quinta-feira, 27 de novembro de 2014

“TRAJETÓRIAS - Artistas da Zona Sul e sua ligação com o Projeto Teatro Vocacional”

E é inútil procurar encurtar caminho e querer começar, já sabendo que a voz diz pouco, já começando por ser despessoal. Pois existe a trajetória, e a trajetória não é apenas um modo de ir. A trajetória somos nós mesmos.

Clarice Lispector


O objetivo deste Ensaio “TRAJETÓRIAS – artistas da Zona Sul e sua ligação com o Projeto Teatro Vocacional” é colocar em foco alguns coletivos da região denominada Sul 3 dentro do Programa Vocacional. Todos eles têm - ou tiveram - uma profunda relação com o Programa Vocacional. E, a partir desse encontro com o Projeto Vocacional Teatro, suas trajetórias se modificaram. Creio que os depoimentos apresentam em que medida o Projeto definiu e ainda define seus caminhos artísticos e de vida; e qual diálogo sua arte estabelece com a comunidade do entorno.
Julguei isso profícuo, no sentido da memória e registro histórico do Projeto. Não mudei nenhuma palavra ou editei o que foi escrito pelos artistas, nos “Questionários” levados a eles, como meio de ter seus depoimentos. Um coletivo preferiu enviar-me um “Histórico de Atuação” e um artista enviou-me sua “Biografia artística”. Escolhi não tirar conclusões, estabelecer “teses” ou avaliar o que foi dito.
Li com encantamento de quem faz parte, de algum modo, em algum ponto de encontro, desses caminhos... Desta forma, opto para que os leitores deste ensaio tirem as próprias conclusões dos depoimentos aqui apresentados, que são documentação.
Estórias, trajetórias, reflexões, históricos, biografias, construção de sentidos, movimento, respiração, fluxo e refluxo, arte, vida. Profissão, ofício, amadorismo, amor, vocação, resistência, autonomia, emancipação, individuação, empoderamento.

Neste ensaio, o conteúdo = forma.

Considerei apenas traçar alguns comentários e impressões - que seguem.
Assim, após minhas breves palavras acerca de, este ensaio contempla as palavras de:

1)      Artista PAULO HENRIQUE SANT’ANNA
2)      GRUPO ENCHENDO LAGE & SOLTANDO PIPA
3)      CIA MALUCÔMICOS DE TEATRO
4)      GRUPO SUNDAY CLOWNS
5)      GRUPO 011 (ZERO ONZE)
6)      GRUPO CARNES DE SEGUNDA

Desta forma, coloquei minhas impressões e a seguir o material enviado pelos artistas/ Grupos.

PAULO HENRIQUE SANT’ANNA. Ao meu ver, sua biografia tem a sinceridade e o encantamento do contador de estórias - que ele é - e por isso mesmo poetiza os fatos, entendendo neles a singularidade de seu caminho e o sentido maior dos mesmos, enxergando as invisíveis rotas percorridas que no final acabam sempre levando os “atrevidos-loucos-ousados” a cumprir o caminho de sua missão nessa vida. Conheci Paulo Henrique quando era integrante do Grupo IDENTIDADE OCULTA (que no momento passa por transformações estruturais fundamentais), no CEU Navegantes, no Grajaú, Cantinho do Céu. Orientei o grupo por 02 anos, em 2007 e 2008. Desde o início, percebi nele um grande artista, sensível, um ‘homem de teatro’, no sentido da coragem para transmutar-se. Hoje ele é um “artista profissional” que faz da arte seu modo e meio de vida. E creio que, por conversa recente e pelo relato de sua biografia, ele está se permitindo à ‘Aventura’, com a dignidade e integridade dos que têm, além da vocação, persistência. Longo (s) e pleno (s) caminho (s) o espera (m)...

PAULO HENRIQUE SANT’ANNA
BIOGRAFIA ARTÍSTICA

O nascimento de um ator...
Era um domingo quente de 1994... Eu tinha 09 anos. Minha mãe levou eu, meu irmão e minha irmã ao SESC Interlagos. Quando saímos de casa a programação em minha cabeça era: Piscina, jogos, cachorro quente, refrigerante, piscina, casa da árvore, piscina... Mas logo na entrada do SESC o anuncio de uma peça de teatro que seria apresentada as três da tarde daquele dia, mudou meus planos, aquilo chamou minha atenção de tal forma, que eu passei o dia inteiro perguntando: “Mãe já são três horas?... E agora, falta quanto pras três?!”. Lembro-me nitidamente que eu brincava, corria, nadava, mas meu foco era o espetáculo! Um pouco antes das três horas da tarde lá estávamos nós, na fila para assistir o espetáculo. Quando a porta abriu eu e meu irmão aceleramos os passos e conseguimos sentar na primeira fileira do lado direito da plateia.
O espetáculo começou... Meu coração disparou... Uma felicidade indescritível!... “A sereia e o pescador” era o nome do espetáculo. Tinha dança, música, canto, cores, muitas cores... A sensação que eu tinha, era de que naquela sala de teatro, só existia eu, meu irmão e aquele povo encantado que estava no palco, era tudo novo, tudo belo. Até que chegou o momento auge do espetáculo... A sereia jogou uma rosa... E a rosa caiu no meu colo. Aquilo que era barulho silenciou... O que era movimento parou... A rosa no meu colo, o sorriso da sereia. Era aquela fração de segundos suspensos no ar. Eu não sabia o nome da profissão daquelas pessoas que estavam no palco, eu não entendia racionalmente o que estava acontecendo. Só sei que naquele momento, meu pensamento era: “Eu quero fazer as pessoas sentirem essa coisa que eu estou sentindo agora!”.

Os acasos que não são por acaso...
Como era um menino da pá virada, pouco tempo depois, por recomendações de uma benzedeira, minha mãe me colocou na catequese para eu tomar juízo! Fui meio contrariado, mas até que eu gostei! As catequistas falavam da bíblia e para tornar as explicações mais dinâmicas pediam para as crianças encenarem os conteúdos. E foi ali na catequese que eu fui entendendo que aquilo que tinha visto no palco, era parecido com o que fazíamos na igreja. Fui descobrindo o teatro, fui me descobrindo e fui encontrando um meio de poder existir no mundo. Em minha estreia “oficial” representei um dos reis magos, tive que decorar um texto enorme em que eu dizia: “Vim trazer mirra para nosso salvador”.
De uma forma dura, eu aprendi que na mesma proporção que o teatro nos dá vida, ele também nos toma tempo, coisas e pessoas preciosas... Naquele ano que eu chamo de minha estreia, com o natal de aproximando e os ensaios apertando, eu passava boa parte do dia na igreja. Meu tio Luís foi dois finais de semana seguidos em minha casa eu não estava – coisa que era muito difícil de acontecer – ele era dessas pessoas queridas que aparecem uma vez por ano pra renovar a felicidade da gente sabe?... Na noite do dia 24 realizamos a apresentação e uma semana depois, na virada do ano meu tio Luís morreu num acidente de carro.
Depois da perda do meu tio, eu também perdi o interesse pelo teatro. Um pouco depois entrei num momento obscuro da vida... Fui reprovado na sétima série com 300 faltas no ano letivo, algumas fugas de casa, algumas mentiras... Como disse um momento obscuro da vida!
Retomando as rédeas da carroça... Mudei de escola, retomei o ser de luz que existia dentro do eu e segui. E numa tarde de domingo, quando voltava do grupo de jovens, formei um grupo de samba com meus amigos. Durante cinco anos o Compromisso Com Samba foi o lugar dos sonhos, dos aprendizados que iam além das notas musicais...
Éramos 07 meninos que crescemos juntos, compartilhando os roubos de amora, as pipas e as partidas de futebol no campinho de barro embaixo das torres. Foi neste mesmo período que entrei para o projeto social Agente Jovem e pude acionar novamente minha capacidade criadora e transformadora. Já na escola eu estava no ensino médio e a professora Analice de literatura, fazia eu me sentir um escritor em potencial!

