domingo, 23 de novembro de 2014

Considerações do Processo Como Artista Orientador de Artes Integradas

Programa Vocacional 2014
Considerações do Processo Como Artista Orientador de Artes Integradas
Por Eduardo Mafalda - CEU Jardim Paulistano

Os C.E.U.s & os Céus
C.E.U. pólo cultural
Céu sideral, infinito, impessoal
Céu palato bucal
Em se tratando de “pólos”
Eu conferi 45;
Eu me identifiquei com o mais próximo o Paulistano.
Onde no Programa Vocacional integrei-me no programa adjunto Artes Integradas.”
Sebastião Simão da Silva
São Paulo – SP, novembro/2014

Não havia outra forma de iniciar este relato das minhas atividades como artista orientador senão com este poema de Sebastião Simão da Silva ou como prefere ser chamado, Simão. Logo em nosso primeiro encontro ele disse que se inscreveu para o Vocacional Artes Integradas porque sabia que este seria o lugar onde teria voz para expressar-se e mostrar sua obra que passeia por linguagens como a música e a poesia, o que nem sempre foi possível em sua trajetória como artista. Eu, que por quatro anos consecutivos fui artista vocacionado quando no programa havia apenas a linguagem teatral e que alguns anos depois participei do Vocacional Música, me vi refletido naquelas palavras e estava convicto da escolha que fiz de ser artista orientador nesta linguagem.

Ao Simão juntaram-se Leontina (sua parceira na arte de viver), Daniele, Elaine, Gabrielle, Mayra, Beatriz, Hanna, Larissa, Luana, Nayara, Nubia e Bryan.

Paralelamente aos domingos estive com o Grupo PEDERIDICULOS formado por: Arthur, Brüno, Eric, Joyce, Soraia e Matheus. Grupo cuja identificação foi imediata devido ao interesse em uso de recursos tecnológicos em suas performances e em temas futuristas, música eletrônica, dança contemporânea e teatro físico. Ao longo do processo o horário dos encontros teve alguns ajustes; deixou de ser exclusivo e ao grupo juntaram-se Felipe, Gabriela, Katerine, Allanis, Gabriele, Jacksiele, Jéssica, Natali, Sabrina, Gabriela Santos, Joyce Miranda, Laura, Vanessa, Danielle e Luisa.
Alguns vieram apenas uma vez, outros mais vezes. Cada qual por seu motivo foi ficando pelo caminho. E como lidar com as idas e vindas? Em alguns casos até foi possível saber e entender os motivos das ausências e desistências enquanto outros nunca saberei as respostas, assim como outras perguntas e respostas ao longo do processo e que pela necessidade de seguir em frente com as atividades tiveram que ser deixadas para trás... Melhor assim?

Os que ficaram por mais tempo cada vez mais foram se descobrindo nas propostas e se apropriando do artes integradas, assim como eu.

Com cada um que chegava conversávamos sobre nós mesmos, sobre o Programa Vocacional, o porquê escolheram participar, seus interesses e expectativas, as vivências artísticas que haviam tido, com que frequência iam ao equipamento e a sua relação com o entorno. Isto foi primordial para desenvolver propostas e solidificar o nosso relacionamento.
E ao receber os vocacionados que se inscreveram para participar por diversas vezes me deparei com a questão: “O que é artes integradas?”. Até onde eu enquanto performer tenho a resposta definitiva para esta pergunta? E enquanto artista orientador? Será que existe uma resposta definitiva? Quantas linguagens cabem em uma proposta? E quais propostas se enquadram nesta linguagem? O que configura uma proposta de artes integradas? E como fazer os vocacionados se apropriarem desta linguagem? Com base nessas questões e nas experiências vividas, entendi que artes integradas não é somente a junção e o uso de diferentes linguagens artísticas, mas a pesquisa, a experimentação e a apropriação das técnicas e propostas das linguagens artísticas utilizadas nos encontros, e como elas dialogam, atravessam, instigam e provocam os vocacionados, direcionando para um processo criativo emancipatório.

