terça-feira, 15 de dezembro de 2015

IMPROVIS(ZO)ANDO RUÍDOS NO VOCACIONAL

A.O. Loop B.
Pesquisa-ação realizada dentro do Programa Vocacional Música 2015.
Equipamento: Centro Cultural da Penha.
Coordenadoras: Claudia Palma e Mara Heleno.
Artista Orientador: Loop B – Lourenço Prado Brasil.

Vídeos:

Diálogo Cônico Sônico – vocacionados Vera Lucia e Rafael

Improviso do Aniversário – Vários vocacionados, destacando Ivaneide nas espadas e Vera Lucia voz e supercone
Conversa Transparente - Diálogo em Raio X dos vocacionados Renato Pop e Caio.
             A descontinuidade está presente em pelo menos dois lugares no Programa Vocacional: no âmbito da contratação dos profissionais que trabalham com o público interessado e na frequência dos vocacionados, que em geral tem outras prioridades – estudo e trabalho.
         O mais óbvio e mais comentado se refere à contratação dos artistas – coordenadores e orientadores. A forma de contratação por um período de 8 meses, que termina ao final do ano civil e retorna em novo edital no ano seguinte provoca um hiato de 4 meses.
        
         vocacionada Ivaneide em momento de improviso

         Por outro lado, alguns equipamentos e/ou artistas-orientadores encontram dificuldade em estabelecer continuidade no processo de trabalho, principalmente devido à inconstância na frequência dos vocacionados. Esta flutuação é causada por muitas variáveis, como por exemplo: mudança de horários de trabalho ou de estudo, novos interesses, nível de envolvimento com o programa, entre outros.
         Levando em conta esta descontinuidade, o processo que foi se revelando durante o ano em curso, dentro do Vocacional Música da Penha, estabeleceu o improviso musical como estética e conceito, e esta linha de pesquisa foi bem aceita pelos vocacionados. Obviamente não foi algo imposto, nem tampouco elaborado previamente, mas aconteceu em decorrência do processo. A dificuldade de trabalhar gradativamente com um grupo formado sempre por pessoas diferentes levou espontaneamente a isso.
         Outros três processos correram em paralelo ao do improviso: a questão timbrística e de liberdade sonoro-criativa, através do contato e vivências com os objetos e instrumentos de sucata; o aprimoramento da noção de ritmo, através de exercícios do método d’O Passo, de Lucas Ciavatta, que coloca o corpo como centro da percepção rítmica; e o desenvolvimento das estruturas tradicionais musicais, como por exemplo o canto, a voz e o violão, usando o recurso da música autoral ou não.
         Em todos estes 4 processos, a descontinuidade esteve presente e foi incorporada, e aquilo que era uma dificuldade se transformou em busca de parâmetros que nos mantivesse ativos e independentes, interdependentes mas livres uns em relação à presença dos outros.
         Foi na experiência radical do improviso coletivo com as sucatas que o conceito se mostrou mais potente, se solidificando com o passar dos meses. Na verdade ele só foi claramente entendido nos últimos meses do processo, mas desde o princípio havia sido abraçado pelos vocacionados e por mim – artista orientador, de maneira intensa.
        
vocacionado Darcio Romano com seu setup de sucata


         A cada orientação, o processo começava e terminava. Esta é a essência do estilo musical conhecido como improviso livre, no qual um grupo de músicos (que na maioria das vezes não se conhece), se encontra para tocar junto.  Os músicos não sabem que caminhos irão seguir, quais as propostas sonoras e estéticas que irão surgir a partir uns dos outros. É diferente do tipo de improviso do jazz, onde o tema é conhecido e os músicos improvisam dentro de um universo. O resultado na música de improviso livre é sempre uma incógnita, pois  depende da integração entre os músicos naquele dia, naqueles momentos. O encontro pode resultar numa música “harmônica”, como também no outro extremo pode ser um “desastre”.
         Este processo despontou espontaneamente a partir das propostas com a percussão em sucata. Para melhor compreensão, é preciso elencar os instrumentos para que se tenha uma ideia do que foi usado. Os objetos mais presentes nas orientações no Centro Cultural da Penha foram um cone de trânsito, um tanquinho de lavar roupa, um manequim, uma gaveta de geladeira, uma mala de plástico, uma bandeja de metal, espadas de brinquedo, teclados de computador, colheres de pedreiro, uma pá de lixo, e vários pedaços de sucata de metal: de fogão, de carro e de computador.

         O fato de não existir a “maneira certa” de tocar estes inusitados objetos imprimiu uma liberdade sem par. Passada a timidez inicial, o vocacionado se desinibiu e se libertou do ritual a ser cumprido diante de instrumentos tradicionais, como violão, flauta ou bateria. O vocacionado foi naturalmente levado a encontrar formas próprias de tocar, de tirar som dos objetos, e mergulhou em uma experiência sonora real e sem limites.

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