Um salto no tempo...
Com a chegada do CEU Navegantes ao Bairro Cantinho do Céu, chegou também o programa Teatro Vocacional e foi ali nos anos de 2004 e 2005 que tive a oportunidade de estar ao lado dos artistas orientadores Ipojucan Pereira e Sidnei Caria. Esses dois artistas foram fundamentais para que eu pudesse entender que o teatro não era um sonho distante, uma utopia. Mas que era possível viver de teatro, que era possível fazer disto uma escolha de vida. Logo nos primeiros anos de vocacional tive o prazer de partilhar a sala de ensaio com uma turma muito bacana, cheia de sonhos e ideias, passávamos todo o final de semana ensaiando, discutindo, criando... Toda essa vivência ia potencializando meus desejos, minhas buscas... O que era gerado na sala de ensaio durante os finais de semana, desdobrava-se nos dias seguintes em meus pensamentos, minhas conversas, meus trabalhos... Dia pós dia ia brotando em ‘mim’ um artista...
Em 2006 fui um dos fundadores do grupo Identidade Oculta Cia. Teatral, no qual pude de fato amadurecer questionamentos, buscar discursos ideológicos e estéticos. Naquele momento dei um passo importante rumo ao que seria meu futuro na arte. O primeiro espetáculo que montamos foi “Inocentes do Brasil” que surgiu de um sonho que eu tive e num momento oportuno compartilhei com o grupo.
Em 2007 compartilhei minha pesquisa a partir da vida e obra do dramaturgo Nelson Rodrigues e desta pesquisa surgiu o projeto “Nelson em Nós” que teve orientação do Marcelo Reis. Em 2008 dando continuidade ao aprofundamento no universo Rodriguiano estreamos o espetáculo “Nelson em Nós I – O Beijo no Asfalto” sob orientação de Stella Tobar e minha direção. Com este espetáculo tivemos uma boa notoriedade dentro do Programa Vocacional, participamos dos Festivais do Vocacional e Virada Cultural.
Entre 2009 e 2010 o grupo Identidade Oculta, entrou num processo que acredito ter sido e mais dialético com a comunidade local. Foi criado o “Sarau do Oculto” que acontecia uma vez por mês nas dependências do CEU Navegantes. Em 2010 me desliguei do grupo Identidade Oculta Cia. Teatral. Eram caminhos opostos, sonhos desconectados... Era hora de seguir um novo rumo.

As buscas...
Mesmo estando no Teatro Vocacional fui buscar outras referências que contemplavam minhas demandas artísticas, fiz oficinas de: Interpretação com o grupo Teatro da Vertigem; Coro Cênico com Reynaldo Puebla; Depoimento Pessoal com Tony Giusti e Enait Fadel; Aulas de Dança Contemporânea; Dança Vocacional.

Vertigem...
Entre as oficinas livres que fiz, a que mais me dilatou e me tirou do eixo foi a de
interpretação com o Teatro da Vertigem. Eu que já estava fazendo teatro há algum tempo, tive que me desfazer de tudo o que eu achava que sabia dentro de um processo visceral que tirou minhas máscaras e me colocou frente a frente ao meu mais profundo.
As oficinas tinham como norte de trabalho vivências ligadas ao processo de criação da trilogia bíblica do grupo. Dois momentos que destaco em especial foram... Depois de uma cena que tinha como provocação o tema “Meu inferno são os outros” a Luciana Schwinden se aproximou e disse:
- Cara na boa! Teatro não vai pra ti não viu! Por que você não faz um curso de
locução? Você tem a voz boa... Mas teatro... Sei lá, teatro não vai rolar pra você não!
Aquelas palavras tiraram meu chão! Na hora permaneci firme, mas quando peguei o ônibus de volta pra casa, eu ouvia a voz da Luciana reverberando e as lágrimas rolaram... As semanas foram passando e não desisti da oficina. Continuei participando, buscando novos caminhos. No ultimo encontro o tema provocador para a criação da cena era “Vertigem e Você”. Fui para um canto, pensei, repensei e não vinha nada a minha mente. Quando chegou minha vez de mostrar a cena, pedi que os outros participantes da oficina se colocassem no palco numa proposta de plateia invertida e comecei minha cena... Usei as provocações, as broncas, as falas que ouvi ao longo da oficina como texto base da cena. A cada frase que eu dizia tirava uma peça de roupa enquanto descia as escadas do teatro, na ultima frase eu disse “Você não serve para o teatro” e fiquei nu. Ao terminar a cena, recolhi minhas roupas e a Eliana Monteiro me disse:
- Paulo! Muito Obrigado. O “muito obrigado” da Eliana Monteiro, me fez entender o “teatro não vai rolar” da Luciana! Ambas as falas me amparam, me potencializaram e me fizeram entender que, a dor e doçura andam lado a lado no caminho do ator.

De canto em canto... De conto em conto...
Em 2008 quando trabalhava como educador no recanto Gaetano e Carmela recebi a proposta de Nilza Dias, para que eu fizesse um curso de contação de histórias, o argumento dela foi de que eu assumisse essa função, uma vez que a educadora que desenvolvia o trabalho de contação de histórias no CCA iria se aposentar e seria interessante dar continuidade no trabalho. Aceitei! Fiz a inscrição pelo site e fui para o curso sem muita expectativa! MP3 ligado, ônibus lotado, era inicio de uma tarde quente de alguma sexta feira. Cheguei ao Parque do Ibirapuera e me dirigi a UMAPAZ. Eis aqui minha primeira surpresa! Entre as diversas vezes que passeei no parque, nunca tinha entrado naquele portal de bambus que mais adiante dão acesso a um canteiro de plantas e mudas que tem como função dar continuidade ao verde que oxigena o cinza dessa cidade. Desliguei meu MP3, fui desconectando-me do meu universo... Aos poucos foi sendo encantado pelas coisas simples e singelas que passam despercebidas no dia a dia. Uma planta que nascia, a borboleta que bailava no ar, os diversos cheiros e cores... Tudo ia aguçando meus sentidos, me cativando, me sensibilizando. Ao chegar à sala da UMAPAZ onde aconteceria o curso, me apresentei e meu nome não constava na lista. A moça que me atendeu quase soltou um “sinto muito, mas seu não está na lista”, porém a divina providência providencia as coisas de tal forma que a pergunta dela foi:
- Você veio de onde?
- Eu sou do Recanto Gaetano e Carmela.
- Sério!? Que bacana! O Pedro e a Ângela ainda estão lá?
- Estão sim.
- Nossa eu fiz estágio lá! Que bom que você veio, olha seu nome não está na lista, mas fica por ai, sempre tem desistência no meio do caminho. E assim fiquei. Naquele dia ouvi várias vezes a saudação namastê, que eu não entendia, mas fazia um bem danado! Vi uma mulher loira, simpática, meio bruxa, meio fada! Ela tocou um instrumento musical até então desconhecido, que em sua embalada atravessará lugares ocultos em minha alma. Então aquela mulher começou a contar uma história chamada “A princesa que tudo via”... A narração do conto foi o suficiente para me colocar em estado de elevação, o suficiente para me colocar em processo de transformação. Essa mulher a qual me refiro, é Alessandra Giordano, mestra que ainda a passos distantes vive a ecoar em minhas vaganças.
Assim como um viajante, como um jovem príncipe ou andarilho que vai a busca de aventuras para descobrir o mundo lá fora, fui eu encontrar meu contador de histórias. E isso não era uma tarefa fácil, pois não se encontra esse contador no meio da floresta ou numa esquina, é preciso penetrar em si mesmo, resignificar-se, rebulir-se para encontrar a verdade e o sentido. E como o caminho é feito de encontros externos que dilatam nosso olhar sobre nós mesmos, às vezes é preciso encontrar um velho sábio, um mago, um bruxo, uma fada... Nesta peregrinação, deparei-me com Luís da Câmara Cascudo e seus contos. Contos esses colhidos na boca do povo que vive nos cantos remotos desse Brasil. Contos que cruzaram oceanos, anos, séculos, que atravessaram o tempo para me mostrar um mundo de sabedoria infinita, onde o sagrado se revela a partir do humano.
Durante quase um ano mergulhei no processo de pesquisa de contos, histórias e causos, buscando histórias que eu gostaria de ouvir, histórias que pudessem se comunicar primeiro comigo, que pudessem dialogar e gerar sentimentos profundos em minha alma.

Outros acasos...
Em alguma tarde do ano de 2010 recebi um e-mail da Teca que na época era artista orientadora do projeto Teatro Vocacional, convidando o Grupo Identidade Oculta Cia Teatral, para participar de algumas apresentações no projeto Toda Terça Tem Teatro.
Porém eu tinha acabado de me desligar do grupo, passei o contato da pessoa responsável pelo grupo naquele momento e antes de terminar o e-mail escrevi: “Nãosou mais responsável pelo grupo, mas tenho um projeto de contação de história. Se você quiser podemos conversar sobre!”. Mais alguns E-mails trocados e acabei fechando uma agenda de seis apresentações do espetáculo De Canto em Canto – De Conto em Conto. A verdade é que o espetáculo até aquele presente momento não existia, a única coisa concreta que se tinha era a pesquisa e só! Não existia cenário, figurino, texto, concepção estética... Nada!
Com agenda firmada junto ao projeto Toda Terça Tem Teatro, era mais do que necessário que as coisas se concluíssem. E foi dessa emergência que Chico Contador saiu de um rascunho em minha mente, para ganhar corpo, voz, para se fazer carne e materializar-se como persona.
Redimunho...
Ainda em 2010 a convite do meu amigo Vitor Rodrá participei de um processo eletivo no grupo Redimunho de Investigação Teatral. Três semanas após a entrevista recebi a resposta de que eu tinha sido aprovado para participar de um estagio no grupo.
Permaneci no Grupo Redimunho por dois anos e meio. Se eu fosse escrever em detalheso que foi minha experiência neste grupo, daria uma biografia à parte! Então vou resumir assim... Construção do Espaço Redimunho; Três viagens para Andréquicé/MG, Um ano e dois meses em cartaz com espetáculo “Marulho: o caminho do rio”, Prêmio APCA de dramaturgia; Prêmio CPT de ocupação de espaço; Trupe da Marreta, Reestreia do espetáculo “A Casa”; Ator criador do livro “Por trás da vidraça”; Cenas; Estudos; Investigação; Bar; Muitas madrugadas...

Histórias do Velho Batista...
Em 2013 o projeto de contação de história “De Canto em Canto – De Conto em Conto” foi contemplado pelo programa VAI. Além de expandir as possibilidades de levar o projeto para novos espaços e públicos, foi possível fomentar dois desdobramentos... A publicação de um livro/diário de bordo que narra a trajetória de quatro anos de contação de história e a criação do espetáculo “Histórias do Velho Batista” que estreou em outubro de 2013 na Associação Comunitária do Cantinho do Céu.
Em maio de 2014 “Histórias do Velho Batista” foi o primeiro espetáculo a ocupar a Goma Capulanas, sede do Grupo Capulanas de Arte Negra.Novos rumos, antigos objetivos...
Em 2014 participei de um longa metragem dirigido por Eric Belhassen – Boca a Boca Filmes. No momento o filme está em processo de edição e finalização e a estreia está prevista para o ano de 2015.

GRUPO ENCHENDO LAGE & SOLTANDO PIPA. Penso que poucas Companhias profissionais apresentam um discurso tão consciente e bem elaborado acerca de sua trajetória e pesquisa quanto este grupo. Desde a opção pela escolha do nome do grupo e dos temas abordados, até a clareza de objetivos políticos do fazer teatral e de seus espetáculos. A consciência da sua função de fomentar cultura e pensamento crítico na sociedade – leia-se no entorno em que vive – os leva a promover saraus e buscar parcerias com outros coletivos. O que, acredito, é extremamente potente. Minha ressalva, absolutamente pessoal, dá-se justamente na contradição inerente a um grupo que apresenta tamanha clareza e qualidade no que faz e o porquê faz, e no entanto não tem nesse fazer artístico sua principal profissão e meio de vida. O que muitas vezes os leva a ter lacunas grandes entre uma apresentação e outra. Acho que a comunidade acaba perdendo com isso. Mas, como “artista profissional”, sei quão dura é a batalha por “viver de arte”. E a despeito de todos os entraves que possam surgir, espero que eles possam encher muitas lajes e o céu com pipas! Por muito tempo...

GRUPO ENCHENDO LAGE & SOLTANDO PIPA
Histórico de atuação do grupo
O grupo teatral Enchendo Laje & Soltando Pipa foi fundado em 2004, como parte de um projeto relacionado ao programa Escola da Família, do governo estadual de São Paulo, utilizando o espaço da Escola Estadual Levi Carneiro, no Jd. Mirna, zona sul da capital paulista. Sua pretensão era a de possibilitar o contato de jovens com a linguagem teatral, explorando-a por meio de jogos cênicos e pequenas encenações. A este propósito juntou-se a necessidade de se discutir a questão do sujeito inserido na sociedade, ou seja, a relação do homem no meio em que vive. Portanto, desde seu início, o grupo possui um caráter social, na medida em que se propõe a problematizar o contexto do qual é fruto.
O nome do grupo, dado pela fundadora e antiga integrante, Alessandra Moreira, procura conciliar a idéia do trabalho coletivo à diversão, aproximando duas dimensões aparentemente contrárias. Encher laje é um trabalho essencialmente de grupo, em que não há um líder dizendo o que deve ser feito. Soltar pipa é uma ação de divertimento, que revela um sonho utópico de voar, presente no desejo humano. Trabalho coletivo, diversão e sonho constituem a essência do grupo Enchendo Laje & Soltando Pipa.
A partir de uma proposta de produção coletiva, o grupo criou e encenou o espetáculo A Sanidade segundo a Loucura durante o ano de 2005. O argumento inicial propunha a discussão de mazelas sociais sob a ótica da loucura. Daí e partindo de sequências improvisadas, o espetáculo estruturou-se com texto final e direção de Acacio Batista e Alessandra Moreira. A peça foi encenada nos palcos do CEU Cidade Dutra e também no CEU Três Lagos, dentro de festivais e trabalhos isolados.
            Em 2006 o grupo passa a utilizar a estrutura fornecida pelo CEU Três Lagos para os ensaios, bem como recebe auxílio e orientação de profissionais ligados ao programa Teatro Vocacional da Prefeitura de São Paulo. Artistas orientadores como Juliana Monteiro, Caco Mattos e Aline Ferraz contribuíram para o aperfeiçoamento das técnicas e da linguagem teatral, além de promover o crescimento do grupo, tanto no campo da prática quanto da teoria. Desde 2006 o grupo participa das mostras e apreciações dentro do programa Teatro Vocacional, com diferentes trabalhos, todos produzidos pelos integrantes.
            Tendo em vista que uma das características dos trabalhos desenvolvidos é o de problematizar as questões sociais, desde 2008 o grupo pesquisa as variadas relações de opressão na sociedade, por meio de textos literários de autores diversos, teóricos do teatro e de outras áreas das ciências humanas e análise do cotidiano.
            A partir de 2009 o Enchendo Laje & Soltando Pipa passa a promover saraus com a intenção de apresentar à comunidade diferentes formas de manifestação artística e os resultados das pesquisas. Deste modo, o grupo amplia suas ações culturais na tentativa de conferir a si um papel mais expressivo e presente na promoção artístico-cultural da localidade onde se situa e nos bairros a ela adjacentes.
Ao desenvolverem temas do cotidiano, os saraus tornam-se também instrumentos de pesquisa do grupo, além de aproximar a comunidade da arte a partir da realidade em que ela se encontra. O primeiro sarau trouxe como tema “A vida como ela é cômica” e possibilitou ao grupo mostrar os primeiros resultados da pesquisa que desenvolvia para um futuro trabalho. A partir desse tema, foi possível exercitar as linguagens da tragédia e da comédia para satirizar os acontecimentos diários. Além de apresentações pré-estabelecidas, o sarau permitia a intervenção do público, bem como a apreciação dos trabalhos apresentados.
Em 2010, em parceria com o grupo Sunday Clowns, foi realizado o segundo sarau, tendo como mote a comemoração dos seis anos de existência do Enchendo Laje e três anos do Sunday. Além de apresentações que resgatavam um pouco da história dos grupos, o Enchendo Laje pôde apresentar as primeiras cenas do que viria a se tornar o espetáculo O nome não importa.
Em 2011 o grupo foi contemplado pelo Programa VAI que possibilitou, por meios de recursos financeiros, a conclusão do Projeto O Nome não Importa, que contou com a provocação cênica do artista orientador Fabio Resende. Além disso, a Cia Teatral Enchendo Laje & Soltando Pipa realizou saraus temáticos, um cortejo envolta do CEU Três Lagos, ensaios abertos e debates sobre os contos de autoria do escritor russo Anton P. Tchekhov adaptados pelo grupo, bem como consta no projeto aprovado em 2011.
Após montado o espetáculo O Nome Não Importa a companhia fez a circulação da peça pelos CEU’s da região levando com ele uma tarde cultural composta, também, por sarau e cortejo, esse projeto se realizou sob o nome de Itinerando: a cultura de pé na estrada, financiado pelo Programa VAI no ano de 2012. No segundo semestre deste ano o grupo inicia uma pesquisa com o intuito de discutir questões acerca de identidade e busca expandir seu conhecimento teatral saindo do palco rumo à rua.
No primeiro semestre de 2013 abre seus encontros para participação dos artistas vocacionados enquanto o Programa não retornava a ativa. A Cia. opta por seguir seu trajeto fora do Programa Vocacional, mas estabelecendo uma parceria para trocas de experiências.
Os artistas da Cia. aprofundam a pesquisa sobre teatro de rua e a discussão sobre identidade nacional observando o processo de constituição e de perda da mesma. O primeiro experimento cênico que surge desse trabalho é chamado de seleção “Seleção”, no qual a questão da identidade nacional é estudada em relação ao futebol, sendo que mais tarde seu desenvolvimento viria se tornar o projeto aqui descrito. A cena foi apresentada pela primeira vez no festival de teatro amador Piracema. O segundo estudo cênico trás a discussão das ocupações que surgiram no Grajaú, no mesmo ano, em prol de moradia, o grupo se apresentou em uma ocupação dessa região e em outra no município de Itapevi. Sem qualquer tipo de recurso financeiro, mas com a parceria de coletivos companheiros, no segundo semestre de 2013 o grupo circula, ainda, com o espetáculo O Nome Não Importa, apresenta-se no espaço Pyndorama da Cia Antropofágica, no Sacolão das Artes a convite da Brava Companhia, e no Espaço Cultural Humbalada mantido pela Cia. Humbalada
Em 2014, é iniciado os procedimentos de criação do novo espetáculo Jd Progresso Via Três Lagos, o grupo conta com parceiros como: Tatiana Monte, que ajuda no treinamento físico dos atores e inicia o treinamento da máscara neutra; Paulo Sant’Anna, que auxilia na orientação musical; além do apoio de Fábio Resende, do grupo Sunday Clowns e dos artistas vocacionados do CEU Três Lagos, que estiveram presentes durante o processo de criação de algumas cenas.
Durante o mês de agosto o grupo circulou pelo Grajaú co o experimento cênico Seleção, ao mesmo tempo em que trabalhava na nova montagem. Durante o mês de outubro o grupo é convidado a fazer uma oficina de teatro de rua com a Cia. dos Inventivos e a convite do Sunday Clowns faz uma oficina de palhaço com Cida Almeida por meio do Programa Vai que fomentou a pesquisa do Sunday.

CIA. MALUCÔMICOS DE TEATRO. Na época em que participei do Projeto Vocacional Apresenta – Toda Terça Tem Teatro, travei contato com o trabalho desta Companhia, tendo realizado algumas orientações pontuais a eles, por meio de workshops, parte intrínseca do Projeto. Esta Cia já chegou a atuar mais firmemente no entorno do CEU Cidade Dutra, e se apresentava constantemente nesse equipamento. Porém, por questões de desentendimentos quanto ao modo de produção com a gestão cultural da época – em 2011/2012, acabou migrando para o CEU Vila Rubi, e realiza seu trabalho mais fortemente lá. É um grupo extremamente potente e comprometido com a arte, que já foi contemplado com o VAI e vem realizando um trabalho contínuo de contribuição artística e cultural na região. E objetiva ter sede própria, nos moldes da Cia HUMBALADA, citada como exemplo por outros coletivos também, como poderão constatar nos depoimentos. (A CIA HUMBALADA nasceu no Vocacional e há vários anos atua profissionalmente, tendo sido contemplada com o Programa de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, por exemplo. Atua fortemente na região Sul com trabalhos importantes e que se comunicam plenamente com seu público!)

Questionário – CIA MALUCÔMICOS DE TEATRO
Questionário respondido coletivamente.
1-      Qual seu nome, idade, e em que Grupo atua? Há quanto tempo está no Projeto?
            R: A Cia. Malucômicos de Teatro nasceu no CEU. Cidade Dutra há 6 anos e desde então, continua a exercer suas atividades artísticas e culturais na Periferia da Zona Sul da Capital.

2-      Onde o Grupo ensaia atualmente? Quantas vezes se encontram na semana ou qual a rotina de trabalho do Grupo?
            R: Desde o ano de 2012, o coletivo ensaia nas dependências do CEU. Vila Rubi. Os encontros acontecem todos os domingos das 10h00min às 15h00min e eventualmente, quando necessário, em algum dia da semana das 19h00min às 21h00min.
3-      Por que houve a decisão de virar Grupo? O que mudou ?
            R: Em 2008, três dos integrantes que permanecem até hoje no grupo, participaram de uma das turmas de iniciantes do Programa Teatro Vocacional, no CEU. Cidade Dutra (com a orientação da Artista Ana Chiesa), um deles, começou antes, em 2007 e questionado sobre a continuidade da turma anterior, revelou que ao final do processo, cada um seguiu caminhos diferentes. A partir desta informação, o principal idealizador do grupo, teve a ideia de criar a Cia. Malucômicos, a fim de dá continuidade ao que foi aprendido nos encontros e ainda, fortalecer e perpetuar os ciclos de amizade ali formados. Felizmente a ideia deu certo e já são 6 anos de muito trabalho, cultura, alegrias, histórias, mensagens, diversão, amizades, arte e principalmente, de FAMÍLIA MALUCÔMICA. Mesmo com a formação do grupo, continuamos participando das aulas de iniciantes dos anos seguintes 2009/ 2011 e em paralelo, recebíamos orientação exclusiva de alguns artistas, em outros horários, foram eles: Tânia Granussi, Olga Fernandes, Nathalia Catharina, Fabiano Lodi, e também a ajuda espontânea das artistas Maria Stella Tobar e Teca Spera.
            Depois de três anos fizemos uma pesquisa própria sobre a comédia. O projeto não cabia mais em nós, e nós não cabíamos mais no projeto, essa foi a mudança, fomos “obrigados” a nós tornar um grupo independente, com dicas de colegas e artistas conhecidos, porém com auto-orientação e direção.
4-      Quantas peças apresentaram no CEU Dutra? E quantas vezes? O que acha dos espaços e público na Zona Sul, de modo geral?
            R: O grupo possui seis peças e todas já foram apresentadas no CEU. Cidade Dutra, ao todo foram 20 apresentações de 2009 a 2013. Os espaços públicos são bons, todavia, atualmente, já não são tão “públicos” assim, visto que existem muitas burocracias e prioridades que não entendemos, estas infelizmente, dificultam a produção e desenvolvimento, especialmente as apresentações de nossos trabalhos. Os espectadores de modo geral, são bem ativos, interessados e sempre gostaram dos nossos espetáculos, muitos deles são “residentes” nas nossas apresentações, felizmente, nunca sofremos com formação de público.
5-      Como é a continuidade de trabalho pós-vocacional?(quando o projeto está “de férias”) ?
            R: Como citado acima, agora somos um grupo independente. Já escrevemos alguns projetos para Prefeitura e além disso, criamos vários projetos de sustentabilidade, ajudamos dois grupo, através de orientação e pesquisas, principalmente no CEU. Vila Rubi.                 Nossas férias acontecem em janeiro, voltamos os trabalhos no mês de fevereiro e finalizamos em dezembro.
6-      Quais peças fazem parte do Repertório do Grupo? Onde se apresentam?
            R: Possuímos seis peças, elas e os espaços que já nos apresentamos estão descritos abaixo. Costumamos nos apresentar principalmente nos CEU’s. do extremo Sul (Cidade Dutra, Navegantes, Três Lagos e Vila Rubi) e Espaços Culturais, por exemplo, o Espaço Cultural Humbalada. Infelizmente, ainda não realizamos nenhuma apresentação neste ano, por dificuldade de conseguir datas.
1)      Hermanoteu na Terra de Godáh - Releitura:
Ø  CEU. Cidade Dutra  – 2009.
2)      A F.A.M.Í.L.I.A.
Ø  CEU. Cidade Dutra – 2009/2010.
Ø  Teatro João Caetano – 2009.
Ø  SARAU - CEU. Navegantes – 2009.
Ø  Teatro Paulo Eiró – 2010.
Ø  Projeto Seis na Sé (Metrô Sé) – 2010.
Ø  Projeto Encontros (Metrô Santa Cecília) – 2010.

3)      O Vidente
Ø  CEU. Cidade Dutra - 2009/2010 e 2011.
Ø  CEU. Feitiço da Vila – 2010.
Ø  CEU. Vila Rubi – 2010/2011.
Ø  Projeto Seis na Sé (Metrô Sé) – 2010.
Ø  Projeto Encontros (Metrô Santa Cecília) – 2010.
Ø  CCJ (Centro Cultural da Juventude) – 2010.
Ø  Teatro João Caetano – 2009/2010.
Ø  Teatro Paulo Eiró – 2010.

4)      Mulheres
Ø  CEU. Cidade Dutra – 2010.
Ø  CEU. Feitiço da Vila – 2010.
Ø  CEU. Vila Rubi – 2010.
Ø  Teatro João Caetano – 2010.
Ø  EE. Samuel Wainer – 2010.

5)      O Presente
Ø  CEU. Cidade Dutra – 2011.

6)      Sarau Malucômico – em homenagem aos 3 anos do grupo
Ø  CEU. Cidade Dutra – 2011.
7)      A Água Acabou
Ø  No Projeto da Cia. Humbalada – Teatro na Praça (Praça João Beiçola) – 2011.
Ø  CEU. Cidade Dutra – 2011.
Ø  CEU. Cidade Dutra – 2012.
Ø  Galeria Olido – 2012 (Vocacional Apresenta).
Ø  CEU. Vila Rubi – 2012.
Ø  CEU. Três Lagos – 2012 (Festival do artista Deca Madureira).
Ø  Escola Estadual Samuel Wainer – Em 2012.
Ø  Universidade de Santo Amaro (Unisa) – 2012.
Ø  Espaço Cultural Humbalada – 2012 (3ª Mostra Sem Vergonha da Cia. Humbalada de Teatro).
Ø  CEU. Vila Rubi – 2013.
Ø  CEU. Cidade Dutra – 2013.
Ø  Espaço Cultural Humbalada – 2012.

7-      Já participaram de projetos como VAI e outros? Como foi a experiência?
            R: Fomos contemplados no Programa de Iniciativas Culturais (VAI) por duas vezes consecutivas (2012 e 2013), por meio do Projeto A Água Acabou. A contemplação em 2012 chegou no momento certo, pois o grupo passava por um momento de instabilidade e insegurança por parte dos integrantes, o projeto provocou mais amadurecimento, maior responsabilidade e fortalecimento do grupo que passava por uma leve crise, hoje, felizmente superada. E o ano de 2013 venturosamente veio com mais uma resposta positiva para nossos esforços... fomos novamente agraciados, tivemos mais uma vez nosso trabalho reconhecido e a motivação que já havido crescido em nós, aumentou ainda mais.
            A partir do programa criamos novas propostas artísticas, como músicas e a junção de cinema e teatro no mesmo espetáculo, e fizemos estudos circenses e do clown. Foi um período de muitas realizações e a ajuda financeira foi muito importante, especialmente na compra de figurinos, maquiagens e na contribuição com alimentação e transporte, pois desde 2008, o grupo se mantinha vivo com recurso próprio vindo dos pais de alguns integrantes mais jovens ou do fruto dos nossos trabalhos fora dos palcos. A aprovação do projeto veio como reconhecimento e impulso para darmos continuidade às nossas concepções culturais, sem a verba do programa não teríamos feito a junção das duas linguagens (Cinema e Teatro), pois não conseguiríamos adquirir os equipamentos de audiovisual necessários e consequentemente nada seria possível, portanto o VAI foi essencial para que o Projeto A Água Acabou acontecesse da forma que imaginávamos.
            De maneira geral, a realização do projeto foi incrível e muito gratificante, houve dificuldades, mas elas não sobressaíram de forma alguma as coisas positivas que encontramos ao longo do caminho, posto que conseguimos efetivar tudo que planejamos, levamos  a mensagem desejada ao nosso público e solidificamos muito mais o grupo.
8-      Pode fazer uma sinopse da trajetória do grupo? Enfatizando pontos-chave, ou pontos de mutação, ou seja, experiências e fases decisivas? O projeto Vocacional foi importante? Se sim, em que sentido?
            R: A Cia. Malucômicos de Teatro foi formada oficialmente no dia 12 de Julho de 2008 por integrantes do Núcleo de Teatro Vocacional do CEU. Cidade Dutra, inicialmente com o intuito de dar continuidade aos ciclos de amizade formados, e posteriormente com a finalidade de evolução, aprendizagem e estudo do Teatro mais aprofundado. Em 2008 éramos apenas uma sementinha a ser cultivada, foi um ano de ideias afobadas, de muita coragem e vontade de fazer algo que caracterizasse a linguagem que o grupo em peso gostava: A COMÉDIA.
            O programa vocacional foi onde nos encontramos como indivíduos, e através de questões artísticas imprimidas pelo projeto, nos tornamos grupo. Se não houvesse o projeto, talvez isto não acontecesse. Havia na época um projeto dentro do vocacional denominado TTTT – Toda Terça Tem Teatro, que nos deus estofo de palco, produção, divulgação e formação de público. Entretanto, o projeto vocacional não tem como prioridade grupos de pesquisa de linguagem... Toda Terça Tem Teatro, não havia divulgação e encerrou; o projeto encenação não havia divulgação e encerrou; o CEU Cidade Dutra nos abandonou, quase que o grupo acabou. A nossa sorte é que tínhamos alguns artistas orientadores, são artistas e não orientadores que nós ajudaram muito, que fizeram com que nós não desistíssemos do teatro.
            Hoje, a Companhia Malucômicos de Teatro faz parte do Conselho de cultura do CEU. Vila Rubi e do Conselho Gestor. No mesmo CEU, temos duas salas para pesquisa e ensaio. Ademais, mantemos parceria com outros grupos da região, Cia. Humbalada de Teatro e Trupe de Choque.
9-      Quais são os objetivos do Grupo daqui pra frente?
            R: Os objetivos da Cia. são ampliar as pesquisas na área da comédia, participar de editais, festivais, sempre abordando questões ambientais e de violência doméstica, e conseguir ter nossa própria sede.
10-   Qual a importância do Teatro – e da ARTE - na sua vida?
            R: Para nós, o teatro e sobretudo a arte, são as ferramentas de transformação do indivíduo, e o deslocamento dele da sociedade de mercado.
            Portanto, hoje, amanhã e depois somos e seremos Malucômicos e por isso gritamos fortemente: “Malucômicos Para Sempre... Para Sempre Malucômicos!". “Todo mundo atua, age, interpreta, somos todos atores, até mesmo os atores! Teatro é algo que existe dentro de cada ser humano e pode ser praticado na solidão de um elevador, em frente a um espelho, no Maracanã ou em Praça pública para milhares de espectadores, em qualquer lugar, até mesmo dentro dos próprios teatros”.

GRUPO SUNDAY CLOWNS. O artista Ronny, que atua neste coletivo, é um dos atores mais incríveis que já vi em cena. O tipo de artista que eu vejo e penso “Esse o teatro não pode perder. Como é que faz para que ele nunca pare de exercer esse ofício?!” Do tipo que inspira, sabe? Acho que o Vocacional está cumprindo essa função com ele hoje: a de fazer com que um artista continue a atuar... Pelo depoimento percebe-se a interdependência existente com o Programa. O grupo foi contemplado com o VAI esse ano, o que tem sido um prazer tanto quanto um desafio para eles. E aqui cabe um “momento desabafo”: como um equipamento público da Zona Sul – como o CEU Cidade Dutra - não consegue UMA data para este coletivo também da Zona Sul levar seu trabalho lá? Como isso acontece? Que estrutura perversa é essa onde o espetáculo de um grupo parceiro da região não consegue apresentar-se lá, praticamente de forma gratuita (já que eles tem VAI) ???? Isso sem falar na qualidade e potência que esse espetáculo “amador” tem na comunicação com o público da região, falando-lhes diretamente sobre questões prementes... Até quando essa política cultural?! E o palhaço ri...

Questionário - GRUPO SUNDAY CLOWNS
1-      Qual seu nome, idade, e em que Grupo atua? Há quanto tempo está no Projeto?
R: Sou Ronny, tenho 27 anos, faço parte do grupo “Sunday clowns”. Há 6 anos no projeto.
2-      Onde o Grupo ensaia atualmente? Quantas vezes se encontram na semana ou qual a rotina de trabalho do Grupo?
R: Nós ensaiamos no CEU Três Lagos. Nos encontramos uma vez por semana.
3-      Por que houve a decisão de virar Grupo? O que mudou ?
R: Virou grupo por que achávamos que na redondeza, grupos de teatro estavam ausentes, as pessoas que viam nosso trabalho gostavam muito! Queríamos ouvir das pessoas que naquele espaço existia um grupo e também queríamos abrir a mente das pessoas. Queríamos passar para as pessoas que não só os ricos fazem teatro e sim pessoas simples.
Com o grupo formado percebemos que a mudança foi imediata com mais responsabilidade mais visão no mundo em que vivemos! Nossa mente abriu e começamos a crescer no mundo artístico.
4-      Quantas peças apresentaram no CEU Dutra? E quantas vezes? O que acha dos espaços e público na Zona Sul, de modo geral?
R: Não apresentamos nenhuma vez. Os espaços da zona sul são excelentes Mas as vezes temos dificuldades em apresentarem em alguns lugares. Depende muito da gestão, tem pessoas que acham que o espaço é deles mas na verdade é de todos.
5-      Como é a continuidade de trabalho pós-vocacional?(quando o projeto está “de férias”) ?
R: Nosso grupo costuma voltar em maio, a gente faz atividades como adaptar algumas cenas ou colocar cenas novas até mesmo fazer um novo trabalho temos dificuldade pelo fato de o orientador não estar presente.
 6-      Quais peças fazem parte do Repertório do Grupo? Onde se apresentam?
R: Este ano estamos com a peça: Vida de artista o “Blecaute”. Geralmente apresentamos nos céus da zona sul
7-      Já participaram de projetos como VAI e outros? Como foi a experiência?
R: Atualmente estamos participando, a experiência está sendo ótima porque nosso grupo só ganha responsabilidade e visão no mundo artístico.
8-      Pode fazer uma sinopse da trajetória do grupo? Enfatizando pontos-chave, ou pontos de mutação, ou seja, experiências e fases decisivas? O projeto Vocacional foi importante? Se sim, em que sentido?
R: O grupo do começo do ano até agora veio ganhando responsabilidade fazendo decisões rápidas e perigosas! Passamos por muita dificuldades mas o importante era que sempre dava um jeito, com projeto vocacional o orientador nos ajudou muito. As orientações foram fundamentais.
9-       Quais são os objetivos do Grupo daqui pra frente?
R: Continuar no vocacional e tentar o VAI
10-  Qual a importância do Teatro – e da ARTE - na sua vida?
R: O Teatro é importante pra mim porque é única fonte de se manifestar.
A arte pra é muito importante, é uma forma de dizer o que sinto o que penso em fim a arte é incrível!!!

GRUPO 011 (ZERO ONZE). Dos coletivos apresentados, é o único cujo trabalho artístico desconheço, embora saiba de sua atuação cada vez mais potente na região Sul. Não é orientado pelo Vocacional como grupo, mas seus integrantes participam das turmas do Projeto, recebendo orientação desta forma. Sei também que um integrante ao menos, deseja seguir o teatro – e o teatro de dança – como profissão. E sei que a semente foi plantada – e é regada neste momento – pelo Projeto Vocacional. Realizei um dia de orientação pontual, em um A.O. visita e pude conhecer alguns integrantes.
Questionário – GRUPO ZERO ONZE (011)
1-      Qual seu nome, idade, e em que Grupo atua? Há quanto tempo está no Projeto?
R: Felippe Peneluc dos Santos, 21anos, faço parte do Grupo 011. Participo do Vocacional desde 2011 no projeto de Teatro e de Dança.
Integrantes: Alice dos Santos, Buda, Erique Miguel, Carlos Resende, Rafaela Zanette e Carlos Lourenço.
2-      Onde o Grupo ensaia atualmente? Quantas vezes se encontram na semana ou qual a rotina de trabalho do Grupo?
R: O grupo nasceu, pesquisa e reside no CEU Vila Rubi com encontro uma vez por semana.
3-      Por que houve a decisão de virar Grupo? O que mudou ?
R: Não houve decisão, o processo nos pediu que virássemos grupo, no inicio iriamos só fazer uma ou duas cenas e uma coreografia para apresentarmos no aniversário da cidade montada em 15 dias. Depois descobrirmos que não haveria tempo suficiente, pois queríamos aprofundar a pesquisa e deixar mais orgânica a mistura do teatro e da dança. E acabamos fazendo isso, nos responsabilizamos em fazer o espetáculo e amadurecer a pesquisa e as relações.
4-      Quantas peças apresentaram no CEU Dutra? E quantas vezes? O que acha dos espaços e público na Zona Sul, de modo geral?
R: Não apresentamos ainda no CEU Cidade Dutra, houve tentativas mas por causa das agendas ainda não aconteceu.
5-      Como é a continuidade de trabalho pós-vocacional?(quando o projeto está “de férias”) ?
R: O grupo nasceu nessa brecha do programa, todos os integrantes faziam vocacional no Vila Rubi, alguns o dança e outros o teatro. Lá existe a sustentabilidade, nós continuamos a usar os espaços quando o vocacional “acaba”.
6-      Quais peças fazem parte do Repertório do Grupo? Onde se apresentam?
R: Temos o espetáculo Todos são Paulo que circulamos com ele pela região. Passamos pelo: CEU Vila Rubi, CEU Parelheiros, CEU Três lagos, CEU Alvarenga, Casa de Cultura Palhaço Carequinha, CEU Navegantes, Espaço Cultural Humbalada e na Galeria Olido.
7-      Já participaram de projetos como VAI e outros? Como foi a experiência?
R: Sim, fomos contemplados pelo programa VAI em 2013 e 2014.
8-      Pode fazer uma sinopse da trajetória do grupo? Enfatizando pontos-chave, ou pontos de mutação, ou seja, experiências e fases decisivas? O projeto Vocacional foi importante? Se sim, em que sentido?
R: O Grupo 011 é uma união de alguns alunos das orientações de teatro e dança do Programa Vocacional no CEU Vila Rubi em 2011. No ano seguinte o grupo começou a pesquisar sobre a cidade de São Paulo, por um pedido da coordenadora de Cultura do CEU.
Essa pesquisa seria apresentada no aniversário da cidade, mas por causa de um curto espaço de tempo para concluí-la, mudamos a data para o aniversário do CEU. Daí o grupo foi convidados para apresentar em outros espaços.
Em 2013 o nosso projeto “Nem todos são santos, mas todos são Paulo” foi contemplado pelo Programa VAI, onde aprofundamos a pesquisa do espetáculo “Todos são Paulo” que circulamos por alguns espaços da Zona Sul.
Já em 2014 participamos do Diálogos Marginais da Cia Humbalada , junto com outros grupos da região para discutimos a força dos grupos no Grajaú.
O grupo foi comtemplado novamente pelo Programa VAI com o projeto “São Paulo terra de todos os santos, cantos... e desencantos”.
Nós não fizemos orientação de grupo no vocacional, só individual, mas todos na mesma turma.
9-       Quais são os objetivos do Grupo daqui pra frente?
R: É continuar essa pesquisa do dançateatro, fazendo ações, experimentos e trocas, principalmente com o público daqui do nosso bairro e região.
10-  Qual a importância do Teatro – e da ARTE - na sua vida?
R: É uma coisa que é latente em mim, pulsa todos os dias, me reforma, me deforma e me transforma. É a coisa que eu quero fazer pro resto da minha vida.

CARNES DE SEGUNDA. Sou A.O do CEU Cidade Dutra no momento (2014), tendo orientado lá por dois anos este coletivo. Atualmente, o grupo é constituído por três pessoas, sendo duas delas pai e filho. Segundo depoimento dado pelo artista-pai na Mostra local da última quarta-feira de novembro, dia 26, o teatro o ajudou na relação com seu filho, o que é outro lado do projeto que foi abordado! Ele também cita este fato em seu depoimento, visto a importância que dá a isso. O grupo está com um processo de trabalho que atualmente dura em média 25 minutos, chamado “SoMoSrAnGo”, criação coletiva, que foi apresentado na Mostra Vocacional Sul 3, em 2014, e no CEU Dutra – Teatro Renato Russo. O grupo pretende continuar este trabalho em 2015, segundo falou. A meu ver, existe uma dependência do equipamento CEU Dutra para a realização de seus encontros, bem como ainda há a necessidade de uma orientação constante de um artista orientador. O CARNES tem ganho autonomia e maturidade artística a cada ano, mas sua atuação na região precisa – e pode – crescer. Também creio que para isso é necessária uma vontade política do Núcleo de Ação Cultural, por exemplo, que pode apoiar o grupo quando o Projeto Vocacional “sai de férias”. Isso no sentido de ceder o espaço para os encontros nos meses de dezembro a fevereiro (ou até o re-começo do Projeto), como é desejo manifesto por meio de solicitação escrita, pelo grupo. Creio que algumas barreiras ainda precisam ser derrubadas nesse sentido, e quero acreditar que seja possível. Acredito na potência do diálogo entre grupo e equipamento. Acredito na construção de parceria entre Grupo e Equipamento.  Assim como também acredito que o grupo possa conquistar outros espaços para os encontros durante esse período, na região. E que isso faça parte da conquista de sua maior autonomia. Vida longa e fôlego sempre renovados ao Carnes!...
Questionário – CARNES DE SEGUNDA
11-  Qual seu nome, idade, e em que Grupo atua? Há quanto tempo está no Projeto?
R: Meu nome é Anderson Cleiton Novais tenho 37 anos e faço parte do grupo “CARNES DE SEGUNDA “e estou no vocacional há 04 anos.
12-  Onde o Grupo ensaia atualmente? Quantas vezes se encontram na semana ou qual a rotina de trabalho do Grupo?
R: Ensaiamos no CEU Cidade Dutra duas vezes por semana(quarta e sexta)no horário das 19:00 as 22:00.
13-  Por que houve a decisão de virar Grupo? O que mudou ?
R: Em primeiro lugar a turma que iniciou criou um trabalho que não dava para resumir apenas naquele ano,dai então demos continuidade no ano seguinte...O que mudou foi que as pessoas se envolveram cada vez mais com o teatro e isso nos deu um fortalecimento e nos fez criar outras possibilidades de trabalho (pesquisa).
14-  Quantas peças apresentaram no CEU Dutra? E quantas vezes? O que acha dos espaços e público na Zona Sul, de modo geral?
R: Na verdade foram três “amostras “dos nossos processos que acabamos mostrando, pois não foram terminados a tempo de nos apresentar.
O teatro do ceu dutra é fantástico e tem muita infraestrutura. Já a sala de multiuso onde acontecem os nossos ensaios já há muito tempo precisa de uma pequena reforma,principalmente na parte técnica e elétrica pois não temos uma boa aparelhagem de som,péssima iluminação,ventilação comprometida e agua potável para os alunos (filtro).A região não tem muito acesso a esta unidade e quando tem não são muito bem informados sobre o que acontece por lá,a não ser quando se trata de peças teatrais com pessoas famosas pois ai dão um jeito até de anunciar no “jornal da globo”.
15-  Como é a continuidade de trabalho pós-vocacional?(quando o projeto está “de férias”) ?
R: Sempre fora uma questão para os grupos que se formam,pois acabam não tendo onde fazer os encontros e ensaios,e o tempo que se espera de retorno do projeto é muito longo onde muitas vezes deixam os trabalhos e pesquisas se perderem e também aquela vontade,euforia e tesão de concretizar.
16-  Quais peças fazem parte do Repertório do Grupo? Onde se apresentam?
R: Não sei se podemos chamar de “repertório”mas temos alguns trabalhos que podem facilmente ser retomados e finalizados.(Reagredidos,Sertão,O defunto e agora SoMoSrAnGo).Geralmente no ceu cidade dutra.
17-  Já participaram de projetos como VAI e outros? Como foi a experiência?
R: Ainda não,mas gostaria muito que quando houvesse uma palestra sobre este projeto de incentivo,nós os grupos da “casa”fossemos os primeiros a saber pois teve essa palestra no ano passado ou este e não nos disseram.
18-  Pode fazer uma sinopse da trajetória do grupo? Enfatizando pontos-chave, ou pontos de mutação, ou seja, experiências e fases decisivas? O projeto Vocacional foi importante? Se sim, em que sentido?
R: Em abril de 2011 iniciou-se nossa turma no vocacional junto ao ceu dutra,Conhecemos ali a artista orientadora “Carmen Soares”pessoa fantástica que influenciou diretamente no nosso prazer pelo teatro,posso falar com certeza pelo grupo inteiro.Atraves dela descobrimos nossas possibilidades mais escondidas e demos inicio a essa maravilha chamada “TEATRO”o grupo no inicio era composto por 10 pessoas que aos poucos foram saindo por conta dos afazeres da vida,a cada ano fomos sendo reduzidos até chegar o ponto onde ficaram apenas duas pessoas “THIEMY E DAVID GODOI”mas no ano seguinte retornamos com muita vontade e dedicação agora já com outra artista orientadora “Stella  Tobar”com um jeito diferente de fazer teatro,atribuindo a nós o “TEATRO DO ABSURDO”mais uma vez uma nova descoberta fantástica para nós iniciantes.As artistas orientadoras acabaram ficando quase que dois anos cada uma com o grupo, por conta do não término dos processos.O projeto vocacional é a base de tudo,onde se encontram pessoas com o mesmo interesse e que põe em prática tudo o que se aprende lá.
19-   Quais são os objetivos do Grupo daqui pra frente?
R: Mais uma vez terminamos o ano com o grupo reduzido, ainda não conversamos sobre nosso futuro mas acho difícil acabar pois o teatro se tornou um meio saudável de ter lazer,cultura,expressão,diversão e companheirismo. Então eu pergunto onde mais além do teatro eu poderia ter tudo isso?
20-  Qual a importância do Teatro – e da ARTE - na sua vida?

R: Em particular ele me aproximou e muito do meu filho mais velho o “Luccas” integrante do grupo desde o início. Incentivou-nos à leitura e a ter um olhar diferente sobre o mundo,seus acontecimentos e suas questões e claro ir ao teatro, pois constantemente nossas amigas e artistas orientadoras nos levam ou nos indicam sobre peças na cidade.

Por Maria Stella Tobar Mariucci - A.O. Teatro Vocacional CEU Cidade Dutra

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