REFLEXÃO POÉTICA SOBRE UMA EXPERIÊNCIA
Programa Vocacional
Projeto Artes
Integradas
Artista Orientador:
Caco Mattos
Coordenadores: Ieltxu
Martinez Ortueta e Teth Maiello
Ano: 2014
Reflexão poética sobre
uma experiência
SER – ESTAR –
SE MOSTRAR – AFETAMENTOS – ATRAVESSAMENTOS -PRESENÇA – DESAFIOS – QUESTÕES
NORTEADORAS – DESLOCAMENTOS – EXPERIÊNCIA – SE PERMITIR – ESTAR PRESENTE –
DESCOBERTA – NOMADISMO – TEORIA – REFLEXÃO
Deslocar-se de um ponto a
outro com a musculatura, a pele, os ossos, com aquilo que chamamos corpo e suas percepções, escuta, afetamentos, memorias,
atravessamentos... Deslocar-se a partir de provocações, perguntas lançadas para
si mesmo e para o outro, buscando respostas a partir de procedimentos para
investigar a potência do ser, do estar... do querer estar, do se permitir abrir
novos espaços internos-externos, possibilidades. Se permitir mover-se por entre
a areia movediça mesmo com o medo de ser sugado pelo desconhecido, pelo
abandono, do encontro-desencontrado na desconfiança com o desconhecido, do não
se permitir, com medo da sensação de ser estrangeiro de si mesmo, o medo de
experimentar o não experimentado evitando assim entrar em contato com o que se
considera estranho, desconhecido, im - permitidos até então...
Mesmo
na deriva das situações, nas tentativas, no fluxo constante da impermanência, emerge
a investigação nas im-possibilidades - possíveis, passo por passo com objetivo
de traçar o caminho com as pistas que iam surgindo em cada encontro.
Tudo flui e nada permanece,
tudo dá forma e nada permanece fixo.
Você não pode pisar duas vezes
no mesmo rio, pois outras águas e ainda outras, vão fluir.”
Heráclito
O que me moveu em 2014,
foram as questões , atos, protestos, os brados retumbantes poéticos, a inércia,
do se perder e se permitir se perder, medo de se dar conta da impermanência ,
que estamos de passagem, VIVOS!
Tive fome do que?
Que o momento
presente é que importa!
A pedagogia do
dia!
O desespero do
dia!
A frustração
do dia!
O silêncio do
dia!
O ato poético
do dia!
O desconforto
do dia!
Do
desconhecido!
A experiência
do dia!
Guiado pela inquietação que
me faz vivente, me coloca em movimento, em busca daquilo que não sei, daquilo
que quero saber... O estabelecido não me move... Se estar presente é estar
vivo, se agir é estar vivo, então vivi arriscando durante os meses que me foi
permitido viver...
Se
chegamos a algum lugar, foi a partir da experiência que nos permitimos
experimentar e nos provocar com esse nosso espirito nômade, de estar num não
lugar, de pertencer a não pertencer, de transformar aquilo que nos atravessou
naquilo que demos forma de nosso jeito, pesquisando, abrindo novas perspectivas
sobre aquilo que era nomeado de desconhecido, percebendo pontos de contato
entre o saber e o não saber que não sabíamos que sabíamos , ou, era chamado com
outros nomes. Reconhecer.
Foi
na experiência, que foram investigados - atos poéticos performáticos
provocadores para nós mesmos com o objetivo de nos deslocar, de permitir
pesquisar na prática verificar o que acontece:
Qual é a bomba que
cada um carrega? (Se você me ajudar a Bomba Explode!);
Esta performance
foi criada a partir da vontade de surpreender as pessoas com a imagem de um
performer numa situação de risco em que se encontra, impossibilitado de agir e
de se comunicar, no caso, com uma fita adesiva vedando sua boca e suas mãos
atadas nas costas. Uma placa colada no peito com a frase “Se você me ajudar, a
bomba explode”, sugerindo ‘risco’ também para o público que escolhe ajudar o
performer.
A parte essencial
deste ato performático é o conceito da “Bomba”. A “Bomba” passou a ser sinônimo
de algo que o ator/performer gostaria de dizer. Um desabafo pessoal ou uma
crítica social que é dita pelo performer em uma única frase no momento em que a
fita adesiva é retirada da boca por alguém que passa e escolhe ajudá-lo.
Performance:
- Elaborar uma frase
curta relacionada aos seguintes temas: proibido/permitido, público/privado e
imagem; O que é permitido? O que é proibido? O que é público? E privado? Até
que ponto é liberdade de expressão e não falta de respeito? Pode ser algo
pessoal e/ou que o incomoda. Ela deve ser clara, ou seja, a ideia tem que estar
formada, não confusa (o performer tem que entender o que ele quer dizer);
- Boca com fita adesiva e mãos atadas nas costas mais a placa colada no peito com a frase “se você me ajudar, a bomba explode”;
- Duração: 15min a partir do momento em que todos estiverem parados no local escolhido ou até que alguém o ajude retirando a fita adesiva de suas mãos e boca;
- Local: A decidir;
- Boca com fita adesiva e mãos atadas nas costas mais a placa colada no peito com a frase “se você me ajudar, a bomba explode”;
- Duração: 15min a partir do momento em que todos estiverem parados no local escolhido ou até que alguém o ajude retirando a fita adesiva de suas mãos e boca;
- Local: A decidir;
Regras:
- Todos espalhados
pelo espaço escolhido;
- Duração: 15 minutos - Não é permitido conversar a partir do momento que se inicia a preparação;
- Não é permitido pedir ajuda nem insinuar o que deve ser feito;
- Manter o olhar vivo/fixo (não vago/morto), sem olhar de piedade;
- Caso a pessoa que ajudar só retirar a fita da boca e deixar as mãos presas, o performer deverá ainda dizer sua frase e se dirigir até o lugar combinado;;
- Quando a bomba explodir, sair do local (ir para o lugar combinado);
- Se passar 15 minutos, ir embora mesmo se ainda estiver preso”.(Um apito será utilizado para avisar o término dos 15 minutos);
- Duração: 15 minutos - Não é permitido conversar a partir do momento que se inicia a preparação;
- Não é permitido pedir ajuda nem insinuar o que deve ser feito;
- Manter o olhar vivo/fixo (não vago/morto), sem olhar de piedade;
- Caso a pessoa que ajudar só retirar a fita da boca e deixar as mãos presas, o performer deverá ainda dizer sua frase e se dirigir até o lugar combinado;;
- Quando a bomba explodir, sair do local (ir para o lugar combinado);
- Se passar 15 minutos, ir embora mesmo se ainda estiver preso”.(Um apito será utilizado para avisar o término dos 15 minutos);
Quando um corpo se move , move o que no
espaço? (Ensaio sobre a Invisibilidade);
Ensaio sobre a
Invisibilidade – Turma de quarta-feira – Centro Cultural da Penha
ENSAIO SOBRE A INVISIBILIDADE
Procedimentos poéticos investigados na rua a
partir de duas perguntamos a serem experimentadas na prática:
Quando nos tornamos invisíveis?
Quando nos tornamos visíveis?
Os procedimentos foram criados tendo como base
de reflexão e elaboração dos procedimentos, matéria de Plínio Delphino, Diário
de São Paulo, recolhida da internet sobre “Invisibilidade Pública”, conclusão
de tese de mestrado do psicólogo social
Fernando Braga da Costa que “durante 8 anos vestiu e uniforme e
trabalhou como gari, varrendo ruas da
Universidade de São Paulo.”
