MANUAL IMPRÓVAVEL DE AÇÃO ARTÍSTICA ou COMO MONTAR UMA ENGRANAGEM ARTÍSTICA ou (ainda) COMO SER POTÊNCIA EM ATO NO PROGRAMA VOCACIONAL e (também) INSTRUÇÕES DE USO
MANUAL IMPRÓVAVEL DE AÇÃO ARTÍSTICA ou COMO
MONTAR UMA ENGRANAGEM ARTÍSTICA ou
(ainda) COMO SER POTÊNCIA EM ATO NO PROGRAMA VOCACIONAL e (também) INSTRUÇÕES
DE USO
Por Ieltxu Martinez Ortueta (Coordenador de
Artes Integradas)
ma·nu·al 2 (latim manuale,
-is, estojo de livro, livro pequeno) subst. masculino
1. Livro pequeno.2. Livro
que sumariza noções básicas de uma matéria ou assunto. Compêndio. 3. Guia
prático que explica o funcionamento de algo
INSTRUÇÕES
DE MANUSEIO DESTE MANUAL
Este ensaio esta sendo desenvolvido para proporcionar
ao leitor uma visão particular, conceitual e programática do que tem sido a
experiência de coordenador da equipe Artes Integradas 2014 e ao mesmo tempo uma
visão mais ampla sobre o que o autor deste manual entende por instaurar
processos artísticos.
Para a elaboração deste ensaio esta sendo usado como
modelo um manual de montagem de uma bicicleta de criança. Se teve uma tentativa
de revisitar ao mesmo tempo O Manual do
Guerrilheiro Urbano, escrito por Carlos Marighella em 1969, que ia ser aplicado
como verbetes reconstruídos, assim que a redação deste manual precisa-se
objetivar algumas questões, mas se acabou optando por deixar esse material de
lado. Ficará por tanto na possibilidade não concretizada.
É necessário entender este ensaio como um manual de
instruções, onde se prioriza o enunciado e a síntese. Trata-se, também, de um
paralelismo formal com as proposições de Programa
Performático de Eleonora Fabião que foram um impulso inicial na equipe
Artes Integradas. 2014.
ATENÇÃO:
Leia atentamente as definições sobre manual
acima
Chamo as ações performativas
programas pois, neste momento, esta me parece a palavra mais apropriada para
descrever um tipo de ação metodicamente calculada, conceitualmente polida, que
em geral exige extrema tenacidade para ser levada à cabo, e que se aproxima do
improvisacional exclusivamente na medida em que não sera previamente ensaiada.
Performar programas é fundamentalmente diferente de lançar-se em jogos
improvisacionais. O performer não improvisa uma idéia: ele cria um programa e
programa-se para realizá-lo (mesmo que seu programa seja pagar alguém para
realizar ações concebidas por ele ou convidar espectadores para ativarem suas
proposições). Ao agir seu programa, desprograma organismo e meio.
Eleonora Fabião Performance e
Teatro: poéticas e políticas da cena contemporânea
A) PEÇAS CHAVE PARA A ORIENTAÇÃO
1-Afirmar o processo artístico como eixo fundamental
do trabalho nas reuniões artístico-pedagógicas e no trabalho de orientação nos
equipamentos.
2-Estabelecer
como linha de investigação fundamental o PROCEDIMENTO, a elaboração de
dispositivos concretos onde o enunciado e a síntese norteiam a proposta. Para
isso não é necessário estar atrelado a uma forma (linguagem) artística concreta
e sim ao conceito que se deseja explorar.
3-Instaurar como
dispositivo concreto para a troca de procedimentos entre os integrantes da
equipe o recorte temático IDENTIDADE e/ou PERTENCIMENTO. Todos os artistas da
equipe apresentaram um procedimento e/ou material que dialogava com essa
questão.
4-Propor um
diálogo horizontal entre os artistas envolvidos na equipe Artes Integradas, na
expetativa de estabelecer um diálogo rico e aprofundado das diferentes formas
de ver o processo artístico.
5-Firmar um
acordo no qual cada artista envolvido tem a experiência, o profissionalismo e o
olhar crítico aguçado suficiente para trazer para si a responsabilidade de
estabelecer critérios de atuação e gerir de forma autónoma cada processo
artístico.