Em nenhum momento durante o processo houve a preocupação entre eu e os vocacionados de se chegar a um resultado ou produto, mas sim de experimentar, potencializar e adquirir conhecimentos a partir das experiências vividas numa troca constante, atendendo as individualidades e particularidades dentro do coletivo, respeitando a trajetória de todos, ouvindo suas histórias, anseios e opiniões sobre arte e vida, onde todos puderam à sua maneira se apropriar do processo.

Pensando nisso e dentro deste universo de possibilidades entendi que subjetividade deve dialogar com objetividade para que haja algo concreto e não apenas o caos, onde as idéias e ações estão organizadas, mas que o espaço para estas seja amplo e livre, assim como definiu a vocacionada Leontina Squillaro: “Falar pouco e explicar. O importante é explicar. Chegar, dar sua palavra, o recado que você trouxe e o mundo todo ouvir.”

Para tal o contato com os processos dos outros artistas orientadores por meio das reuniões artístico pedagógicas foi de suma importância para alimentar o processo criativo e não somente reproduzir, mas também pensar e adequar procedimentos que funcionaram nas turmas onde foram aplicados.

O início das atividades foi como aprender a andar e a falar novamente: chegar, conhecer e entender a dinâmica do equipamento e quem são os funcionários que atuam nele e ver as possibilidades de um equipamento tão grande como é o CEU Jardim Paulistano, mas que ao mesmo tempo é tão restrito em sua utilização que acaba por torná-lo um local inadequado para algumas práticas ou um local onde tem que se descobrir os macetes para saber como, quando e onde será possível trabalhar e o que se pode fazer ali, e descobrir como conseguir materiais ou onde estão as chaves que podem trazer novos acessos, as permissões e proibições entre a gestão e segurança além dos dias em que o equipamento esteve fechado. E como não deixar que isto afete os vocacionados e tenha impacto no processo artístico? Muitas vezes não foi possível...

Muitas vezes propostas tiveram que ser alteradas e procedimentos tiveram que ser criados, algumas vezes de forma improvisada devido as alterações na programação criada para aquele dia, o que muitas vezes teve impacto positivo, gerando ações como a do dia 31/08 (domingo), em que sem podermos utilizar nenhuma sala para as atividades devido ao Festival de Bandas de Fanfarras foi feita a seguinte proposta: foi designado para cada vocacionado um personagem com determinadas características sem que os outros soubessem qual era o personagem e que teriam que assistir ao festival como o personagem designado. O procedimento foi repetido no dia 12/09 durante a Festa da Primavera com os vocacionados das turmas orientadas pela artista orientadora Magê Blanques com a adição de novos elementos como o uso de uma fita adesiva cobrindo a boca. A proposta de repetir a ação neste dia foi da artista vocacionada Danielle Isidoro que segundo ela: “A idéia é mostrar um lado diferente da arte por meio de gestos. Descobertas de um mundo novo, de como as pessoas reagem, como se sentem ao ver a ação. Pra mostrar que a arte é para todos e por todos como forma de expressão e comunicação com o mundo nas mais diversas linguagens que se integrem ou não.”

O artista orientador que encerra este ciclo obviamente não é o mesmo de meses atrás... A responsabilidade de exercer esta função em um programa que resiste há mais de uma década me fez ter novas percepções sobre territorialidade, sobre como desenvolver atividades artístico-culturais e como suprir as demandas de cada região onde o Programa Vocacional acontece. Num equipamento de grandes dimensões como o CEU Jardim Paulistano me permiti a encontrar-me no espaço, mas também perder-me entre tantos anseios, propostas, provocações e me transformar da melhor forma a cada encontro, de acordo com o momento, com a situação que foi dada. Aprendi a valorizar a potência de um item apenas ao invés de querer dar conta de várias coisas, onde pude obter um resultado mais significativo atendendo às expectativas do vocacionados. No processo procurei trazer à tona e reverberar memórias dos meus tempos de artista vocacionado e ter um relacionamento não hierárquico, mas de igual para igual. Procurei atender as necessidades do equipamento, dialogar, mas nem sempre sendo ouvido e atendido...


Apenas sei que de alguma forma o que foi feito vai reverberar seja por um curto ou longo prazo nos artistas vocacionados com quem trabalhei.

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