Procedimentos:
Foram criados dois movimentos poéticos
1o.Movimento:
-
Ficar parado na rua e em silêncio;
-
Mudança de atitude física a cada tempo escolhido por cada vocacionado;
-
Duração 10 minutos. Ao termino dos 10 minutos, um vocacionado terá a função de
tocar todos que estão no espaço;
-
Duração 10 minutos. Ao termino dos 10 minutos, um vocacionado terá a função de
tocar todos que estão no espaço;
-
A ação terá inicio e o tempo será cronometrado a partir do momento em que todos
os vocacionados se posicionarem na rua e estabelecerem uma atitude física;
2o.Movimento:
-
Ficar parado na rua e em silêncio;
-
Cada vocacionado determina ao outro qual ação física será executada na rua e,
de quanto em quanto tempo deverá ser repetida;
-
Duração 10 minutos. Ao termino dos 10 minutos, um vocacionado terá a função de
tocar todos que estão no espaço;
- A ação terá inicio
e o tempo será cronometrado a partir do momento em que todos os vocacionados se
posicionarem na rua;
Aquilo que nos
incomoda provoca/mobiliza o que nas pessoas que passam? (Qual parte do corpo que me
incomoda?);
Centro Cultural da Penha
– Turma Quarta-feira
PERFORMANCE/ATO
POÉTICO: Se Expor –Estar no Mundo - Fragilidade – Estado de presença
Perfomance:
-
Escolher o lugar da performance/ato - (espaço público);
-
Ficar parado na rua com uma placa presa no peito com uma palavra sobre qual parte do corpo que te incomoda?;
-
Duração: 15 minutos;
-
Alguém do grupo será responsável em indicar a todos que os 15 minutos se
passaram;
-
Durante a performance/ato não se poderá falar;
Deslocamentos
conscientes da musculatura, do eu, da pele, dos ossos, de nossa imagem que
interfere no espaço! (Cadeiras Nômades);
CORPO=ESPAÇO=PRESENÇA
Centro Cultural da
Penha – Turma Terça-feira
Passagens poéticas
Cadeira
– corpo – ponto de apoio – composição – observar – estar – jogo
Observador
:- registrar no papel as imagens criadas
Trajetória
– de um lugar a outro – corpo presente na passagem: Presente-Futuro-Ponto de
partida-Ponto de chegada: Fotografar imagem
Câmera
lenta – Imobilidade – Rapidez
SER - ESTAR -
SE MOSTRAR
Olhar – Construir – Me
colocar – Sair – Reconstruir – Sair – Me colocar – Ficar
Tempos
Imobilidade
Ritmos
Materialidades: cadeiras-espaço
escolhido: frente CCPenha
“Corpo Cênico:- O que aconteceu com seu
corpo no espaço?”
Experiência.
-:Quando eu deixo de ser eu mesmo?:-
+SER-ESTAR:- O QUE ME ATRAVESSA? TRANSFORMAR+
Enunciados claros
Perguntas – procedimentos –
dispositivos
Cadeiras Nômades –
Centro Cultural da Penha – Turma Terças-feiras
Ser - Corpo – Identidade – Centro Cultural da Penha
– Turma Terça-feira - Texto Vocacionada MBóle
Como investigar
conceitualmente um estado determinado, Corpos em relação, Olhares conectados? (30 minutos de festa-O
ato de festejar).
30 MINUTOS DE
FESTA
Uma das etapas do processo
de investigação:
SER – Corpo-identidade-consciência;
ESTAR – Estado de presença;
SE MOSTRAR -
Intervir – Programa performativo;
A intervenção “30 minutos de Festa”, é pensada e
elaborada conjuntamente como os vocacionados do Projeto Artes Integradas no
Centro Cultural da Penha e tem por objetivo experimentarem na prática a elaboração de uma
intervenção/performance.
A ação, pensada, discutida,
problematizada com os vocacionados durante quatro encontros, também contempla
aqueles vocacionados que não estão constantemente nos encontros, que passam.
Uma tentativa de estabelecer um fluxo, dar continuidade aos encontros e criar
um trajeto, um programa, com suas regras, fases, duração, investigação, de
passar por uma experiência.
O Corpo Presente – O tempo
Presente “Aqui Agora” - O Jogo e as
Regras do Jogo.
Como suporte, alguns
recortes/fragmentos de Eleonora Fabião permearam os encontros, detonando
inquietações, assombros e medo de expor-se. A intervenção, se torna neste mês
de junho, a primeira experiência prática/pública, em frente ao Centro Cultural
da Penha, com duração de 30 minutos. Essa ação, também tem por objetivo trazer
uma perspectiva não só aos vocacionados sobre uma das possibilidades do que
pode ser Artes Integradas.
