quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Perspectivas e desafios - Experiência CEU Jaçanã 2014



A experiência de 2014 no CEU Jaçanã traz uma série de desafios a serem pensados e enfrentados em 2015. O primeiro deles é consolidar as relações de parceria com a gestão de cultura através de ações culturais que tenham continuidade no sentido de criarem um hábito de frequentação não só dos vocacionados das turmas e grupos, como também dos grupos que ocupam o CEU e da população do entorno. Uma experiência bem sucedida e que aponta para a possibilidade acima foi a apresentação, em agosto de 2014, da peça “Flor da Pele” do Coletivo Apoena de Teatro, oriundo da Zona Leste de São Paulo. Para surpresa de todos, artista orientador, vocacionados e inclusive da própria gestão, o público foi acima da média para um domingo às 17h, colocando em questão o discurso de que “a comunidade pouco comparece ao CEU”. O que me pareceu, a partir deste exemplo, é que uma ação conjunta entre o Vocacional e a gestão de cultura, na criação e divulgação de ações culturais constantes e instituídas desde o início das atividades do Vocacional no equipamento, tende a criar um espaço de articulação e troca bastante potentes, consolidando, aglutinando e tornando visíveis as ações do Vocacional, dos grupos que ocupam o equipamento e dos grupos da região. Aliás, verificou-se que há na região norte uma série de grupos de teatro e um movimento cultural bastante forte, mas que passa distante do espaço do CEU. A questão que se coloca é como o espaço do CEU pode ser a instância cultural que articule o Vocacional com este movimento cultural que se observa na região e, principalmente, com os grupos que ocupam o espaço do CEU. Antes de prosseguir nesta reflexão é importante destacar que, conforme verifiquei no decorrer de 2014, estes  grupos que ocupam o CEU não tem nenhuma instância de troca ou diálogo sobre os seus processos e criações, nem entre eles e nem com o Vocacional e os demais grupos da região. Em outras palavras, cada um faz o seu e as poucas ações culturais, no sentido de aglutinar, não resolvem o problema do isolamento. A ação realizada pelo movimento Cruk em novembro de 2014, colocou à mostra a desarticulação e isolamento entre os grupos que ocupam o CEU. Mesmo levando-se em conta as dificuldades de organização dentro do próprio movimento Cruk, todos os grupos de dentro do CEU foram contatados, ou pelo menos foram feitas tentativas de contato e articulação entre todos. O fato é que no dia da ação nenhum deles compareceu, apenas o Vocacional esteve presente junto com os membros da gestão de cultura.  Isso deixa claro e evidente que a utilização do espaço do CEU pelos grupos é totalmente pragmática, pela necessidade do espaço para apresentação e ensaio e, portanto, desvinculada de qualquer ideia de troca, discussão e partilha de processos. Nesse sentido, e voltando ao início do texto, uma ação conjunta entre o Vocacional e a gestão de cultura do CEU deveria buscar, em 2015, criar e fortalecer cada vez mais este espaço de diálogo, através de ações culturais constantes e articuladas com o movimento teatral da região norte. A ideia é, como diz Teixeira coelho em seu livro “O que é ação cultural”, gerar um processo que não sabemos exatamente onde vai dar, “cujo fim ele não prevê e não controla, numa prática cujas etapas também não lhe são muito claras no momento da partida”.  Precisamos dar a partida no CEU Jaçanã!
Ainda dentro desta perspectiva de ações culturais constantes e articuladas, podemos pensar o quanto isso seria fundamental na formação do público, não só dos moradores do entorno, como das escolas próximas do CEU. E este aspecto é fundamental quando se pensa na formação dos imaginários do cidadão, ou seja, as suas referências culturais e ideológicas, normalmente influenciadas pela mídia e pelos cultos evangélicos que predominam nas regiões mais periféricas da cidade.
Nesse sentido, apresenta-se outro desafio, no caso pedagógico, para o Artista Orientador: como lidar com o imaginário dos vocacionados, predominantemente adolescentes no Jaçanã, no que se refere às referencias que este vocacionado traz do que seja fazer teatro? Desafio porque lidamos com uma realidade normalmente distante das nossas referências teóricas e práticas do que é “fazer” teatro. Os nossos vocacionados geralmente, ou nunca foram ao teatro ou, se foram, tiveram contato apenas com alguns tipos de teatro, na sua maioria ligados a grupos das igrejas que frequentam (evangélicas na sua maioria), espetáculos amadores da região ou ainda espetáculos trazidos pela gestão dos CEUS. Por outro lado, a maioria tem a mídia como referência no sentido de uma forma estabelecida que dá conta do “como” se quer dizer uma coisa. Daí a maioria das improvisações se estabelecer no terreno de um naturalismo novelesco. Nesse sentido, o desafio é introduzir, dentro desta perspectiva, outras possibilidades de construção da cena, abrindo o repertório, o olhar do vocacionado para outras possibilidades d revelar o que ser quer dizer e discutir. Os desafios são vários! Como transformar esta leitura do teatro? Por onde começar? Quais as dinâmicas que devem ser propostas num grupo de iniciação? Como lidar com as dificuldades básicas de leitura da maioria dos nossos vocacionados? Como adequar o nosso vocabulário ao deles? Como pensar uma estratégia para lidar com o contato limitado, para não dizer inexistente, destes vocacionados com a dramaturgia, seja brasileira, seja mundial? Afinal, o que eles querem dizer para o mundo? 

Artista Orientador: Vicente Latorre

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