quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Ensaio de Pesquisa Ação da Galeria Olido

Ensaio de Pesquisa Ação para todas as ações artístico-pedagógicas do Programa Vocacional Projeto Dança Vocacional na Galeria Olido.
Artista Orientador Renato Vasconcellos

Título: Da prepotência do Artista Orientador e dos Artistas Vocacionados, que desconhecendo suas reais potências empreendem projetos quase inalcançaveis. De um lado falta perspicácia do Orientador para reverter a falta de compromisso e a consequente flutuação de presença física no encontro e de outro as faltas dos Artistas Vocacionados. Mas como desenvolver um projeto artístico em dança sem a presença real e constante do indivíduo? Ou como desenvolver com pouco aparato organizacional? O artista orientador, por ele mesmo, não pode dar conta de desenvolver seu projeto numa situação macro, que envolve a divulgação do programa e a organização da casa que o recebe, por exemplo. Algumas circunstâncias dentro desse universo macro desfavorece o respeito pelas iniciativas individuais e o comprometimento de um suposto público heterogêneo, que apesar de seu engajamento com as artes ainda pensa a dança como linguagem puramente teatral, sendo que por várias vias a dança já se mostrou independente da linguagem teatral e foi construindo historicamente possibilidades de dramaturgia que não segue a lógica comum do teatro. E o único conhecimento sobre a arte teatral é o teatrão. Fora isso, dançar é devanear, mexer o corpo, entender das articulações ou nem isso. Dança Contemporânea? Talvez seja só reflexo da necessidade de uma liberdadezinha mal alcançada através de discursos políticos de igualdade, que foram surgindo pós-revolução francesa. E de lá pra cá, porque de cá pra lá não vai dar, todas as instituições foram caindo conforme as reivindicações e percepções contrárias a ordem hegemônica. Por que o Balé Clássico desenvolvido na França, Itália e Rússia caiu. E o que mais caiu? O compromisso caiu.  (Poderia ser só esse o título, mas não deu). Aqui no nosso mundo ocidental, de ameríndios, latinos, judeus, negros e poucos nórdicos, desenvolvemos a necessidade de compromisso com o outro e não quer dizer que cumprimos com essa necessidade. Então tudo é festa, alegria e prazer. Dançar está incluso. O balé machuca e machucava e o Mikhail Baryshnikov permaneceu lindo e aparentemente saudável. O Sandro Borelli, que é um importante coreógrafo paulista e desenvolveu uma linguagem corporal muito interessante, operou do quadril. Cada um desses tinha um compromisso diferente com sua arte, mas tinha. E quantos sabem que entre orelhas de pintor e quadril de coreógrafo a arte se faz um elemento substancial para a cultura. A Secretaria de Cultura do Município de São Paulo está tentando entender a real importância do Programa Vocacional para a pasta da cultura municipal. A tentativa não alcança a maioria dos vocacionados. Tudo reflexo!  Dançar também é reflexo e reflexão. Quem tem bom reflexo dança bem! Reflexo corporal e reflexão fazem parte do mesmo universo?

Subtítulo: Um questionamento que segue para o próximo ensaio, porque nesse tentaremos entender porque as coisas se dão de tais modos em termos de compromissos.  Por que na falta de organização ou com a falta da devida importância, super necessária, para o desenvolvimento real de um programa de artes, as coisas mesmo assim acontecem? Por que os vocacionados surgem no final, vindo de tantos lugares diferentes e fazem a coreografia mal bolada parecer que o Brasil vai mudar seu rumo? Muitos dizem que a educação vai mudar esse país. Verdade! Faltar continuamente é falta de educação, então tudo que eu tenho para desenvolver como Artista Orientador do Programa é tentar ensinar o poder destrutivo da falta. Eu sei que não é preciso ensinar ninguém a dançar e também não é esse o objetivo do Programa. Antes diziam que o objetivo central do programa é o exercício da cidadania e eu acrescento, na sua plena potência, mas quando há prepotência não há cidadania.

Introdução: E o que será prepotência? Algo que vem antes da potência. Pode ser!
Penso que prepotência não deve ser encarada como algo pejorativo. O dicionário Michaelis.com diz que prepotência é a qualidade de prepotente; poder superior; abuso do poder ou da autoridade; opressão, tirania, despotismo; capacidade de um dos genitores transmitir à prole seus caracteres, em prejuízo do outro.
Eu não sou filósofo e nem tenho um dicionário de filosofia, então vou precisar rever o significado da palavra potência para prosseguir nessa discussão sobre o prepotente.
Potência é qualidade de potente; poder, força, eficácia; ou robustez, vigor; ou aptidão para se realizar, ou capacidade para o ato; força ativa; capacidade de o homem desempenhar o ato sexual.
E é assim, uma grande parte de participantes do vocacional chegam à Galeria Olido super engajados no fazer artístico. Fazem aula com outros profissionais, estão matriculados em cursos de formação, já dançaram muito por aí, fazem performances e tudo mais. E o Vocacional não tem regras que regem a frequência desses participantes. Eles podem vir hoje, amanhã e só daqui a dois meses. Quem vai dizer pra todos eles, que tudo vai ficar mais difícil se a regra geral de participação inclui muitas faltas? Eu? Com que poder? Com que potência?
Conseguir seis vocacionados dentro do Centro de Dança Umberto Silva é labuta de gigante. Quem é que sabe sobre a existência do Vocacional e quem é que sabe da importância de um programa como esse? Quantos habitantes nós temos na cidade de São Paulo? Eu me sinto refém desse sistema maluco. (Ai, quanta confissão!). Sinto-me sem poder. Mas ai eu invento esse poder, porque acho que de alguma maneira dançar fará parte do nosso desenvolvimento sociocultural, existencial, artístico. E então os vocacionados também inventam seus poderes. Poderes de dançar, de fazer arte, de intervir no mundo, ou de se divertir ao menos! Então somos inventores dos nossos poderes e uma vez criado esse poder antes mesmo de o possuirmos de fato, seguimos verdadeiramente sem nada.