6-Colocar a
função de coordenação num patamar artístico exigente de problematizar,
verticalizar e ampliar as possibilidades apresentadas pelos integrantes da
equipe.
7-Estabelecer
a auto-avaliação e reflexão em processo continuo entre os dois coordenadores,
problematizando escolhas, procedimentos, atuações e desvios dentro da equipe.
B) CUIDADOS
COM A FERRAMENTA/ENGRENAGEM
-Verificar periodicamente se todos os parafusos e porcas que fazem a
engrenagem/desejo de estar no Programa Vocacional estão no seu lugar. -Observar se o posicionamento de todos os componentes artístico pedagógicos e a ação artística efetiva estão alinhados com o discurso.
-É aconselhável o uso de roupas de trabalho tipo macacão para não ter problema (nem medo e/ou receio) em se sujar e estar disponível para constantes possibilidades de atuação. Esse tipo de roupa ajuda na melhor visualização das propostas do artista e permite não correr o risco de alguma peça do vestuário engatar na engrenagem do processo.
-Lembre-se de que a atuação artístico-pedagógica é um veículo, um potencializador, um catalizador de desejos e potencias.
-Manter as mãos sobre o guidão do processo com convicção, mas não tenha receios em eventualmente se desequilibrar ou pegar uma estrada esburacada.
-Entrar em baixa velocidade nas curvas fechadas sem visibilidade, mas mantenha a atenção na paisagem geral, para conseguir ter uma amplitude maior da função de guiar a engrenagem.
-Não evite andar em fila dupla/tripla ou quadrupla, siga os combinados de trânsito que se estabelecem em equipe, mas não hesite em interferir, acrescentar e problematizar a engrenagem/atuação de outro artista.
-É preferível e necessário manter-se a esquerda e pensar além do possível, sem medo de errar. Não leve em consideração trilhar o caminho junto ao meio fio, corre grave risco de ficar no meio do caminho.
-Uma vez que entrou na equipe, sinalize com as mãos, com o corpo inteiro ou como achar pertinente quais são os motivos de estar ai, os achados do percurso e os eventuais problemas, indicando ora à esquerda ou à direita mas nunca ficando em uma posição neutral ou impassível, no meio fio.
-Não ultrapasse, não faça atalhos ou se use de pretextos e justificativas da esfera pessoal, junto a equipe, ao final todos temos essas questões e é impossível estabelecer qual motivo é mais importante que outro. Se esse caso acontecer, apresente uma proposta ou banque sua decisão mas não caia na armadilha de querer justificar determinada ação em comparação a outro membro da equipe.
-Lembre que pegar na rabeira com justificativas e correlatos só enfraquece a capacidade de analise e auto-crítica do processo.
-Evite ir de carona, pois seu processo é um veiculo individual ainda que necessariamente compartilhado em equipe. Levar outras pessoas no bagageiro ou na garupa é desaconselhável, incomodo e oferece riscos inecessários para a saúde e o andamento da engrenagem geral.
- O proprietário/propositor do processo deve ter por responsabilidade evitar que burocratas /ou pessoas sem desejo de potência tenham contato ou efetuem qualquer manuseio das engrenagens processuais, são correntes dentadas cortantes por natureza.
ATENÇÃO:
A
garantia da montagem deste arte-fato fica automaticamente invalidada caso:
-Este
manual seja seguido ao pé da letra.
-O fato
de tentar buscar algum utilidade tecnicista ou querer encontrar alguma resposta
utilitária
-Não
forem observadas as especificações e recomendações deste manual.
Há trezentos anos, pelo menos, a ditadura da
utilidade é unha e carne com o lucrocentrismo de toda essa nossa civilização. E
o princípio da utilidade corrompe todos os setores da vida, nos fazendo crer
que a própria vida tem que dar lucro. Vida é o dom dos deuses, para ser
saboreada intensamente até que a Bomba de Nêutrons ou o vazamento da usina
nuclear nos separe deste pedaço de carne pulsante, único bem de que temos
certeza.
Marcadores: Artes Integradas, bicicleta, Ieltxu Martinez Ortueta, Manual
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