Sobre a escrita de si a partir da Pergunta-que-move
Zona Sul, Ceu Caminho do Mar. Teatro.
Linguagem de algum lugar. Vocacionad@s.
Pergunta que move. O rio.
Da trajetória das impermanências e a
partir daquilo que se pergunta, os vocacionados dali se projetaram para a
escrita de si mesmos, em suas dramaturgias autorais. Sofisma ou utopia? Prefiro
utopias, são refrescantes, e nunca saem de moda. Bem ao contrário da aparência
de intelectualidade morna que nunca sacoleja nem rumoreja paisagens. Mas
falarei depois sobre a carcaça ideológica.
Descobri no fazer-ação um modo
insólito de desvelar as camadas do outro. Quando eu te pergunto: qual tua
pergunta essencial? Ou “o que você acorda
todo dia com vontade de perguntar À Vida?” - que pensamento-sensação bruta,
despontou em seu lábio-mente??
Pois acho que é daí mesmo que surgem
as grandes construções dramatúrgicas, os grandes textos. Grande pode ser só uma
frase e durar 2 minutos em cena. Grande pode ser um gesto no ar. Grande é a
luta dos corpos- todos os nossos, para sobreviverem á labuta econômica-social,
e ainda chegar à noite com disposição de fazer UM GRANDE ENCONTRO, assentir com
o imprevisível, e com o outro. Quando dizemos: encontrar com o novo” ...
percebo que estamos de novo, buscando O MESMO... porque esteve sempre ali, não
esteve? E porque não reparei daquela vez, e sim hoje?? Mas O MESMO nunca é o
ÓBVIO. O mesmo aqui pode ser algo além dentro de si. Apaixono-me com a
possibilidade de uma pessoa vir a transformar-se nela mesma.
Descascando nós próprios através da
escrita. Só precisaríamos de mais 7 meses e meio de projeto para dar conta de
todos os olhares, textos, poéticas, urgências, materialidades, linguagem, trocas
com comunidade e público, e um a um, tocar o devir cênico que surgiu diante de
nós a cada vez.
Fico tão gratamente surpresa ao perceber
que TODOS escrevem. Todos buscam LINGUAGEM. Dizer isso não significa que todo
mundo tá cheinho de ideia, e isso pressupõe que elas, de cara, sejam BOAS
IDEIAS, e também isso faz supor idealmente, que todo mundo tá louquinho de
vontade de só SE expressar, de mostrar ao mundo a que veio, de berrar sua
autoafirmação. Nãoooo...
Eu ainda não sei porque vim ao mundo
nem porque quando cheguei já tava tudo desse jeito.
Eu também não posso afirmar o destino
exato de uma cena, de um poema, de uma carta. Muito menos de uma nação, que
dirá de um espetáculo!
Eu só posso buscar LINGUAGEM.
Quando se busca linguagem, também
está se buscando o onírico. Porque linguagem É invenção. Pode ser só reprodução
também, mas isso fica a critério do cliente. Nessa viagem urbanoide
tresloucada, todo mundo arrisca e afia linguagens. O tempo todo. Nisso tudo eu
desconfio que ainda sejamos escravos do ouvido, e só damos atenção (bem pouca,
diga-se de passagem) ao que é verbal. O que é PRESENÇA, nós somos educados
desde cedo a ignorar. Ou temer.
Escrevendo, sou obrigada a lançar
possibilidades. A vasculhar memória, política, delírio e poesia. Tudo dentro e
junto. E depois fora, e também sozinho. EM CENA. Nesse processo de escrever o
próprio texto, a conceber a própria cena/encenação, a buscar
solucionar/experimentar outras materialidades plásticas, a rever a estética da
minha questão cênica (sonoridade, produção, presença, contexto, etc.), reconheço
que escrever uma cena a partir da questão-que-move produz uma certa repercussão
na pessoa, que é imediatamente política, social, cidadã, poética e intransferível.
Pois se recriam mesmo realidades. Muita atenção nessa hora, pois acredito que não
está claro para a “humanidade” que recriar realidades não é de forma nenhuma
APONTAR SOLUÇÕES... Nós só suspeitávamos, a partir de alguns estudos sobre
dramaturgia e encenação, o que NÃO é
papel de uma cena: fazer proselitismo, defender ou acusar unilateralmente,
abdicar do corpo, cristalizar ou tentar impor “verdades”, acreditar que a voz
racional é a única a ter legitimidade, reproduzir limbos emocionais, entre
outras coisas difíceis de definir, porém igualmente muito presentes, tanto
quanto o desejo de falar. (sim, só mais 7 meses-só mais sete meses, por favor...)
Obs 1: Até o momento, Recriar
realidades pressupõe paradoxos, indagar,
pesquisa e elaboração poético-corpórea.
Talvez isso dê uma pista para elucidar
e também quem sabe, recriar os comportamentos. Porque, na atual Sociedade do
Medo, há tantos açoites, mais temidos que sentidos, tanta palavra bonita não
dita e desejada, TANTO corpo por aí sem ideia de que é um corpo, que olha.... Melhor
não dizer. Melhor OLHAR melhor. Melhor perceber...
Observação intermitente:
Manifesto nº 20.231, em prol do Risco Para Todos, ou #Deixa eu sair da
carcaça ideológica por favor!
Porque para surgir LINGUAGEM é
necessário parir paradoxos.
Uma cena não se sustenta com moral.
Isso já sabemos.
Não se sustenta um texto sem
dialética. Isso quase sabemos.
“Mas não peça para eu sair da minha
carcaça ideológica que daí eu me ferro mesmo. Como vou sobreviver??”
Risco na cesta básica do brasileiro.
Mas não o famoso risco social, da vulnerabilidade diante da omissão, do descaso
ou ódio. Não ESTE risco da sujeição abjeta e injusta.
Por uma necessidade da desproteção e
de desarme, depor a carcaça dos grandes marcos ideológicos por alguns minutos
diários, para uma ação de fusão-alquímica com a realidade.
É humanamente impossível zerar nosso
repertório (intelectual/físico/psicológico/sexual/ etc).
Só é possível subverter a carcaça, se
pudermos delirar a linguagem. Se
propondo até à aparente idiotia, ao Risco, a ser Stalker de sua própria Zona, à dizer para a Grande-Voz-do-Filósofo-E-Crítico-Social
que baixa em nosso ouvido no centro espírita: agora não. Deixa eu viver
primeiro.”
“Eu me distancio de todo ser que eu
nunca vi chorar. Eu nunca assisto filme ruim porque é de graça. Eu reservo para
o amor e o futebol as minhas melhores contradições.” (M.R.)
No âmbito artístico, considero que
cada vez mais, na ânsia de apagar os fogos de artifício dos criadores ou na
preocupação em delimitar os rígidos limites profissionais, as pessoas (cada vez
mais) aumentam consideravelmente a distância da ponte que os liga. É uma época
muito banal essa em que se pode morrer de desespero ao lado do seu mais fiel
amigo. A questão posta não é de “respeito ao tempo do outro” ou à noção não
idealizadora que cada um deveria fazer de seu oficio e de sua competência.
Porque também não se deve amassar o ossinho de Complexo de Atlas. Torna-se
necessário tirar dos ombros este perverso fardo social, ser inversamente Jesus.
Eu só me pergunto porque estava ali
do lado, e não percebemos...Porque?
Enquanto organizo roteiros, canovaccio,
textos, colagens, me dou conta de que não há ordem possível. Colocar uma cena
na frente de outra, é sem dúvida, só ir pelo caminho do acaso... porque os
filetes dos rios são numerosos, fartos, e extensos... Eu caminhei seguindo o
rio, até perceber que estava mergulhada inteira nele. “O rio debaixo do rio”
(Clarissa Pinkola Estés).
Desse rio, bebo. Desse rio, falo
agora. Desse rio debaixo do riso e das sobrancelhas arqueadas.
Dos fluxos aparentemente
desordenados, puramente caóticos ou sem sentido, brotam as Escritas Emergentes
a partir de si mesmo. Se dando conta, de repente, que o si mesmo é um mundo.
Este.
Mônica Rodrigues/ Programa
Vocacional /Teatro-CEU Caminho do Mar
Novembro/Outubro/Setembro-
2014
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