Desenvolvimento: Eu parti, como pesquisador dentro do Programa, do pressuposto que sair das quatro paredes da Sala Café da Galeria Olido seria um ato político e artístico muito mais interessante e eficaz que ficar dentro da sala. A divulgação do programa vai mal, penso eu, a assessoria dentro da Galeria Olido para que o programa aconteça também não foi bem; os milhões de habitantes da cidade não sabem o que é dança contemporânea, nunca viram; público para ver um trabalho como o nosso somos nós mesmos e por aí vai. Eu posso dizer que trabalhar no ambiente externo casa-se com a ideia de nomadismo no espaço, conceito que o programa tenta utilizar vez ou outra para dar margens a ações culturais menos convencionais, então está tudo certo. Essa primeira estratégia é prepotentemente boa. Sinto-me de acordo com o que devo fazer profissionalmente a frente da orientação em dança na Galeria Olido. Eu sou privilegiado.
Vocacionados e eu achamos que a fachada do Teatro Municipal seria um ótimo lugar, bem especifico eu diria. Numa conversa durante o encontro com os vocacionados, que enfim foram chegando aos poucos, acordamos em fazer nossa performance naquela fachada, utilizando toda arquitetura e a paisagem urbanística que tem por ali, objetivando construir uma dança que transformasse aquele espaço. Estávamos diante de dois “totens” de uma cultura massacrante. De um lado o possível conservadorismo do Teatro Municipal e a entrada das Casas Bahia, que representa o capitalismo, o acesso ao lap top, ao celular, a máquina de lavar roupas, todas essas coisinhas necessárias para nossa vidinha medíocre nesse planeta chamado São Paulo, que nem água tem, é tudo uma maravilha! O Teatro e as Casas Bahia.
Não somos nada diante deles, os construímos e somos reféns dos significados desenvolvidos a partir dessas instituições. Mas nós, eu os vocacionados temos assim uma prepotência para transformarmos aquele espaço com nossa arte, e talvez tenhamos realmente, mas precisamos de um esforço quadriplicado. Presença!
Na carta de responsabilidades do artista, disponível no site http://www.polis.org.br/uploads/921/921.pdf, cujo texto já foi utilizado como apoio ao material  norteador deste programa, há uma frase do artista plástico e escultor italiano Amadeo Mondiglini que diz “O real dever do artista é salvar o sonho”(!). Sendo assim a pergunta básica que nortearia a coreografia nesse nosso local especifico era “que sonhos há entre fachada do Teatro Municipal e as Casas Bahia”? Ou o que falta nesse espaço urbano, do ponto vista humano, poético? Sobre sonhos mercantilistas nós não precisamos nos debruçar.
Seguiríamos como essas questões até o fim do nosso trabalho em novembro de 2014 e tentaríamos desenvolver uma arte que sanasse, nem que fosse parcialmente, tais questionamentos.
Conclusão: Não foi totalmente possível. Essa é a minha conclusão. Eles faltaram demais e eu fiquei revoltado, morri de bruxismo e de catapora. Ainda que a coreografia seja feita agora no mês de novembro, a reflexão sobre os resultados e desdobramentos das questões ficou paralisada.
Então eu devo rever a minha orientação e minhas posturas artísticas e pedagógicas, mas diga-me uma coisa, “eu não estou só nesse sistema, certo?”. Eu pergunto que valor esse programa precisa assumir por parte da governabilidade para que todas as ações culturais não tomem os rumos do limbo?
Faço eu com minha coordenadora, a Yaskara, uma revisão imensa dos procedimentos, posturas e métodos, vai adiantar alguma coisa diante de uma realidade nefasta? Eu sinto que não! Vamos virar fundação? O Teatro Municipal deve ser uma dessas fundações incríveis. Quem a frequenta? Por quais motivos? O que ela anda produzindo como arte? Claro que estou falando de uma arte como meio de libertação, de sabedoria e de conhecimento.
Mas eu entendo que nosso público também deve assumir uma postura diferente. Acho que ninguém precisa ser o Mikhail ou o Borelli, mas de alguma maneira assumir um compromisso consigo mesmo. Porque, olha, fazer muitas coisas ao mesmo tempo pode ser muito bom, mas os frutos desse comportamento maníaco por atividades variadas e constantes não está levando ninguém a qualquer lugar que valha o esforço e a loucura pelo fazer.
Pelo que sei são só dois milhões de reais como investimento anual para que o Programa exista, mas também penso que uma vez investida essa quantia, valeria o melhor aproveitamento possível desse dinheiro.
Mas de qualquer forma lá vem eles no dia 18 de novembro, vão se apresentar oficialmente; talvez tenhamos um papelito para divulgação e alguns outros vocacionados, coordenadores do programa, artistas orientadores e amigos que virão assistir e vai ser de uma felicidade imensa, tenho certeza. É uma festa, coisa que sabemos fazer e sei da necessidade dela, mas, todavia sinto falta de um engajamento mais acirrado, por parte da secretaria e dos vocacionados.


Marcadores:

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial