A experiencia de dança-teatro Ou o não-controle libera o poema
DANÇA TEATRO
A
experiência da turma de dança-teatro no equipamento CEU Caminho do Mar, aponta para umas das
realidades poéticas multifacetadas de uma cidade como São Paulo: as pessoas buscando se confrontar com a
experiência. A urgência-necessidade dos artistas-vocacionados em se lançar
em territórios inabitados ou desconhecidos. Sobretudo uma experiência difícil de
definir- o que é ou viria a ser
dança-teatro na história da arte.
É dádiva ou maldição? Os manuais repletos de definições foram todos quebrados com a
atuação de mestres e intérpretes cada vez mais ousados ao longo do tempo. Em alguns casos as fronteiras entre
estas linguagens diluíram-se tanto. E também se reinventaram e se implodiram.
Mas é claro que, ainda hoje em dia, existem acirradas disputas conceituais como se fazia
antes com os duelos. E hoje se armam de quê? Não sei. Só não compreendo bem as
regras de tal jogo.
As referências de saberes não deveriam servir nunca para nos digladiar ou
defender os “princípios” de cada linguagem. Considero uma grande perda de
tempo. Eu só posso perceber a experiência de realizar uma turma entre
linguagens extremamente fascinante, provocadora e inquieta. Como pesquisar sem sair do lugar??
E
quê hibridismo possível sai de uma cidade eclética, dialética, complexa e
absurda quase sempre?
A
turma heterogênea dá conta de expor estes afincos. As pontas transversas e as
rasgaduras não-unilaterais. Não há idade nem perfil organizador. Só a
multiplicidade jorrante.
Observação Sobre o poema que se deseja criar:
O poema não sai das mãos sem uma sensação física de liberação. É bom que se repita: o poema não é nunca "mental" apenas. Um escorrer poético de látex corpóreo que desliza dos ouvidos, olhos, mente, e desce até dedos, mãos, pés.
E minha inquietude poética é física, como a sensação de formigamento antes de escrever um poema.
Observações
preguiçosas 1: Dizem por aí, (já faz tempo) que vivemos o
caos apocalíptico da crise da forma, dos conteúdos, de everything. Pra alguns
isto bastaria para arrematar com esta vida, ou fugir para as ilhas Malvinas. E já
ouvi mais de uma vez a simplificação: “no teatro se fala, dança é corpo, teatro
é para pensar- dança é só pra sentir, teatro é político, dança é subjetivo, ou
ainda: teatro é discurso, dança é desenho livre. Ou: o teatro é lugar do
autoritarismo da palavra, e a dança é a liberdade plena de todas as vozes”.
Apesar
de assumir um território de não-controle sobre os debates estéticos, para
organizar o trabalho, a comunicação foi intensa entre eu e minha parceira, a
artista orientadora de dança Cristina Ávila. Pois imediatamente dispensamos o
papel de responder e tipificar as perguntas dos vocacionados mas nos dispusemos
a pesquisar juntos. A ressignificar vivências e entendimentos, mas sobretudo de
nos lançarmos também para uma prática que
disparasse as perguntas. O repertório foi aprofundado, vasculhado com
calma, e às vezes implodido, encontrando e re-pensando elementos da pesquisa.
Desta
forma, encontramos a experiência do “espaço aberto”, ou simplesmente constante
improviso. Alguns elementos cênicos, acordos previamente combinados (como
entrar no espaço para afetar e ser afetado), entre outros disparadores, foram
suficientes para ampliar a experiência de escrever dramaturgias a partir do encontro no improviso.
Sabemos
que improvisar é como um grande baú de onde se tira grandes tesouros num dia, noutros
não se tira nada. E nestes “dias poucos produtivos”, engraçado, também parece
que tiramos do baú alguma coisa...
A
questão das fronteiras (?) entre as linguagens, da crise das formas, e da
experiência do espaço livre-aberto, contraditoriamente e dialeticamente, nos
levou para a perspectiva do ensaio e da repetição. A
repetição como estrutura, e onde contasse menos a intenção de organizar
idealmente para “apresentar algo”, (não controlar fagulhas nem corpos) e mais a
vontade de retornar muitas vezes aberto para o MESMO material, talvez a
repetição tenha se tornado um TERRITÓRIO a ser investigado. Para ser desmontado
mais uma vez.
Ceu Caminho do Mar, Programa Vocacional, Teatro + Dança, AO MÔNICA RODRIGUES (atuando em parceria com AO Cristina Ávila- dança), abril, maio, junho, julho 2014.
Marcadores: AO Mônica Rodrigues, CEU Caminho do Mar, Cristina Ávila, Dança Vocacional, Equipe Sul 1, hibridismo, poema cênico, processo, Teatro
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