segunda-feira, 24 de novembro de 2014

DENTRO E FORA: o corte como caminho de um para o outro



Dentro e fora
O corte como caminho de um para o outro


Respirar é estar no mundo e é nesse movimento de dentro e fora que instaura o processo criativo em dança este ano no Programa Vocacional Dança. O movimento mora no caminho de um para o outro. Pesquisando diferentes aspectos do dentro e fora, através do que expande e contrai, do que está na investigação do estado de sensação de cada artista e do que está externo, que está no outro, no entorno chegamos aos nossos limites, percepções de laços, fronteiras e perfurações no ambiente tanto social quanto interno de sensação subjetiva na dança.

Diante do cruzamento desses laços e limites encontramos a ação do “cortar”. O corte como ação de cruzamentos, definições do que é dual e da precisão de gestos e movimentos nesse trajeto do dentro e fora. O corte como caminho do fora, dentro.

Um dos objetivos foi buscar o outro e a si mesmo, através das perguntas: O que vem de dentro, o que é a dança autoral? O que vem do outro, da cidade, da cultura em que vivo e que me constrói? Para responder corporalmente a essas questões criamos estratégias de investigação do corpo através de contração, expansão, cortar o espaço, o tempo, o vento, em diferentes tempos, lugares e níveis, e pontualmente a proposição de algo (técnica / Klauss Vianna) que me leve a conscientização de regiões centrais e/ou periféricas dentro e fora do meu corpo. A criação do procedimento é a técnica. No caso, a técnica está em função do processo criativo, do que está sendo levantado enquanto forma e conteúdo.
A partida dentro de uma escolha consciente que ao traçar percursos de um processo nos fez chegar ao que denominamos provisoriamente de “Preparação para ser”. Esse trabalho é traçado por artistas-vocacionadas no Ceu Aricanduva em relação ao processo instaurado deste o início com ações de “cortar” e a procedimentos criativos focando o espaço de relação, onde estão as dicotomias na forma de pensar e fazer e na diversidade de cada corpo e dança.  “Preparação para ser” buscou e busca encontrar-se em si mesmo e no outro através de uma preparação autoral e de uma relação pontuada com o que parece que está fora de si. São essas relações, a diversidade e os diferentes modos de se relacionar expressivamente através da dança que se constrói essa criação dentro-fora.

Nos encontros investigamos camadas artísticas de cada integrante. A prática das experiências artísticas alimentava cada semana. Os poros da pele já não eram os mesmos; Jogo de improvisação e registros de partituras de movimento já modificavam o próprio corpo; mas quantas desistências de levantamentos de gestos, mas quanta exploração de movimento e o que se fica disso tudo são as camadas, que vão se alterando com o tempo, mesmo assim, algo se repete, algo fica, está ali e quer se propor enquanto matéria física, concreta e poética: o corpo em relação.

A atenção ao que circula em volta, não estamos sós. Olhares calados nos assistem. E é nesse olhar que o entorno chega e juntos nos olhamos, nos assistimos e nos identificamos de alguma forma.
“... ações que trazem em si a criatividade, a comunicação e a cooperação como valores fundamentais.” (Suzana Schmidt – Zonas de fronteira). Ao redor está a realidade de dentro e fora do Ceu Aricanduva que me “fala” com os olhos. Olhamo-nos todos e vemos uma semelhança nítida que vem de camadas mais profundas, o que parece estar fora, está dentro, porque é nessa relação em que a dança autoral acontece. É no caminho entre eu e minha cidade. É nesse corpo integral, complexo e atento que a dança acontece.

A necessidade de vasculhar as margens desta folha que escrevo. A marginalidade dos espaços fora de ordem, talvez esse possa ser o caminho de aprofundamento nos diálogos de um corpo fora-dentro, fora da ordem, estrangeiro e caiçara. E é nesse momento que a experiência artística quando vivenciada e praticada faz desamarrar as fronteiras criadas por algumas relações históricas que separam o dentro-fora.

A prática de jogo e percepção do corpo traz uma experiência dilatada, um corpo tocado” pode atravessar as fronteiras culturais e sociais da cidade dando um sentido para nossa existência e cidadania, como querer partilhar com o outro a nossa ação de movimentar em conjunto sobre algo comum; é como dizer através da presença do corpo algo comum a todos, é como nas subjetividades miscigenadas culturalmente atravessasse uma forma única.
Ato de recolher e ato de expandir. Recuar em dança o contradição social do cotidiano. Cortes em rotas e avenidas. O corte que vira dois, que transforma, que pontua, finaliza. Fim. Que vira um novo começo. Começos criam outros trechos. Outras formas de pensar, agir e claro, de se movimentar. 
Movimenta uma cidade. Cortes. Corpo. Divido. Dois. Dobra. É nesse movimento de processo de cada esquina que dobra, cada corte de caminho, constrói um gesto ou uma palavra. A palavra do processo criativo em dança dobra, porque é dupla e coletiva. Corpo um que se divide em dois. A mãe que pare o filho. O filho que conquista o mundo. O menino que vira homem. Bifurcações. Rituais de passagem. O ninho que deixa de ser ninho e colo e se transforma em estrada. O redondo vira uma linha. E tantas voltas e rodopios chega-se à um caminho: essa trajetória de hoje que é dentro e fora, é entorno e interno, é uma pessoa e uma cidade.

Atravessar algo: meu ser e a cidade, ora pela exaustão, ora pela prontidão.  
Resistência. Produção de força, sustentação e projeção. Durabilidade no chute, no corte, no lançamento da perna cortando o espaço e das mãos rasgando as telas invisíveis que separam a periferia do centro.

“Ampliando o entendimento da ação cultural para o campo sociopolítico, torna-se necessário o confronto da estrutura do poder, criando ações, não de enfrentamento aberto, mas de resistência, que trabalhem no domínio do imaterial, da produção de subjetividade e das relações afetivas, perpassadas pelo sentido da sobrevivência.” Suzana Schmidt – Zonas de fronteira

Mundo, Brasil, espaço público, esfera pública, uma interação circular, cria novos movimentos à história capaz de interromper, de desviar o fluxo da história como linhas de fuga nômades e começar uma história própria. Vozes e gestos: lançar uma leve camada de poeira sobre o corpo e depois perfurar.

AO Thais Ponzoni

Equipe Leste 1 – coordenação de equipe: Cláudia Palma
Ensaio Pesquisa 2014
CEU Aricanduva



http://youtu.be/HKKIwfYsVIg - Procedimento Dentro-fora
http://youtu.be/zxUROUhrRFs - território da equipe leste 1 - território
http://youtu.be/h1j8AtJ06QQ - percepção e poética dos apoios
http://youtu.be/zNa5dQZ27UI - dança pé



                                                                                                               





















2 Comentários:

Às 14 de outubro de 2015 às 07:11 , Blogger thais disse...

Técnica Klauss Vianna* correção onde está escrito
técnica/Klauss Vianna

 
Às 14 de outubro de 2015 às 07:17 , Blogger thais disse...

Técnica Klauss Vianna* correção onde está escrito
técnica/Klauss Vianna

 

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