Ensaio de Pesquisa Ação da Galeria Olido
Ensaio de Pesquisa Ação para todas
as ações artístico-pedagógicas do Programa Vocacional Projeto Dança Vocacional
na Galeria Olido.
Artista
Orientador Renato Vasconcellos
Título: Da prepotência do Artista
Orientador e dos Artistas Vocacionados, que desconhecendo suas reais potências
empreendem projetos quase inalcançaveis. De um lado falta perspicácia do
Orientador para reverter a falta de compromisso e a consequente flutuação de
presença física no encontro e de outro as faltas dos Artistas Vocacionados. Mas
como desenvolver um projeto artístico em dança sem a presença real e constante
do indivíduo? Ou como desenvolver com pouco aparato organizacional? O artista
orientador, por ele mesmo, não pode dar conta de desenvolver seu projeto numa
situação macro, que envolve a divulgação do programa e a organização da casa
que o recebe, por exemplo. Algumas circunstâncias dentro desse universo macro
desfavorece o respeito pelas iniciativas individuais e o comprometimento de um
suposto público heterogêneo, que apesar de seu engajamento com as artes ainda
pensa a dança como linguagem puramente teatral, sendo que por várias vias a
dança já se mostrou independente da linguagem teatral e foi construindo
historicamente possibilidades de dramaturgia que não segue a lógica comum do
teatro. E o único conhecimento sobre a arte teatral é o teatrão. Fora isso,
dançar é devanear, mexer o corpo, entender das articulações ou nem isso. Dança
Contemporânea? Talvez seja só reflexo da necessidade de uma liberdadezinha mal
alcançada através de discursos políticos de igualdade, que foram surgindo pós-revolução
francesa. E de lá pra cá, porque de cá pra lá não vai dar, todas as
instituições foram caindo conforme as reivindicações e percepções contrárias a
ordem hegemônica. Por que o Balé Clássico desenvolvido na França, Itália e
Rússia caiu. E o que mais caiu? O compromisso caiu. (Poderia ser só esse o título, mas não deu).
Aqui no nosso mundo ocidental, de ameríndios, latinos, judeus, negros e poucos
nórdicos, desenvolvemos a necessidade de compromisso com o outro e não quer
dizer que cumprimos com essa necessidade. Então tudo é festa, alegria e prazer.
Dançar está incluso. O balé machuca e machucava e o Mikhail Baryshnikov
permaneceu lindo e aparentemente saudável. O Sandro Borelli, que é um
importante coreógrafo paulista e desenvolveu uma linguagem corporal muito
interessante, operou do quadril. Cada um desses tinha um compromisso diferente
com sua arte, mas tinha. E quantos sabem que entre orelhas de pintor e quadril
de coreógrafo a arte se faz um elemento substancial para a cultura. A
Secretaria de Cultura do Município de São Paulo está tentando entender a real
importância do Programa Vocacional para a pasta da cultura municipal. A
tentativa não alcança a maioria dos vocacionados. Tudo reflexo! Dançar também é reflexo e reflexão. Quem tem
bom reflexo dança bem! Reflexo corporal e reflexão fazem parte do mesmo
universo?
Subtítulo: Um questionamento que segue
para o próximo ensaio, porque nesse tentaremos entender porque as coisas se dão
de tais modos em termos de compromissos.
Por que na falta de organização ou com a falta da devida importância,
super necessária, para o desenvolvimento real de um programa de artes, as
coisas mesmo assim acontecem? Por que os vocacionados surgem no final, vindo de
tantos lugares diferentes e fazem a coreografia mal bolada parecer que o Brasil
vai mudar seu rumo? Muitos dizem que a educação vai mudar esse país. Verdade!
Faltar continuamente é falta de educação, então tudo que eu tenho para
desenvolver como Artista Orientador do Programa é tentar ensinar o poder
destrutivo da falta. Eu sei que não é preciso ensinar ninguém a dançar e também
não é esse o objetivo do Programa. Antes diziam que o objetivo central do
programa é o exercício da cidadania e eu acrescento, na sua plena potência, mas
quando há prepotência não há cidadania.
Introdução: E o que será prepotência?
Algo que vem antes da potência. Pode ser!
Penso
que prepotência não deve ser encarada como algo pejorativo. O dicionário Michaelis.com diz que prepotência é a qualidade de prepotente; poder superior; abuso do poder ou
da autoridade; opressão, tirania, despotismo; capacidade de um dos genitores
transmitir à prole seus caracteres, em prejuízo do outro.
Eu
não sou filósofo e nem tenho um dicionário de filosofia, então vou precisar
rever o significado da palavra potência para prosseguir nessa discussão sobre o
prepotente.
Potência
é qualidade de potente; poder, força, eficácia; ou
robustez, vigor; ou aptidão para se realizar, ou capacidade para o ato; força
ativa; capacidade de o homem desempenhar o ato sexual.
E é assim, uma grande parte de participantes do vocacional
chegam à Galeria Olido super engajados no fazer artístico. Fazem aula com
outros profissionais, estão matriculados em cursos de formação, já dançaram
muito por aí, fazem performances e
tudo mais. E o Vocacional não tem regras que regem a frequência desses
participantes. Eles podem vir hoje, amanhã e só daqui a dois meses. Quem vai
dizer pra todos eles, que tudo vai ficar mais difícil se a regra geral de
participação inclui muitas faltas? Eu? Com que poder? Com que potência?
Conseguir seis vocacionados dentro do Centro de Dança
Umberto Silva é labuta de gigante. Quem é que sabe sobre a existência do
Vocacional e quem é que sabe da importância de um programa como esse? Quantos
habitantes nós temos na cidade de São Paulo? Eu me sinto refém desse sistema
maluco. (Ai, quanta confissão!). Sinto-me sem poder. Mas ai eu invento esse
poder, porque acho que de alguma maneira dançar fará parte do nosso
desenvolvimento sociocultural, existencial, artístico. E então os vocacionados
também inventam seus poderes. Poderes de dançar, de fazer arte, de intervir no
mundo, ou de se divertir ao menos! Então somos inventores dos nossos poderes e
uma vez criado esse poder antes mesmo de o possuirmos de fato, seguimos
verdadeiramente sem nada.
Desenvolvimento: Eu parti, como pesquisador dentro do Programa, do
pressuposto que sair das quatro paredes da Sala Café da Galeria Olido seria um
ato político e artístico muito mais interessante e eficaz que ficar dentro da
sala. A divulgação do programa vai mal, penso eu, a assessoria dentro da
Galeria Olido para que o programa aconteça também não foi bem; os milhões de
habitantes da cidade não sabem o que é dança contemporânea, nunca viram;
público para ver um trabalho como o nosso somos nós mesmos e por aí vai. Eu
posso dizer que trabalhar no ambiente externo casa-se com a ideia de nomadismo
no espaço, conceito que o programa tenta utilizar vez ou outra para dar margens
a ações culturais menos convencionais, então está tudo certo. Essa primeira
estratégia é prepotentemente boa. Sinto-me de acordo com o que devo fazer
profissionalmente a frente da orientação em dança na Galeria Olido. Eu sou
privilegiado.
Vocacionados e eu achamos que a fachada do Teatro Municipal
seria um ótimo lugar, bem especifico eu diria. Numa conversa durante o encontro
com os vocacionados, que enfim foram chegando aos poucos, acordamos em fazer
nossa performance naquela fachada, utilizando toda arquitetura e a paisagem urbanística
que tem por ali, objetivando construir uma dança que transformasse aquele
espaço. Estávamos diante de dois “totens” de uma cultura massacrante. De um
lado o possível conservadorismo do Teatro Municipal e a entrada das Casas Bahia,
que representa o capitalismo, o acesso ao lap top, ao celular, a máquina de
lavar roupas, todas essas coisinhas necessárias para nossa vidinha medíocre
nesse planeta chamado São Paulo, que nem água tem, é tudo uma maravilha! O
Teatro e as Casas Bahia.
Não somos nada diante deles, os construímos e somos reféns
dos significados desenvolvidos a partir dessas instituições. Mas nós, eu os
vocacionados temos assim uma prepotência para transformarmos aquele espaço com
nossa arte, e talvez tenhamos realmente, mas precisamos de um esforço
quadriplicado. Presença!
Na carta de responsabilidades do artista, disponível no
site http://www.polis.org.br/uploads/921/921.pdf, cujo texto já foi utilizado como apoio ao material norteador deste programa, há uma frase do artista
plástico e escultor italiano Amadeo Mondiglini que diz “O real dever do artista
é salvar o sonho”(!). Sendo assim a pergunta básica que nortearia a coreografia
nesse nosso local especifico era “que sonhos há entre fachada do Teatro
Municipal e as Casas Bahia”? Ou o que falta nesse espaço urbano, do ponto vista
humano, poético? Sobre sonhos mercantilistas nós não precisamos nos debruçar.
Seguiríamos como essas questões até o fim do nosso trabalho
em novembro de 2014 e tentaríamos desenvolver uma arte que sanasse, nem que
fosse parcialmente, tais questionamentos.
Conclusão: Não foi totalmente possível. Essa é a minha conclusão.
Eles faltaram demais e eu fiquei revoltado, morri de bruxismo e de catapora.
Ainda que a coreografia seja feita agora no mês de novembro, a reflexão sobre
os resultados e desdobramentos das questões ficou paralisada.
Então eu devo rever a minha orientação e minhas posturas
artísticas e pedagógicas, mas diga-me uma coisa, “eu não estou só nesse
sistema, certo?”. Eu pergunto que valor esse programa precisa assumir por parte
da governabilidade para que todas as ações culturais não tomem os rumos do
limbo?
Faço eu com minha coordenadora, a Yaskara, uma revisão
imensa dos procedimentos, posturas e métodos, vai adiantar alguma coisa diante
de uma realidade nefasta? Eu sinto que não! Vamos virar fundação? O Teatro
Municipal deve ser uma dessas fundações incríveis. Quem a frequenta? Por quais
motivos? O que ela anda produzindo como arte? Claro que estou falando de uma
arte como meio de libertação, de sabedoria e de conhecimento.
Mas eu entendo que nosso público também deve assumir uma
postura diferente. Acho que ninguém precisa ser o Mikhail ou o Borelli, mas de
alguma maneira assumir um compromisso consigo mesmo. Porque, olha, fazer muitas
coisas ao mesmo tempo pode ser muito bom, mas os frutos desse comportamento
maníaco por atividades variadas e constantes não está levando ninguém a
qualquer lugar que valha o esforço e a loucura pelo fazer.
Pelo que sei são só dois milhões de reais como investimento
anual para que o Programa exista, mas também penso que uma vez investida essa
quantia, valeria o melhor aproveitamento possível desse dinheiro.
Mas de qualquer forma lá vem eles no dia 18 de novembro,
vão se apresentar oficialmente; talvez tenhamos um papelito para divulgação e
alguns outros vocacionados, coordenadores do programa, artistas orientadores e
amigos que virão assistir e vai ser de uma felicidade imensa, tenho certeza. É
uma festa, coisa que sabemos fazer e sei da necessidade dela, mas, todavia
sinto falta de um engajamento mais acirrado, por parte da secretaria e dos
vocacionados.
Marcadores: Compromissos - Zona Central - Dança - Projeto artístico
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