Considerações do Processo Como Artista Orientador de Artes Integradas
Programa Vocacional 2014
Considerações do Processo Como
Artista Orientador de Artes Integradas
Por Eduardo Mafalda - CEU Jardim Paulistano
“Os
C.E.U.s & os Céus
C.E.U.
pólo cultural
Céu
sideral, infinito, impessoal
Céu
palato bucal
Em
se tratando de “pólos”
Eu
conferi 45;
Eu
me identifiquei com o mais próximo o Paulistano.
Onde
no Programa Vocacional integrei-me no programa adjunto Artes
Integradas.”
Sebastião
Simão da Silva
São
Paulo – SP, novembro/2014
Não havia outra forma
de iniciar este relato das minhas atividades como artista orientador
senão com este poema de Sebastião Simão da Silva ou como prefere
ser chamado, Simão. Logo em nosso primeiro encontro ele disse que se
inscreveu para o Vocacional Artes Integradas porque sabia que este
seria o lugar onde teria voz para expressar-se e mostrar sua obra que
passeia por linguagens como a música e a poesia, o que nem sempre
foi possível em sua trajetória como artista. Eu, que por quatro
anos consecutivos fui artista vocacionado quando no programa havia
apenas a linguagem teatral e que alguns anos depois participei do
Vocacional Música, me vi refletido naquelas palavras e estava
convicto da escolha que fiz de ser artista orientador nesta
linguagem.
Ao
Simão juntaram-se Leontina (sua parceira na arte de viver), Daniele,
Elaine, Gabrielle, Mayra, Beatriz, Hanna, Larissa, Luana, Nayara,
Nubia e Bryan.
Paralelamente aos
domingos estive com o Grupo PEDERIDICULOS formado por: Arthur, Brüno,
Eric, Joyce, Soraia e Matheus. Grupo cuja identificação foi
imediata devido ao interesse em uso de recursos tecnológicos em suas
performances e em temas futuristas, música eletrônica, dança
contemporânea e teatro físico. Ao longo do processo o horário dos
encontros teve alguns ajustes; deixou de ser exclusivo e ao grupo
juntaram-se Felipe, Gabriela, Katerine, Allanis, Gabriele, Jacksiele,
Jéssica, Natali, Sabrina, Gabriela Santos, Joyce Miranda, Laura,
Vanessa, Danielle e Luisa.
Alguns
vieram apenas uma vez, outros mais vezes. Cada qual por seu motivo
foi ficando pelo caminho. E como lidar com as idas e vindas? Em
alguns casos até foi possível saber e entender os motivos das
ausências e desistências enquanto outros nunca saberei as
respostas, assim como outras perguntas e respostas ao longo do
processo e que pela necessidade de seguir em frente com as atividades
tiveram que ser deixadas para trás... Melhor assim?
Os
que ficaram por mais tempo cada vez mais foram se descobrindo nas
propostas e se apropriando do artes integradas, assim como eu.
Com
cada um que chegava conversávamos sobre nós mesmos, sobre o
Programa Vocacional, o porquê escolheram participar, seus interesses
e expectativas, as vivências artísticas que haviam tido, com que
frequência iam ao equipamento e a sua relação com o entorno. Isto
foi primordial para desenvolver propostas e solidificar o nosso
relacionamento.
E
ao receber os vocacionados que se inscreveram para participar por
diversas vezes me deparei com a questão: “O que é artes
integradas?”. Até onde eu enquanto performer
tenho
a resposta definitiva para esta pergunta? E enquanto artista
orientador? Será que existe uma resposta definitiva? Quantas
linguagens cabem em uma proposta? E quais propostas se enquadram
nesta linguagem? O que configura uma proposta de artes integradas? E
como fazer os vocacionados se apropriarem desta linguagem? Com base
nessas questões e nas experiências vividas, entendi que artes
integradas não é somente a junção e o uso de diferentes
linguagens artísticas, mas a pesquisa, a experimentação e a
apropriação das técnicas e propostas das linguagens artísticas
utilizadas nos encontros, e como elas dialogam, atravessam, instigam
e provocam os vocacionados, direcionando para um processo criativo
emancipatório.
Em
nenhum momento durante o processo houve a preocupação entre eu e os
vocacionados de se chegar a um resultado ou produto, mas sim de
experimentar, potencializar e adquirir conhecimentos a partir das
experiências vividas numa troca constante, atendendo as
individualidades e particularidades dentro do coletivo, respeitando a
trajetória de todos, ouvindo suas histórias, anseios e opiniões
sobre arte e vida, onde todos puderam à sua maneira se apropriar do
processo.
Pensando
nisso e dentro deste universo de possibilidades entendi que
subjetividade deve dialogar com objetividade para que haja algo
concreto e não apenas o caos, onde as idéias e ações estão
organizadas, mas que o espaço para estas seja amplo e livre, assim
como definiu a vocacionada Leontina Squillaro: “Falar
pouco e explicar. O importante é explicar. Chegar, dar sua palavra,
o recado que você trouxe e o mundo todo ouvir.”
Para
tal o contato com os processos dos outros artistas orientadores por
meio das reuniões artístico pedagógicas foi de suma importância
para alimentar o processo criativo e não somente reproduzir, mas
também pensar e adequar procedimentos que funcionaram nas turmas
onde foram aplicados.
O
início das atividades foi como aprender a andar e a falar novamente:
chegar, conhecer e entender a dinâmica do equipamento e quem são os
funcionários que atuam nele e ver as possibilidades de um
equipamento tão grande como é o CEU Jardim Paulistano, mas que ao
mesmo tempo é tão restrito em sua utilização que acaba por
torná-lo um local inadequado para algumas práticas ou um local onde
tem que se descobrir os macetes para saber como, quando e onde será
possível trabalhar e o que se pode fazer ali, e descobrir como
conseguir materiais ou onde estão as chaves que podem trazer novos
acessos, as permissões e proibições entre a gestão e segurança
além dos dias em que o equipamento esteve fechado. E como não
deixar que isto afete os vocacionados e tenha impacto no processo
artístico? Muitas vezes não foi possível...
Muitas
vezes propostas tiveram que ser alteradas e procedimentos tiveram que
ser criados, algumas vezes de forma improvisada devido as alterações
na programação criada para aquele dia, o que muitas vezes teve
impacto positivo, gerando ações como a do dia 31/08 (domingo), em
que sem podermos utilizar nenhuma sala para as atividades devido ao
Festival de Bandas de Fanfarras foi feita a seguinte proposta: foi
designado para cada vocacionado um personagem com determinadas
características sem que os outros soubessem qual era o personagem e
que teriam que assistir ao festival como o personagem designado. O
procedimento foi repetido no dia 12/09 durante a Festa da Primavera
com os vocacionados das turmas orientadas pela artista orientadora
Magê Blanques com a adição de novos elementos como o uso de uma
fita adesiva cobrindo a boca. A proposta de repetir a ação neste
dia foi da artista vocacionada Danielle Isidoro que segundo ela: “A
idéia é mostrar um lado diferente da arte por meio de gestos.
Descobertas de um mundo novo, de como as pessoas reagem, como se
sentem ao ver a ação. Pra mostrar que a arte é para todos e por
todos como forma de expressão e comunicação com o mundo nas mais
diversas linguagens que se integrem ou não.”
O
artista orientador que encerra este ciclo obviamente não é o mesmo
de meses atrás... A responsabilidade de exercer esta função em um
programa que resiste há mais de uma década me fez ter novas
percepções sobre territorialidade, sobre como desenvolver
atividades artístico-culturais e como suprir as demandas de cada
região onde o Programa Vocacional acontece. Num equipamento de
grandes dimensões como o CEU Jardim Paulistano me permiti a
encontrar-me no espaço, mas também perder-me entre tantos anseios,
propostas, provocações e me transformar da melhor forma a cada
encontro, de acordo com o momento, com a situação que foi dada.
Aprendi a valorizar a potência de um item apenas ao invés de querer
dar conta de várias coisas, onde pude obter um resultado mais
significativo atendendo às expectativas do vocacionados. No processo
procurei trazer à tona e reverberar memórias dos meus tempos de
artista vocacionado e ter um relacionamento não hierárquico, mas de
igual para igual. Procurei atender as necessidades do equipamento,
dialogar, mas nem sempre sendo ouvido e atendido...
Apenas sei que de alguma
forma o que foi feito vai reverberar seja por um curto ou longo prazo
nos artistas vocacionados com quem trabalhei.
Marcadores: Artes Integradas, CEU Jardim Paulistano, Eduardo Mafalda, Zona Norte
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