah! Vê essa aí mesmo... As salas cujo nome lhe são denominadas como
Piá 1... Piá 2... Piá 3(sala de dança?!?) ... 31 a sala do projeto guri...
Entre tantos vai e voltas, se escuta... Ah... Hoje livre a sala de dança (Piá 3)!!
Sério?
Sim...
Obrigada!
A graça de poder realmente usar uma sala de dança qual é??
É a graça de não ser fria. Com um chão mais “apropriado”. Enche os olhos... Cores claras...
Linóleo no chão?
Sim... Linóleo... Mas os barulhos, jogos, competições continuam lá.
Muitas vezes conflitando com sua solidão de não ter nenhum vocacionado.
Emancipação...
Ser nômade...
Com tantos vai e voltas de vocacionados talvez você se torna mais o emancipado do que o propositor dessa emancipação?
(E assim começa os questionamentos)
E se Você for o próprio ser emancipado. Essa também pode ser uma proposta e geralmente é a realidade??
(Procurando respostas... com outras perguntas).
A licença poética acima
é apenas, um breve “desabafo” ou um inicio de uma série de questionamentos que
aparentemente não terá fim por uma nova, aliás não mais nova artista orientadora
que está em processo.
Esta
série teve inicio em 04 de
maio de 2015, CEU Aricanduva, onde começa uma nova jornada, antiga para muitos
que se encontravam por ali. Porém, para essa artista orientadora, nova. Região
leste é um dia chuvoso e frio, repleto das expectativas. Uma nova
"realidade". Discussões, propostas, realizações e não realizações de
diversas e diferentes ideias. Que rufem os tambores e comece uma nova
peregrinação.
Com mais uma licença... poética ou não poética mais
com licença...
Vocacional > vocar - cionar
|| ||
Ser
criativo e despertar a emancipação desse ser... Propor e aceitar propostas...
provocar, instruir e acionar, ativar no ser, no corpo, o que de melhor ele pode
ter, o que pode oferecer, até mesmo o que não imaginar ter e ser. Mas os
questionamentos dessa artista afloram junto ao processo, pois, como despertar tudo
isso e a emancipação em pessoas que vai e voltam ou normalmente vai e nunca
voltam?
Assim, os
dias se passam na região leste, mas precisamente no Jardim Romano. Bairro
simples, de casas inacabadas, de terrenos baldios. Mas que ao fim da rua Capachós
existe um centro unificado o CEU Três Pontes. Um ambiente frio e barulhento,
com poucas expectativas e sem margens ou digamos brechas “aberturas” para ser
um “ser nômade” dentro dele.
Dialogar...
E ser ouvido de que forma ou jeito? Vocacionados itinerantes, um histórico de esvaziamento
de anos anteriores que refletem até hoje, segundo alguns integrantes, pessoas
de grupos da região o Programa Vocacional vem enfrentando essa dificuldade
dentro desse espaço que poderia ser tão bem aproveitado por todos os jovens que
por ali passam ou que por ali não passam.
Talvez
manter a expectativa e firme na batalha é o que há para a “nova” artista
orientadora, afinal artistas são pessoas que tem em si próprio a capacidade de
vê a poética de cada situação ou ao menos deveria ser assim. Sensibilidade
aflorada.
Mas
parece que com a situação que o ambiente/espaço lhe são dadas faz com que suas
orientações tenham altos e baixos.
Um
exemplo simples e pelo visto mais comum, o fato de ter um espaço adequado para
fazer suas atividades parece ser o “sonho de consumo” de todos os envolvidos.
Quando se diz “envolvido” são todos aqueles que digamos ou intitulemos de
sonhadores da arte, vocacionados, que neste percurso por manterem uma singela
chama acesa se vai... Em busca do que? Fica a incógnita. Pois, com as inconstantes
presenças, compreender certos corpos e interesses se tornou algo um tanto
desafiador.
Enfim, mas
quando se tem o espaço definido some as pessoas e daí surge mais um
questionamento, na verdade vários questionamentos, será que as idas e vindas, a
procura de um ambiente razoável, para acontecer a atividade os deixam
cansados?? Será? A ponto de não voltarem mais? Afinal, trocas de salas constantemente,
hoje aqui, amanhã acolá, deixaram muitos com aparências de insatisfeitos com a
situação.
Mas essa
saga vivida por uma artista orientadora nova no programa a deixa com uma série
de interrogações na cachola, sim! Seu primeiro ano no Programa e talvez seja
por isso que uma série de questionamentos domina um ser que ao meio de um local
agitado, barulhento se encontra em um profundo silêncio, com pensamentos e ideias
em desordem, pois, a cada encontro se depara em um estado de “surpresa”. E essa
desordens atrapalham inclusive esse “ensaio” que (eu) essa artista orientadora,
aqui escreve, exatamente esse emaranhado de palavras e frases que escrevi, ao
meio do barulho... Pois o barulho se tornou a licença poética para essa
escrita.
E assim
como o barulho faz parte dele, lidar se com as surpresas também é parte dele.
Aliás, a surpresa se tornou parte do processo artístico, ou seja, a qualquer
momento pode ou não aparecer alguém interessado um “sonhador da arte” pelo
menos naquele dia em fazer algo diferente e dispostos a conhecer o movimento
que seu corpo faz, ou a qualquer momento pode aparecer alguém mais curioso em
relação a dança que tenha alguma angústia corporal e queira uma orientação.
Ou muitas
das vezes alguém que só queira conversar sobre os problemas financeiros, as
dificuldades de encontrar um serviço e apenas contar sobre suas angústias
pessoais, problemas familiares ou escolares. Lidar com os imprevistos foi o que
o Vocacional me ensinou e ensina essa orientadora que aqui continua a escrever,
porque mesmo que o orientador idealiza algo que acredita ser bom para tal
turma, a tal turma não aparece, quando aparece alguém temos que ambos se adaptarmos
e lidar com situações novas.
Re -
criar. Reinventar... Afinal o artista - vocacionado tem total autonomia de
dizer o que quer e como quer. Sem mesmo antes de praticarmos essa autonomia no seu
ser. Com os que vinham e iam trabalhávamos um momento de olhar para si
próprio. Instiga los em transitar, potencializar o que eles mesmo queriam, aos
poucos alguns foram comparecendo com mais frequência, ao ponto de
materializarmos um pouco dos nossos estudos corpóreos tanto em orientações
quanto em mostra de processo, momento este sublime de compartilhamentos. E ao
juntar todos vocacionados e ao verem todas as linguagens unidas, no bate papo
descontraído chegam a conclusão de que arte é tudo.
E
o que é tudo para eles eram o cantar, tocar, atuar, dançar, escrever, ler,
sendo assim, será que o processo para muitos haviam chegado ao seu ápice?
Mais
questionamentos a ser desdobrados... Ao ver os vocacionados dos quais (eu) a
novata e agora não mais novata orientadora teve a honra de trabalhar, fica perceptível
que a arte é o abrigo para os vocacionados, o refúgio para suas angústias
interiores aquelas da frase do autor desconhecido do vocacional literatura que
marcou nossa reflexão em umas das mostras de processo, a frase se desdobrou da
seguinte maneira, em “caso
de dor dance” ou seria “ dance em caso de dor”?, interrogada
dessa maneira pela coordenadora de equipe Peticia Carvalho. E com essa e tantas
outras perguntas seguimos.
E
desdobrado em orientação, ainda questionamos que dor seria essa? E nos
perguntamos será que realmente “chegamos” em um acordo comum de processo?
Estamos realmente seguindo?... Se ele já estiver encaminhado? Será que nos vemos
em um novo processo? Será? Ou apenas continuação de um trabalho que esta tendo
em seu dia a dia nuances, tons, formas e acúmulos de ideias diferentes mais
com... algo em comum? Quanta complexidade!!! Quanta!!! Com-ple-xi-da-de...
O
processo vivido é o misto da solidão e dos barulhos instalados naquele local. Um
combinado de músicas contemporâneas... músicas do cotidiano... com poemas
propostos...
Pois,
um dia se tem 15 a 17 vocacionados, no outro apenas 8, na outra semana apenas 5,
e na complexidade do dia a dia, no outro apenas fiéis 4 escudeiros... No outro
apenas 3 e o porque?? Porque eles e/ ou elas... vão... em busca de suas
necessidades maiores. A situação em que vivem requer decisões como do
vocacionado que prefere preservar sua identidade então chamamos apenas de Lipe...
Um
vocacionado empenhado, mas teve que procurar emprego pra ajudar em casa... Nós?
O apoiamos e enxugamos suas lágrimas, porque um lado há felicidade de já te
encontrado um emprego pelo o outro lado... a tristeza de ter que parar de
dançar... o que dizemos... é só uma fase... assim que se adaptar encontrará
outros espaços... horários flexíveis para retornar a fazer o que tanto se
identificou.
E
assim... entre tantos vai e voltas... ou vai e não volta... ao meio dessa
realidade de um histórico de esvaziamento... a sala desse CEU... Segue... Segue A dança da vida...
a partir do que os vocacionados se identificam... gostam...
A partir de suas sugestões... as orientações segue
com seus desejos e angústias
***
Com seus sonhos...Apropriam se dos diferentes meios do fazer artístico
E temperam suas vidas com o que há de melhor na arte!!
Como algum deles já disse é tudo muito difícil...
Ou
Fazendo certo ou errado eu VOU... Afinal EU TENTEI...
Isso para mim está sendo uma grande vitória.
Esse é os nossos artistas vocacionados e vocacionadas de cada dia...
Esse é o nosso vocacional
Vocacional de dança... Da Dança da Vida...
Impressa no corpo de cada cidadão a procura de ser cada dia um ser melhor dentro da nossa sociedade tão massacrada...
Como diz o poema que nos norteou para o trabalho corporal: "...Por enquanto é Tudo ainda". (O Teatro Mágico).
Joyce Silva
Artista Orientadora – Dança
Equipamento: CEU Três Pontes –
Equipe Leste 2
Abaixo segue o link do vídeo referente ao processo.
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