Pontos de partida:
Discussão até chegar ao tema - 30 minutos de FESTA.
Levantamento dos elementos
constitutivos para realização de uma festa;
Figurino – Decoração – Música – Espaço – Divulgação/Convite
Conceito – escolha – regras
Conceito: 30
minutos de FESTA
O ato de
se Festejar
o encontro durante trinta minutos. Pode ser com amigos, desconhecidos
que passam pela rua, etc.
Regra: Os atuantes deverão dançar o tempo
todo;
Não podem
dançar sozinhos;
Não podem
falar.
Divulgação: Dois homens placas caminharão pelo
bairro com os dizeres:
30 minutos de
FESTA
Hoje – 20hs
Centro
Cultural da Penha
Regras: a
divulgação será realizada 20 minutos antes de iniciar a festa. Os homens placas
não podem falar nesse trajeto.
Figurino: Uma
roupa que você usaria para receber alguém numa festa em sua casa. Você é o
anfitrião.
Espaço:
Será delimitado com um giz. A Festa só acontece dentro desse espaço, mesmo
sendo na rua.
Decoração:
Apenas uma mesa com uma toalha no centro do espaço delimitado. Sobre a mesa, um
vaso de flores naturais.
Música:
As
musicas escolhidas terão por objetivo estimular a atmosfera de festa, festejar,
sem serem temáticas.
Observações:
Todos
os vocacionados terão 20 minutos
para iniciar a festa.
As 19h40 todos
descerão já vestidos,”atuando”. Uma parte dos vocacionados são responsáveis
pela preparação do espaço, outros dois, serão homens placas, homens divulgação.
A Festa tem inicio às 20h.
Depois de 30 minutos a música acaba. E inicia-se a
desmontagem e retirada dos elementos da cena em silêncio.
Processo de elaboração do programa/dispositivo cênico:
Vivemos o acontecimento do momento presente ao investigar o que surge nos encontros. Uma experiência significativa.
O que fica em 2014 é a experiência, o se permitir experimentar. Nossos corpos não são mais os mesmos depois desse rito de passagem, e talvez permita nos conectar com a nossa essência humana e a possibilidade da potência do corpo/mente/afetamentos/atravessamentos nas suas transformações ao se relacionar com o mundo dando forma poética, sem medo de errar ou acertar, mas se permitir a passar pela experiência e depois ver os vestígios do que permanece dessa experiência, arriscando.
Fomos norteados pelos artigos de Elenora Fabião compartilhados na equipe em nossas Reuniões Artístico Pedagógicas. Sua poética me estimulou a retomar os rastros das experiências realizadas em 2013 e vislumbrar outros caminhos na tentativa de se criar e elaborar procedimentos em 2014, propondo outro olhar, outro tempo, clareando pontos a serem investigados conjuntamente com os vocacionados. Fomos norteados pela contaminação dos procedimentos trazidos pelos parceiros de equipe em nossas reuniões pedagógicas e pela fricção dos pensamentos de cada um que nos coloca em movimento. Por nossos protestos diários. Pela pesquisa da síntese, dos enunciados claros que se descobrem não tão claros. Que a teoria-pratica-reflexão são pontos que se cruzam e fazem do Programa Vocacional um espaço potencial de investigação cênica.
Chegamos a uma não fórmula, mas a um roteiro criado a partir de nossas descobertas experimentadas que nos guiaram:
- O que te atravessa?;
- Forma e conteúdo;
- Tempo/duração;
- Regra/Enunciado;
- Espaço;
- Conceito;
PREPARAÇÃO: elaboração – preparação corporal – materialidades;
EXECUÇÃO: o ato em si – afetamentos – atravessamentos – ser – estar;
REFLEXÃO: como foi a experiência? Reformulações para uma possível revisitação do ato poético performático;
Caco Mattos
São Paulo, 15 de novembro de 2014.
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