IMPROVIS(ZO)ANDO RUÍDOS NO VOCACIONAL
A.O. Loop B.
A.O. Loop B.
Pesquisa-ação realizada dentro do Programa Vocacional
Música 2015.
Equipamento: Centro Cultural da Penha.
Coordenadoras: Claudia Palma e Mara Heleno.
Artista Orientador: Loop B – Lourenço Prado Brasil.
Vídeos:
Diálogo Cônico Sônico –
vocacionados Vera Lucia e Rafael
Improviso do Aniversário –
Vários vocacionados, destacando Ivaneide nas espadas e Vera Lucia voz e
supercone
Conversa Transparente -
Diálogo em Raio X dos vocacionados Renato Pop e Caio.
A
descontinuidade está presente em pelo menos dois lugares no Programa
Vocacional: no âmbito da contratação dos profissionais que trabalham com o
público interessado e na frequência dos vocacionados, que em geral tem outras
prioridades – estudo e trabalho.
O mais
óbvio e mais comentado se refere à contratação dos artistas – coordenadores e
orientadores. A forma de contratação por um período de 8 meses, que termina ao
final do ano civil e retorna em novo edital no ano seguinte provoca um hiato de
4 meses.
vocacionada Ivaneide em momento de improviso
Por
outro lado, alguns equipamentos e/ou artistas-orientadores encontram dificuldade
em estabelecer continuidade no processo de trabalho, principalmente devido à
inconstância na frequência dos vocacionados. Esta flutuação é causada por muitas
variáveis, como por exemplo: mudança de horários de trabalho ou de estudo,
novos interesses, nível de envolvimento com o programa, entre outros.
Levando
em conta esta descontinuidade, o processo que foi se revelando durante o ano em
curso, dentro do Vocacional Música da Penha, estabeleceu o improviso musical
como estética e conceito, e esta linha de pesquisa foi bem aceita pelos
vocacionados. Obviamente não foi algo imposto, nem tampouco elaborado
previamente, mas aconteceu em decorrência do processo. A dificuldade de
trabalhar gradativamente com um grupo formado sempre por pessoas diferentes
levou espontaneamente a isso.
Outros
três processos correram em paralelo ao do improviso: a questão timbrística e de
liberdade sonoro-criativa, através do contato e vivências com os objetos e
instrumentos de sucata; o aprimoramento da noção de ritmo, através de
exercícios do método d’O Passo, de Lucas Ciavatta, que coloca o corpo como
centro da percepção rítmica; e o desenvolvimento das estruturas tradicionais
musicais, como por exemplo o canto, a voz e o violão, usando o recurso da
música autoral ou não.
Em
todos estes 4 processos, a descontinuidade esteve presente e foi incorporada, e
aquilo que era uma dificuldade se transformou em busca de parâmetros que nos
mantivesse ativos e independentes, interdependentes mas livres uns em relação à
presença dos outros.
Foi na
experiência radical do improviso coletivo com as sucatas que o conceito se mostrou
mais potente, se solidificando com o passar dos meses. Na verdade ele só foi
claramente entendido nos últimos meses do processo, mas desde o princípio havia
sido abraçado pelos vocacionados e por mim – artista orientador, de maneira
intensa.
A cada
orientação, o processo começava e terminava. Esta é a essência do estilo musical
conhecido como improviso livre, no qual um grupo de músicos (que na maioria das
vezes não se conhece), se encontra para tocar junto. Os músicos não sabem que caminhos irão seguir,
quais as propostas sonoras e estéticas que irão surgir a partir uns dos outros.
É diferente do tipo de improviso do jazz, onde o tema é conhecido e os músicos
improvisam dentro de um universo. O resultado na música de improviso livre é
sempre uma incógnita, pois depende da integração
entre os músicos naquele dia, naqueles momentos. O encontro pode resultar numa
música “harmônica”, como também no outro extremo pode ser um “desastre”.
Este
processo despontou espontaneamente a partir das propostas com a percussão em
sucata. Para melhor compreensão, é preciso elencar os instrumentos para que se
tenha uma ideia do que foi usado. Os objetos mais presentes nas orientações no
Centro Cultural da Penha foram um cone de trânsito, um tanquinho de lavar roupa,
um manequim, uma gaveta de geladeira, uma mala de plástico, uma bandeja de
metal, espadas de brinquedo, teclados de computador, colheres de pedreiro, uma
pá de lixo, e vários pedaços de sucata de metal: de fogão, de carro e de
computador.
O fato
de não existir a “maneira certa” de tocar estes inusitados objetos imprimiu uma
liberdade sem par. Passada a timidez inicial, o vocacionado se desinibiu e se
libertou do ritual a ser cumprido diante de instrumentos tradicionais, como
violão, flauta ou bateria. O vocacionado foi naturalmente levado a encontrar formas
próprias de tocar, de tirar som dos objetos, e mergulhou em uma experiência
sonora real e sem limites.
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